O Doria de 2016 não tinha passado. O de 2018 tem um karma.
Doria terá de defender um legado nos debates. Mas esqueceu de deixar um.
Doria viveu uma campanha bem sucedida para a prefeitura, em grande parte, por que não tinha um passado. A única vulnerabilidade ali era a imagem de playboy, que sua assessoria soube matar criando o personagem “João Trabalhador”.
Outra vantagem de Doria, lá atrás, foi jamais ter sido o ponto focal da disputa. As pedradas dos outros candidatos estavam reservadas para Celso Russomano.
O Doria do início da campanha, que tinha menos de 5% das intenções de voto, pôde apresentar o personagem que tinha criado à vontade, eventualmente sob risadas irônicas dos outros candidatos. Para os outros, ele era só um Otávio Mesquita piorado. Demorou para verem que João tinha caído nas graças dos eleitores. Quando viram, ele já tinha subido de 5% para 50%, e matado a eleição.
Agora é diferente. Dória tem um passado. E boa parte desse passado não ajuda. No imaginário popular, o João Trabalhador virou João Viajador, João Maquiador, João da Ração. Enquanto isso, a cracolândia continua a todo vapor. A grana segue curta. A grama segue alta. Claro: um ano não basta para mudar o departamento de contas a pagar de uma empresa, muito menos uma cidade que tem o PIB da Argentina.
E agora, se os 50% que votaram em Doria precisarem de alguma coisa, terão de pedir a um certo Bruno Covas, que desponta como o verdadeiro vencedor das eleições de 2016, sem ter passado pelo incômodo de se apresentar ao eleitorado.
É esse legado que Doria terá de defender nos debates. Debates que não terão um Russomano de sparring. O alvo será ele. E nada indica que Alckimin saltará na frentes das balas que dispararem contra seu (ex) protegido. Político escaldo, afinal, não mete a mão duas vezes na mesma cumbuca. Eleitor, a história mostra, também não.