Ser introvertido podia ser um pesadelo há alguns anos: a gente se sentia um ser todo errado no mundo enquanto as pessoas “normais” nos constrangiam com comentários como “Nossa, você é quieto, né? Rs”, “Fala alguma coisa aê, Fulano!” e outras frases do tipo. A vontade às vezes era mandar a pessoa para algum lugar não muito legal, mas a gente era introvertido demais para responder.
Aí apareceram best-sellers como “O Poder dos Quietos”, de Susan Cain, com especialistas defendendo o nosso direito (e as vantagens) de ser quem somos e ser introvertido virou até algo cool. Com o assunto ficando mais popular, também ficou mais claro que a ideia dos cientistas do que define uma pessoa introvertida era incompleta.
Na verdade, os estudos basicamente definiam a introversão como o oposto da extroversão – ou seja, introvertidos são pessoas não expansivas, que não curtem ambientes sociais agitados e tendem a se voltar para dentro e não para fora de si mesmos. Enquanto os extrovertidos se sentem energizados pelo contato com outras pessoas, os introvertidos se sentem exaustos e precisam recarregar as energias curtindo um tempo sozinhos.
Mas estudos recentes vêm percebendo que a introversão é mais complexa do que isso, e que ela pode se apresentar de diferentes maneiras.
O psicólogo Jonathan Cheek, do Wellesley College, identificou quatro tipos de introvertidos depois de entrevistar cerca de 500 pessoas de 18 a 70 anos. Ele perguntou a elas coisas relativas às suas preferências em relação à solidão, sua tendência a sonhar acordado e coisas relacionadas. O site Science of Us trouxe a definição de cada um dos tipos, que a gente resume (e traduz) a seguir:
Introversão social: a mais próxima da ideia comum sobre o que é ser introvertido. Essa pessoa prefere socializar com poucos amigos íntimos em vez de turmas grandes, e os que apresentam um grau mais alto desse tipo de introversão até preferem ficar sozinhos, mesmo – curtindo um livro, um videogame ou uma Netflix em casa. Só não confunda isso com timidez: os tímidos preferem a solidão ou pequenos grupos porque se sentem ansiosos em interagir com muita gente; os introvertidos sociais não têm essa ansiedade.
Introversão de pensamento: esses introvertidos não têm aversão a eventos sociais cheios. Em vez disso, sua introversão se manifesta nas coisas em que ele foca seu pensamento. Eles são introspectivos, pensativos e auto-reflexivos e vivem se perdendo nas próprias fantasias (não de uma forma neurótica, mas de uma forma criativa mesmo). Em outras palavras, essa pessoa pode estar em uma festa lotada, mas vai quase sempre estar entretida com o que se passa dentro da sua própria cabeça.
Introversão ansiosa: ao contrário dos introvertidos sociais, os introvertidos ansiosos preferem ficar sozinhos porque acham realmente ruim estar em um ambiente com muita gente: eles se sentem estranhos e muito autoconscientes perto de outras pessoas. Não costumam confiar em suas próprias habilidades sociais e sentem que estão sendo sempre observados e julgados. O problema é que essa ansiedade não desaparece quando estão sozinhos: eles têm a tendência a ruminar mágoas e situações incômodas que vivenciaram ou que temem vivenciar e esse não é um passatempo exatamente relaxante e divertido.
Introversão contida (ou reservada): esse tipo de introvertido pode parecer meio lerdo aos olhos das outras pessoas, mas é que ele leva um tempo para de fato começar as coisas e prefere pensar bem antes de falar ou agir. Em outras palavras, é como se precisasse sempre de um “aquecimento” antes de partir para qualquer ação.
O trabalho de Cheek ainda precisa se desenvolver mais e outros estudos precisam ser feitos, mas outros pesquisadores já reconhecem o avanço no entendimento desse traço de personalidade. Se você se considera um introvertido e quer descobrir qual o seu tipo, é possível fazer um teste aqui.