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Alexandre Versignassi

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.

Estávamos vencendo a pobreza. Agora vamos pelo caminho oposto

O livre comércio tirou um terço da humanidade da pobreza extrema desde 1990. O protecionismo de Trump, agora, pode reverter essa tendência.

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 23 fev 2017, 19h25 - Publicado em 26 jan 2017, 17h21

Existem 700 milhões de pessoas vivendo sob pobreza extrema, segundo o Banco Mundial. Dá 9,5% da população. Em 1990, eram 2 bilhões: 37%. O que aconteceu de lá para cá? Quedas e mais quedas de barreiras tarifárias – nos EUA, na China, no Brasil (que começou a se abrir para o comércio global justamente em 1990).

A abertura causou uma nova revolução industrial por aqui. O produto que mais exportamos para os EUA, fora petróleo, é avião. Avião e peça de avião. Isso corresponde a 8% de tudo o que a gente vende pra eles – contra 4,7% do pré-histórico café, nosso produto de exportação mais tradicional. Vendemos mais turbinas de termelétrica pros EUA do que soja (3,6% das exportações, contra 2%). E tantas escavadeiras pesadas (1,8%) quanto etanol (1,8%).

Tudo isso graças não exatamente aos EUA, mas à China. Enriquecida ela própria pelo livre-comércio com os EUA, virou nosso maior cliente, comprando praticamente todo minério de ferro e soja que conseguíssemos produzir. O dinheiro da soja e do minério não ficou parado. Entrou no sistema financeiro. E ajudou a bancar a tecnologia de ponta que hoje vendemos para os EUA.

Isso custou empregos nos EUA, como diz Trump? Claro que custou. Mas também criou mercado para eles – só os gastos de turistas brasileiros por lá subiu 560% entre 2004 e 2014, chegando a US$ 10 bilhões por ano (cinco vezes mais do que eles gastam comprando aviões nossos). Houve uma mudança na economia americana, não uma derrocada, como Trump vocifera. Foi isso que os próprios eleitores de Trump não entenderam.

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Nenhum deles jamais experimentou a probreza extrema – até morador de rua nos EUA vive acima daquilo que o Banco Mundial considera como “pobreza extrema ” (viver com menos de R$ 5 por dia, ou R$ 150 mensais). E não devem experimentar nem se a política trumpista levar o país a uma recessão sem precedentes. Mas se o que eles esperam do presidente que elegeram é mais empregos e melhores salários, podem esquecer. O que o protecionismo excessivo traz justamente o oposto disso. O Brasil, que apesar dos avanços nos últimos 20 e tantos anos segue sendo uma das economias mais fechadas do mundo, é a prova viva.

 

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