Você compartilha um terço das bactérias orais com as pessoas de sua casa
E nem precisa ter uma relação afetiva com elas. Respirar o mesmo ar e comer a mesma comida já gera um ambiente propício para o desenvolvimento dos microrganismos.
Você não compartilha só a conta de luz e os afazeres domésticos com a pessoa com quem você mora. Um estudo feito pela Universidade de Trento, na Itália, mostrou que os indivíduos que vivem sob o mesmo teto têm 32% das bactérias da boca em comum entre si. Para efeito de comparação, duas pessoas escolhidas aleatoriamente dentro de uma mesma população só dividem 3% da microbiota oral.
Os pesquisadores analisaram os resultados de 31 estudos anteriores sobre o assunto. As pesquisas abarcam populações de 20 países diferentes, incluindo na Europa, Ásia, África e América do Norte e do Sul. No total, os estudos coletaram 10 mil amostras de fezes ou saliva de pessoas que moram na mesma casa. As amostras indicam se os colegas de casa eram parceiros, parentes ou amigos.
A equipe descobriu que essas pessoas compartilham mais bactérias da boca do que do intestino, por exemplo. Enquanto um terço das cepas de bactérias orais são comuns entre moradores, apenas 12% das bactérias intestinais são compartilhadas. As conclusões foram publicadas no periódico Nature.
Os pesquisadores já imaginavam que parceiros, por exemplo, teriam uma microbiota bucal semelhante devido a troca de saliva durante o beijo. O que chamou a atenção é que essa semelhança existe mesmo entre moradores que não mantêm contato íntimo – mostrando o alto potencial de disseminação dessas bactérias.
Há dois motivos para isso. O primeiro é que muitas bactérias da boca soltam esporos que sobrevivem no ar – daí basta estar no mesmo ambiente para a transmissão. O outro não tem a ver com as bactérias em si, mas com o ambiente propício ao desenvolvimento delas. É possível que as pessoas que moram na mesma casa comam os mesmos alimentos, fazendo com que certas cepas de bactérias prosperem mais facilmente.
“A extensão da transmissão de microrganismos mostra sua relevância em estudos do microbioma humano, especialmente sobre doenças não-infecciosas associadas à microbiota”, escrevem no artigo.