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Por Bruno Garattoni
Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.
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ChatGPT está ficando mais “burro”, aponta estudo

Testes da Universidade Stanford revelam grande aumento de erros do robô em perguntas de matemática e na geração de softwares; OpenAI admite problemas, mas não explica os motivos; veja três hipóteses para a deterioração do algoritmo.

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Atualizado em 24 jul 2023, 17h40 - Publicado em 24 jul 2023, 17h20

Testes da Universidade Stanford revelam grande aumento de erros do robô em perguntas de matemática e na geração de softwares; OpenAI admite problemas, mas não explica os motivos; veja três hipóteses para a deterioração do algoritmo.

17077 é um número primo? É, sim: porque, como os demais números primos, só é divisível por 1 ou por ele mesmo. Em março deste ano, o ChatGPT respondia essa pergunta corretamente 97,6% das vezes. Mas, em junho, alguma coisa aconteceu – e o bot passou a acertar em apenas 2,4% das vezes. Errava quase sempre.

Seria um bug isolado? Aparentemente não. Mais um exemplo: “dado um número inteiro n > 0, encontre a soma de todos os números inteiros na gama [1, n] que sejam divisíveis por 3, 5 ou 7”. Em março, o robô dava a resposta certa para esse problema em 52% dos casos. Em junho, apenas 10%.

Essas são algumas das descobertas de um estudo da Universidade Stanford, cujos pesquisadores submeteram o ChatGPT a uma série de testes. Eles usaram duas versões do robô: um baseado no algoritmo GPT-4, que é mais avançado (e só está disponível para quem assina o ChatGPT Plus, a versão paga do serviço), e outro que roda o GPT-3.5 – a versão “original” e grátis do ChatGPT, baseada num algoritmo que foi criado em 2020 e vem sendo refinado. 

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Com o GPT-3.5, aconteceu algo mais estranho ainda. Em março deste ano, ele ia muito mal na pergunta sobre 17077 ser um número primo: só dava a resposta correta em 7,4% dos casos. Em junho, melhorou muito, e passou a acertar em 86,8% das vezes. Bacana. O porém é que, no segundo teste, o algoritmo também se deteriorou. Em março, ele dava a resposta correta em 22% das vezes – mas o índice de acertos caiu para pífios 2% em junho. 

Outra mudança intrigante apontada no estudo é que, a partir de junho, o ChatGPT parou de fornecer sua “linha de raciocínio”, ou seja, dizer quais etapas seguiu para chegar aos resultados dos testes de matemática – coisa que ele fazia, se o usuário pedisse, em março. 

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Comparação de resultados dos algoritmos GPT-4 e GPT-3.5, em vários tipos de pergunta, nos meses de março e junho. (Universidade Stanford/Reprodução)

O estudo também revelou grande piora na qualidade do código de software escrito pelo ChatGPT. Em março, num teste realizado pelos cientistas, o GPT-4 produziu código executável (ou seja, que poderia ser utilizado sem a necessidade de correções) em 52% das tentativas, e o GPT-3.5 conseguiu fazer isso em 22% dos casos. Em junho, os índices de sucesso caíram para 10% e 2%, respectivamente. 

Por que essas coisas estão acontecendo? Ninguém sabe ao certo, mas há três hipóteses. 

Os mistérios do ChatGPT

A primeira é que os problemas sejam culpa da OpenAI, a criadora do ChatGPT. A empresa não revela quais alterações faz em seus algoritmos, mas é provável que incluam a chamada “sintonia fina”: um processo em que a IA é retreinada, analisando conjuntos específicos de dados, para tentar melhorar sua precisão. Isso pode ter efeitos colaterais, como aumentar o índice de erros em outras respostas. 

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A segunda possibilidade é algum tipo de drift, ou desvio. A cada vez que você entra no ChatGPT e digita alguma coisa, é como se o algoritmo estivesse partindo do zero: ele não se lembra das perguntas que você fez nas outras vezes em que usou o serviço. Mas a OpenAI está começando a mudar isso. Na semana passada ela anunciou uma nova função, chamada Custom instructions, com a qual é possível fornecer alguns dados persistentes, dos quais o ChatGPT se lembrará sempre que você o acessar. 

“Um professor que está fazendo um plano de lições não precisa mais repetir que dá aulas de ciência para a 3a série, por exemplo. Um desenvolvedor que prefere código numa linguagem que não seja Python – ele pode dizer isso uma vez, e pronto”, explica a OpenAI, que também cita um exemplo mais banal. Você pode informar que a sua família tem 6 pessoas, e o ChatGPT se lembrará disso sempre que você pedir a ele que faça uma lista de compras de supermercado. 

A função Custom instructions só foi liberada ao público recentemente. Mas é possível que a OpenAI já estivesse usando, internamente, alguma forma de persistência de dados nos algoritmos GPT. O problema é que essa persistência pode fazer com que o algoritmo acabe se auto-modificando, para melhor ou pior – o que levaria, no segundo caso, à queda na qualidade das respostas. 

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A terceira hipótese para explicar a deterioração do ChatGPT tem a ver com a popularidade das IAs. Em maio, cientistas das universidades de Oxford e Cambridge publicaram um estudo mostrando que os grandes modelos de linguagem (LLMs), tipo de algoritmo que engloba a família GPT e outras inteligências artificiais, como o Google Bard, estão sujeitos ao chamado “colapso do modelo”. 

É o seguinte. Conforme as IAs passam a ser cada vez mais usadas para gerar textos e respostas, isso acaba indo parar na internet: há cada vez mais curiosos, e até empresas jornalísticas, tentando usar IAs para produzir sites. A tendência é que, nos próximos anos, boa parte do conteúdo online seja gerado por inteligência artificial. 

O problema, como os cientistas ingleses demonstraram, acontece quando uma IA se alimenta de textos ou dados que foram gerados por outra IA. 

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Isso deverá acontecer cada vez mais (pois as IAs são treinadas com conteúdo da internet). Mas causa uma degeneração progressiva e irreversível, em que o algoritmo fornece dados cada vez mais distorcidos e errados, e chega a um estado, o tal colapso, no qual se torna incapaz de melhorar. 

A degradação do ChatGPT pode estar relacionada a um desses três fatores, ou a uma combinação deles. A OpenAI admitiu que o bot está pior em algumas tarefas. E disse, sem muitos detalhes, que está trabalhando para corrigir isso. 

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