Os milionários são eles. Mas quem banca a propina somos nozes
Enquanto nossos excelentíssimos chafurdam na grana, seus verdadeiros credores seguem analfabetos e sem esgoto
Em 2014, um ex-líder do senado americano disse que um senador típico de lá gasta dois terços do seu dia de trabalho pedindo dinheiro para o partido. Boa parte desse tempo em um “call center” dentro do congresso, ligando para doadores até atingirem suas metas, que no caso dos congressistas de primeira linha roça em US$ 1 milhão. Não fez a meta, não ganha a chance de ser reeleito. Tem um programa do John Oliver sobre isso.
Aqui, como estamos vendo, jamais houve esse problema. O dinheiro de boa parte dos cidadãos que vivem de política é dado por meia dúzia de senhores feudais. E US$ 1 milhão é dinheiro de pinga. Político top de linha não sai da cama por menos de dois dígitos de milhão.
Mas claro. Como disse um investigado da Lava Jato: não existe doação de campanha no Brasil. Existe empréstimo. Pago a juros de cartão rotativo.
Então olhamos em volta, e vemos que 49,7% da população não têm acesso a sistema de esgoto. Se os brasileiros sem saneamento formassem um país, essa Cocolândia seria a 14a nação mais populosa do mundo, com 100 milhões de habitantes. Maior que a Alemanha, e com tanta gente quanto o Reino Unido e o Canadá somados.
Estamos na merda literal e abstratamente: 69% da população não tem grau suficiente de alfabetização para compreender satisfatoriamente o que está escrito nestas linhas, segundo um estudo da ONG Ação Educativa. Somos 140 milhões de analfabetos funcionais, que formariam o 10o maior país do mundo em população, e, claro, um dos lanternas em riqueza per capita, ou em qualquer outro critério que meça o bem estar de uma nacão.
Não poderia ser diferente. Porque quem paga aqueles empréstimos com juros não são os sujeitos que recebem esses empréstimos, lógico. É a Cocolândia. É a Repúbrica Anarfa. E até agora estava tudo bem. O cheiro da merda, afinal, não chegava às coberturas dos nossos excelentíssimos.
Agora chegou.