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Verme suporta 400 mil vezes a força de gravidade da Terra

A descoberta de dois brasileiros pode ajudar a entender melhor a origem e a evolução da vida no universo

Por Rafael Battaglia
17 ago 2018, 15h47

Qualquer um pode desmaiar se for exposto a uma gravidade quatro ou cinco vezes maior que aquela que o planeta exerce naturalmente – aquela de aceleração aproximada de 9,81 m/s². Agora, imagine essa força tremendamente maior. Cientistas brasileiros descobriram que lombriga Caenorhabditis elegans, uma espécie de nematoide usada em estudos biológicos, é casca-grossa o suficiente para aguentar 400 mil vezes a força gravitacional.

A descoberta é de autoria de Tiago Pereira e Tiago de Souza, pesquisadores de genética da USP. Eles estudavam a androbiose, um estado raro de animação suspensa em que alguns animais e plantas são capazes de entrar. Quando isso acontece, os organismos viram uma espécie de mortos-vivos: não há metabolismo, mas basta reidratá-los para voltarem ao normal. Nessa condição de zumbi, eles são capazes de aguentas situações extremas de calor, frio, pressão e radiação.

A dupla de Tiagos procurou saber se tais organismos também aguentariam condições de hiperaceleração. Para isso, colocou uma colônia de C. elegans em uma ultracentrífuga durante uma hora, a uma força de 400.000 G. Eles se inspiraram em um experimento japonês de 2011, que obteve sucesso em um teste com bactérias. “Queríamos ver se era possível aplicar as mesmas condições do teste com um organismo multicelular”, disse Pereira à SUPER. Ele see surpreendeu com os resultados: “quando abrimos a centrífuga, vimos que tanto os vermes em animação suspensa quanto o grupo de controle normal havia sobrevivido”.

Ok, mas o que isso significa? A descoberta dos brasileiros pode ser valiosa para o campo da astrobiologia, a ciência que estuda a origem, evolução e ocorrência da vida no Universo, bem como investigar e prever os lugares com condições para abrigar organismos vivos. “Uma vez que sabemos que animais podem sobreviver a esse tipo de estresse, é possível que planetas com gravidades muito acima da nossa também poderiam ser habitáveis”, sugere Pereira. Pelo menos por formas de vida como essa lombriga.

O pesquisador acredita, ainda, que os resultados podem ajudar a formular teorias sobre a panspermia cósmica, que diz que a vida se espalhou pela galáxia por meio de organismos que viajaram de carona com meteoros e asteroides, que podem suportar acelerações similares às que a C. elegans aguenta.

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