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Bruno Garattoni

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Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.
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Como o medo da IA ajudou a detonar greve geral em Hollywood

Estúdios querem escanear a imagem de atores e reproduzi-la com inteligência artificial - reproduzindo na vida real um cenário fictício da nova temporada de "Black Mirror"; elenco reage, e paralisação é a maior em 43 anos

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Atualizado em 6 set 2024, 15h39 - Publicado em 14 jul 2023, 14h24

Estúdios querem escanear a imagem de atores e reproduzi-la com inteligência artificial – como mostrado, de forma fictícia, na nova temporada de “Black Mirror”; elenco reage, e paralisação é a maior em 43 anos 

Em “Joan é péssima”, primeiro episódio da nova temporada de Black Mirror, o aplicativo de vídeos Streamberry (referência fictícia à Netflix) produz uma série baseada na vida de Joan: pessoa comum, usuária do app, que é interpretada pela atriz mexicana Salma Hayek. A razão e as consequências disso são bem interessantes, mas sem spoilers aqui. O relevante é que, na tal série, Hayek tem sua imagem gerada por inteligência artificial – algo com que ela concorda sem saber. E isso chegou à vida real: a greve de Hollywood, que paralisa todas as produções a partir de hoje, tem a ver com IA.

Ontem no final do dia o SAG-AFTRA, sindicato que representa 160 mil atores e atrizes nos Estados Unidos, anunciou uma greve geral por tempo indeterminado. Eles se juntam aos roteiristas de filmes e séries, que estão parados há 70 dias. E um dos motivos, disse o porta-voz do SAG-AFTRA ao site The Verge, é: os estúdios de Hollywood querem ser donos da imagem dos figurantes, que aparecem em segundo plano nas cenas. E poder reproduzi-la usando IA, sem qualquer restrição.

“A proposta que eles nos fizeram foi que os nossos atores de figuração seriam escaneados, receberiam uma diária de pagamento, e aí as empresas seriam donas da imagem deles, e poderiam usá-la por toda a eternidade, em qualquer projeto, sem consentimento nem compensação financeira”, afirmou o advogado Duncan Crabtree-Ireland, que representa o sindicato dos atores. Também há o receio de que, num segundo momento, isso comece a ser feito com a imagem dos artistas principais.

No Brasil, recentemente uma propaganda da Volkswagen, que usou IA para recriar a imagem da cantora Elis Regina, rendeu um processo no Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária). 

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O uso da imagem de Elis, que morreu em 1982, foi autorizado pelos descendentes. Mas o processo, que está em tramitação, irá avaliar se é ético usar IA para “ressuscitar” indivíduos com fins publicitários. Dependendo do veredicto, o anúncio da VW poderá ser banido. 

A paralisação de Hollywood é a maior desde 1980, e deve ter forte impacto sobre a produção de filmes e séries nos EUA. O uso de inteligência artificial tem avançado rapidamente, e gerado controvérsia, na indústria do entretenimento: em fevereiro, o SAG-AFTRA disse que a Apple usou vozes de atores para treinar robôs narradores de audiobooks – e aí passou a empregar os bots para produzir seus novos títulos, sem precisar contratar ninguém. 

Além de regras para o uso de IA, atores e roteiristas também pedem mudanças na remuneração. Com a ascensão dos serviços de streaming, as produções passaram a ser completadas em menos tempo – e isso, segundo os roteiristas, faz com que eles fiquem sem renda vários meses por ano. 

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Roteiristas e atores também dizem que os contratos de streaming são injustos, pois só são pagos uma vez – na era da TV e dos DVDs, eles recebiam um adicional a cada reprise ou relançamento.

Os estúdios estão oferecendo 11% de reajuste para os figurantes, e 76% de aumento nos “residuais” (pagamentos extras, vinculados ao lançamento de uma obra em outros países ou plataformas) das produções de alto orçamento.

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