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Nintendo 64 completa 20 anos – e é mais relevante do que nunca

Por fdeursen
Atualizado em 4 jul 2018, 20h34 - Publicado em 23 jun 2016, 17h28

Um relato do editor Felipe van Deursen sobre o impacto do lançamento do console da Nintendo para as crianças e adolescentes de 1996

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O Vitão era o cara mais rico da turma do bairro. Tinha piscina em casa, garagem grande o suficiente pra gente fingir que um dia teria uma banda de rock, montes de brinquedos eletrônicos e até um kart, que a gente quase nunca pilotava porque era idiota demais e uma vez chegou a capotar (culpa da rua toda esburacada, claro). Logo, era ele quem sempre ganhava os videogames e brinquedos mais modernos antes de todos nós.

Naqueles idos de 1996, enquanto ouvíamos Raimundos alto (para curtir) e mais alto nas músicas que tinham palavrão (pra causar), a gente já acompanhava com expectativa as notícias sobre o projeto Ultra 64, o badalado sucessor do Super Nintendo, na Ação Games e nas poucas outras publicações que davam moral pra games na época. Então sabíamos que mais cedo ou mais tarde, assim que fosse lançado, o Vitão deveria ganhar o dele e faria a resenha in loco – os youtubers de games dos anos 90 subiam na calçada e falavam à roda que se formava em torno deles. É, não era muito diferente dos locutores que liam a Acta Diurna na rua, com as notícias do Império Romano.

O nome do novo console era Nintendo 64 e foi lançado no Japão em 23 de junho de 1996, há 20 anos. Como tinha TV por assinatura, nosso vizinho assistiu aos primeiros vídeos de demonstração e logo narrou, empolgado, o tamanho do negócio. Estávamos na rua, evidentemente, em frente à casa dele, de onde um pequeno vale descampado descia e logo subia em morrinhos que hoje estão ocupados por muros de um condomínio de nome alfabético.

Vitão usou aquele cenário para ilustrar:

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– Cara, acabou isso do Mario só andar pra esquerda, pra direita, pra cima, pra baixo. Imagina que você pode descer aqui na grama, virar, voltar, pular, correr – e mexendo a câmera! Ele está livre! Os quadrados de moedinhas são cubos. Você ENTRA pra valer no cano verde. O bagulho é 3D! Você controla com um piruzinho, tipo minijoystick, gira 360º! O bagulho é louco demais!

It's-A me!

It’s-A me!

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Devia ser a mesma sensação de quem assistia a filmes coloridos pela primeira vez. Uma nova dimensão se abria. O Vitão estava falando, é claro, de Super Mario 64. Um marco do entretenimento. O Nintendo 64 e seu esquisito controle em forma de tridente ainda traria obras-primas como GoldenEye 007 e The Legend of Zelda: Ocarina of Time, fora uma penca de jogos inesquecíveis. Ele vendeu três vezes menos que o PlayStation, que foi, esse sim, o grande console da geração. Mas pavimentou o caminho próprio criado pela Nintendo nos anos seguintes, o de que, apesar da inferioridade tecnológica e menor oferta de jogos em relação a Sony e Microsoft, ter um produto da marca é uma experiência diferente, única.

Além disso, tanto o PS quanto o N64 marcaram a época por serem os primeiros consoles lançados pós-Plano Real, o que significou que muita gente da classe média passou a viajar mais e a ter condições de acompanhar mais de perto as novidades tecnológicas do mundo. Isso fez muita diferença para quem cresceu em tempos de hiperinflação e de uma economia isolada do mundo. Se liga: o Super Nintendo saiu em 1990 no Japão e chegou ao Brasil em 1993. Três anos, quando se é moleque, é a diferença entre encher a cara de Toddynho e encher a cara de licor de menta. Já o N64 chegou aqui apenas 18 meses após o lançamento nipônico. E quem podia não esperava, não: trazia antes da Disney naquele pacote dividido em seis parcelas, como muitos do bairro, incluindo o Vitão, fizeram. Eram novos tempos.

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A tridimensionalidade daquele novo jogo do Mario foi uma das revoluções tecnológicas que mais vingaram nessas décadas de tantas revoluções tecnológicas micadas (acho que vou reativar meu perfil no Second Life enquanto espero ter uma impressora 3D em casa). Os multimilionários jogos de hoje devem muito àquela geração. Agradeça a Zelda pelo The Witcher alcançado. Fora que, apesar da óbvia e relativa pobreza de recursos gráficos e de processamento em relação aos Uncharted de hoje, alguns desses jogos continuam atuais, lindos, emocionantes e divertidos. Prova disso é que o Matheus Bianezzi, estagiário da ME e o maior gamer da redação, tem praticamente a mesma idade do N64 e também desenvolveu uma nostalgia pelo console, mesmo que diferente daqueles que se lembram do lançamento:

“Quando criança eu tinha um PlayStation – como a grande parte dos meus amigos – mas tinha um moleque, entre todos, que decidiu comprar também o 64. Fui na casa dele pra dar uma jogada e simplesmente me apaixonei. Passei anos jogando os primeiros Zeldas e Pokémons no GameBoy, mas ver os monstrinhos e “O Zelda” – perdoem-me, eu era pequeno e não tinha muita noção de gênero haha – em 3D foi algo de outro mundo. Os golpes não eram mais meramente imaginação. Estavam rolando bem ali na minha frente. Hoje consigo ver o quão precursor foram aqueles games. Se atualmente eu tenho uma tatuagem da Triforce no braço, é certamente por culpa do Nintendo 64. E também do meu amigo Gabriel. Que bom que você era rico e tinha todos os consoles! :p”.

E que bom que meu N64 ainda funciona, para relembrar os verões jogando os primeiros Fifa Banjo-Kazooie e as festas regadas a Mario Kart 64.

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Agora, voltei a jogar Ocarina, o Led Zeppelin IV, o The Dark Side of the Moon dos games. A melodia do sol nascendo no jogo é das coisas mais lindas feitas nessa arte, porque faz você sentir o que Link sente cavalgando com Epona. A hora mais escura se vai, os fantasmas desaparecem, os primeiros raios surgem, o orvalho evapora, o calor chega.

Que saudade, Hyrule.

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Matheus, tá marcada a jogatina!

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