As chances de você estar lendo este post porque está entediado são altas: segundo pesquisas feitas nos Estados Unidos, o tédio acomete entre 30 e 90% dos adultos e entre 91 e 98% dos jovens em algum momento do seu dia1.
Um estudo da Universidade Estadual de Nova York em Binghamton, publicado em abril, concluiu que o uso excessivo de smartphones tem contribuído para que nos sintamos ainda mais entediados. “Nossos smartphones transformaram-se em uma ferramenta que oferece uma satisfação curta, rápida e imediata”, disse um dos autores ao site Medical Xpress. “Nossos neurônios são ativados e a dopamina é liberada, e ao longo do tempo isso nos faz adquirir um desejo de resposta rápida e satisfação imediata. Esse processo contribui para que tenhamos períodos de atenção mais curtos e nos torna cada vez mais propensos ao tédio”.
Apesar de ser algo normal (e algumas vezes até servir de combustível para novas ideias), esse sentimento, em excesso, pode ser prejudicial. “Os entediados crônicos estão em maior risco de dependência de drogas, alcoolismo e jogo compulsivo”, explica o professor e pesquisador Shahram Heshmat, do departamento de Saúde Pública da Universidade de Illinois em Springfield.
Mas o que causa o tédio? Em um artigo no site Psychology Today, Heshmat lista alguns fatores. Nós selecionamos cinco deles:
1. Atividades fáceis ou difíceis demais
Como era de se esperar, a repetição é a mãe do tédio. Uma tarefa fácil demais, previsível e/ou repetitiva nos oferece pouco estímulo e pode se tornar chata bem rápido. Com isso, experimentamos a ausência de desejo e um sentimento de aprisionamento que levará ao tédio. Mas atividades excessivamente difíceis também podem nos entediar. Isso porque tanto uma situação quanto a outra nos impedem de atingir o chamado estado de fluxo. Entramos no fluxo, ou flow, quando estamos totalmente imersos em uma tarefa que é desafiadora no nível certo: o que ela exige é claro para nós e está totalmente ajustado às nossas habilidades, não sendo nem fácil nem difícil demais. Assim, conseguimos nos envolver e não nos sentimos ansiosos – e também não nos entediamos.
2. Necessidade de novidades constantes
Enquanto algumas pessoas amam a rotina, outras estão sempre buscando novos estímulos – e estas últimas são as mais propensas a se entediarem. “Esses buscadores de novas sensações provavelmente acharão que o mundo se move muito devagar”, escreve Heshmat. “A procura por novidades e por ações arriscadas são a forma como elas se automedicam para curar seu tédio”. Segundo ele, esse pode ser o caso das pessoas que praticam esportes radicais.
3. Pouco autoconhecimento
Outra característica muito associada ao tédio é o nível de autoconhecimento das pessoas. Aqueles que não sabem o que querem e o que os faz felizes são mais propensos a se sentirem entediados. Se você não sabe o que quer fazer, terá dificuldade em se interessar e se sentir envolvido com as coisas. E esse sentimento pode se tornar algo mais sério: “A incapacidade de saber o que o fará um feliz pode levar a um tédio existencial mais profundo. Não saber o que procuramos significa que não temos a capacidade de escolher metas adequadas para o nosso envolvimento com o mundo”, diz o artigo. Bora trabalhar no autoconhecimento aí, pessoal.
4. Falta de habilidade de se entreter sozinho
Algumas pessoas estão sempre entediadas porque simplesmente não conseguem se entreter sozinhas e dependem sempre de estimulação externa. “Na ausência de habilidades de diversão interna, o mundo externo sempre deixará de proporcionar entusiasmo e novidade suficientes”, afirma Heshmat. Distrações e atividades possíveis não faltam por aí; só precisamos aprender a escolher (sozinhos) aquelas que forem mais significativas para nós.
5. Falta de autonomia
Quando se pensa em tédio, a imagem de um adolescente irritado em casa talvez lhe venha à mente. Pessoas nessa idade de fato se sentem assim com muita frequência por causa de outro fator ligado a esse sentimento: a falta de autonomia. “As pessoas ficam muito entediadas quando se sentem presas ou limitadas. E sentir-se preso é uma grande parte do tédio”, diz Heshmat. Em outras palavras, se você não tem liberdade para agir, provavelmente se entediará mais.
O artigo completo de Shahram Heshmat, em inglês, está aqui.
1: Chin A. et al., (2107). Bored in the USA: Experience Sampling and Boredom in Everyday Life. Emotion. 2017, Vol. 17, No. 2, 359–368.