Duas variantes do coronavírus se fundiram – e deram origem a uma nova cepa híbrida
Vírus combina o RNA das cepas B.1.1.7, descoberta na Inglaterra, e B.1.429, típica da Califórnia; mistura pode ter ocorrido após uma co-infecção, quando duas variantes infectam uma pessoa ao mesmo tempo; novo híbrido é o primeiro caso de recombinação genética do Sars-CoV-2 - fenômeno que pode acelerar seu ritmo de mutações
Vírus combina o RNA das cepas B.1.1.7, descoberta na Inglaterra, e B.1.429, típica da Califórnia; mistura pode ter ocorrido após uma co-infecção, quando duas variantes infectam uma pessoa ao mesmo tempo; novo híbrido é o primeiro caso de recombinação genética do Sars-CoV-2 – fenômeno que pode acelerar seu ritmo de mutações
A nova cepa híbrida foi descoberta por cientistas do Los Alamos National Laboratory (centro de pesquisas que pertence ao governo dos EUA e foi responsável, na década de 1940, pela criação da bomba atômica) e revelado pela revista inglesa New Scientist. O vírus, que foi detectado numa pessoa, mistura o código genético das variantes B.1.1.7, que surgiu na Inglaterra, e B.1.429, típica da Califórnia.
A cepa inglesa, que já foi detectada em mais de 100 países, inclusive o Brasil, tem como destaque a maior transmissibilidade: estima-se que ela seja 56% mais contagiosa. Isso supostamente acontece devido à mutação N501Y (em que o aminoácido asparagina, N, foi substituído por tirosina, Y, na posição 501 da proteína spike), que melhora a conexão do vírus a células humanas. Já a cepa B.1.429, da Califórnia, chama a atenção pela mutação L452R, que confere resistência parcial a anticorpos. Em tese, isso permite que ela reinfecte pessoas que já tiveram Covid-19 – e pode estar por trás de uma onda de casos em vários Estados americanos.
Ambas as características estão presentes na nova variante híbrida, que teria surgido após uma co-infecção: as cepas B.1.1.7 e B.1.429 teriam infectado uma pessoa ao mesmo tempo, e trocado fragmentos de RNA durante sua replicação no organismo dela. É o primeiro caso comprovado de recombinação genética (troca de fragmentos) entre duas cepas do Sars-CoV-2 – até então, o vírus vinha acumulando mutações “isoladamente”, após sofrer erros de cópia e pressão seletiva do sistema imunológico humano.
A nova cepa híbrida não é a primeira a juntar mutações que aumentam a transmissibilidade e geram resistência a anticorpos: as variantes B.1.351, descoberta na África do Sul, e P.1, de Manaus, já fazem isso. Ela não traz vantagens inéditas, e por isso não necessariamente irá se propagar pelo mundo. Mas a recombinação genética (que acontece com outros vírus, inclusive outros coronavírus) do Sars-CoV-2 é um mau sinal. Ela permite que o vírus altere mais trechos genéticos de uma só vez – e, por isso, pode favorecer o surgimento de cepas com mais mutações.
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