Usar salmões mortos como chapéu voltou para a moda, segundo essas orcas
O comportamento foi observado pela primeira e única vez em 1987. Agora, parece estar de volta, e os cientistas ainda não sabem o motivo.
As grandes tendências de moda de 2024 foram baseadas no reuso de ideias que bombaram anos atrás (estampas de animais, sapatilhas, sandálias de plataforma…). Por isso, não deveria ser surpresa que algumas modas no mundo das orcas voltassem à popularidade também. Cientistas flagraram as baleias assassinas usando salmões como chapéus, uma escolha fashionista observada nos anos 1980.
Os desfiles foram reportados por pesquisadores e observadores de baleias que viram, no mês passado, algumas Orcinus orca nadando com salmões mortos em suas cabeças em Washington, nos Estados Unidos.
Assim como as tendências humanas retornaram após anos sendo ignoradas e julgadas bregas, as orcas trouxeram os chapéus de volta depois de passarem 37 anos sem demonstrar esse comportamento. A primeira vez aconteceu em 1987, quando uma orca fêmea do clã K – um dos três grupos de baleias assassinas residentes no sul do nordeste do Oceano Pacífico – apareceu pela primeira vez com o peixe em sua cabeça.
Em apenas algumas semanas, várias orcas de seu clã e dos outros dois (J e L) presentes na região também foram identificadas com o chapéu, de acordo com a Instituição de Caridade para Conservação Marinha ORCA.
Agora, uma orca do clã J foi fotografada em outubro usando um salmão no mesmo lugar que era estilizado nos anos 1980.
Mas uma dúvida permanece: por quê?
A resposta exata ainda é um mistério. Para a Instituição ORCA, uma das hipóteses é que a sensação do uso do chapéu é agradável (similar à sensação que temos quando escolhemos um bom outfit para sair). Outra possibilidade sugerida pela organização é que as baleias tenham visto uma das participantes do clã usando e, como resultado, ficou com vontade de reproduzir o comportamento e a moda foi se espalhando entre os membros do grupo – tal como um grupo de adolescentes que se vestem de maneira semelhante para se sentirem aceitos.
Alguns cientistas acreditam que existe a possibilidade da atitude ter partido de alguma orca saudosa, que tenha vivido a tendência do verão de quase 40 anos atrás. Andrew Foote, um ecologista evolucionista da Universidade de Oslo, na Noruega, disse à revista New Scientist que “parece possível que alguns indivíduos que experimentaram [o comportamento] na primeira vez possam tê-lo iniciado novamente”.
Deborah Giles, diretora de ciência e pesquisa da organização sem fins lucrativos Wild Orca do estado de Washington, disse ao Times Colonist que não faz a menor ideia do motivo do retorno desse comportamento ou o porquê dele acontecer, mas que pode ter relação com o acesso à comida. “A moda dos chapéus de peixe provavelmente está ligada à disponibilidade de alimentos em um determinado lugar”, comentou.
Com muito Oncorhynchus keta, salmão escolhido como menu principal nesta época do ano, para comer na hora, existe a possibilidade das baleias estarem equilibrando restos dos peixes para comer mais tarde. Essa hipótese, explicou Giles à New Scientist, seria viável, uma vez que esses animais já foram vistos armazenando comida de outros jeitos.
“Vimos baleias assassinas comedoras de outros mamíferos carregando grandes pedaços de comida sob a barbatana peitoral, meio que enfiados ao lado do corpo”, disse ela. Mas como os salmões têm dimensões menores, carregá-los na cabeça seria mais seguro.
Giles reforçou que, diferentemente de 37 anos atrás, hoje em dia existe a possibilidade de acompanhar os comportamentos desses animais. Câmeras em drones foi um dos exemplos citados para monitorar o percurso das baleias com o chapéu de peixe.
Além disso, disse que existe a possibilidade da hipótese da disponibilidade de comida estar errada e que algumas orcas podem simplesmente abandonar o salmão sem comê-lo.
De qualquer forma, a pesquisadora se divertiu com a volta da tendência. Vale ressaltar que não existe como saber quanto tempo os chapéus vão continuar nas passarelas: no verão de 1988, por exemplo, já haviam sido considerados parte da coleção passada.