FDA libera algodão geneticamente modificado – e comestível
Sementes poderão ser transformadas em farinha para consumo humano, mas nível de toxina é ponto crítico
Sementes poderão ser transformadas em farinha para consumo humano, mas nível de toxina é ponto crítico
As sementes do algodoeiro contêm uma substância chamada gossipol (C30H30O8), que funciona como uma defesa: é tóxica para os animais monogástricos, como nós (só os ruminantes conseguem tolerá-la). Mas, em 2006, um grupo de cientistas da Universidade do Texas descobriu como silenciar o gene responsável pela produção de gossipol – e passou a última década tentando obter a aprovação da Food and Drug Administration, a Anvisa dos EUA, para colocar seu algodão geneticamente modificado, que foi batizado de TAM66274, no mercado. Agora, isso finalmente ocorreu: a FDA liberou a produção e comercialização do produto.
Segundo seus criadores, o algodão geneticamente modificado gera fibras idênticas às tradicionais. A diferença está nas sementes, que são comestíveis. De acordo com os cientistas, a produção de cada 1 kg de fibra de algodão gera o equivalente a 1,6 kg de sementes, hoje utilizadas como ração animal. Estima-se que a produção mundial de sementes de algodão chegue a 48,5 milhões de toneladas por ano. As sementes do TAM66274 contêm 23% de proteína, teor similar à carne de frango. “Elas podem ser transformadas numa farinha, após a extração do óleo, e usadas como aditivo alimentar, ou tostadas e ingeridas como snack”, afirmou o biólogo Keerti Rathore, líder da pesquisa, em nota à imprensa.
No ano passado, o USDA (ministério da agricultura dos EUA) já havia liberado o cultivo do novo algodão – que agora, com a anuência da FDA, poderá ser comercializado. A Universidade do Texas pretende licenciar o TAM66274 a empresas de biotecnologia, que serão responsáveis por levá-lo ao mercado. Mas o produto poderá enfrentar resistência dos consumidores, bem como dificuldade em obter aprovação regulatória na Europa. Isso porque a nova semente contém 300 a 360 ppm (partes por milhão) de gossipol – o que, segundo seus criadores, é “considerado seguro para consumo humano” (e muito menos que os 10 mil ppm do algodão comum). Porém, as normas europeias são bem mais rigorosas, chegando a estipular limites entre 60 e 100 ppm de gossipol para ração animal.