O uso de combustíveis fósseis não é ruim “só” para o clima. Também é traiçoeiro para a economia. Uma alta de mais de 200% no preço do carvão causou apagões na China. A matéria-prima cara fez com que várias termelétricas (responsáveis pelo grosso da eletricidade chinesa) diminuíssem a produção de energia, deixando regiões do país no escuro e ameaçando cadeias produtivas globais – dado que a China é o chão de fábrica do planeta.
O petróleo também não tem ajudado. O preço do barril subiu 50% em 2021 – uma das razões para a gasolina a R$ 7. Como tudo o que as economias produzem depende de transporte, e o transporte ainda depende de petróleo, isso puxa a inflação para cima no mundo todo. Inflação fora do controle precisa ser combatida com juros altos. Juros altos, porém, travam os investimentos. Sem investimentos, o desemprego aumenta. No fim, a equação é clara: petróleo caro aumenta a pobreza.
Não é a primeira vez. Um choque na oferta de petróleo nos anos 1970 criou uma onda global de inflação e desemprego – que chegaria ao Brasil na forma de um tsunâmi.
Mas não estamos nos anos 1970. Temos a tecnologia necessária para substituir os combustíveis fósseis. O fim do motor a combustão interna é uma questão de tempo. A substituição das termelétricas a carvão por usinas solares e eólicas também.
Isso dará início a um mundo não apenas mais limpo, mas a uma economia global mais segura, livre das flutuações abruptas no preço dos combustíveis fósseis.
Havendo uma boa estrutura de painéis fotovoltaicos e de turbinas de vento, a matéria-prima sai de graça – o Sol, ao que parece, não pretende cobrar nada, e Éolo, o deus dos ventos da mitologia grega, também é um cara generoso.
A confiabilidade do Sol e do vento também pode ajudar o Brasil. Sempre tivemos uma matriz limpa, majoritariamente hidrelétrica. Mas as usinas dependem de chuvas. E a frequência delas pode ser incerta, como vimos nesses últimos tempos, de seca histórica. Uma rede elétrica com mais participação eólica e solar mitigaria esse risco.
E o Brasil tem tudo para seguir nessa direção a passos largos, como mostram o editor Bruno Garattoni e o repórter Leonardo Pujol na matéria de capa deste mês.
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Esta é a edição de despedida de um dos profissionais mais importantes da história recente da Super, o editor Bruno Vaiano, especialista na arte de transformar conceitos de física, astronomia e biologia em peças de literatura. Ele parte com o objetivo de iniciar uma carreira acadêmica no mundo da ciência (o que é uma ótima notícia para a ciência), mas seguirá escrevendo aqui sempre que possível. Eu e os leitores agradecemos por estes cinco anos de dedicação exemplar.