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Ela foi a 1ª brasileira negra com PhD em Física – e só soube 20 anos depois

Faz 40 anos que Sonia Guimarães, a #MulherCientista desta semana, começou a estudar os materiais que estão dentro do seu celular.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 15 jun 2021, 13h06 - Publicado em 11 jun 2021, 17h04

A física Sonia Guimarães defendeu sua tese de doutorado em 1989, na Universidade de Manchester, Inglaterra. Na época, ela não sabia que estava se tornando a primeira brasileira negra com PhD em física. A notícia veio de um colega americano, mais de 20 anos depois. O CNPq, agência de fomento brasileira, passou a incluir dados de raça no currículo Lattes em 2010.

Apesar de ter feito o doutorado fora do Brasil, a maior parte de sua formação ocorreu por aqui. Sonia fez um curso técnico em edificações durante o ensino médio, e física na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Foi a primeira pessoa da família a completar o ensino superior.

Foi no segundo ano da faculdade que ela conheceu os materiais semicondutores – tema que a acompanhou até o doutorado, e com o qual continua trabalhando até hoje. 40 anos atrás, eles não eram um assunto tão popular, mas Sonia se interessou após uma conversa com um professor. Ele previu, corretamente, que esses materiais seriam centrais para o desenvolvimento tecnológico das décadas seguintes. 

Semicondutores são materiais que não são nem condutores de eletricidade (como a prata e o cobre) e nem isolantes elétricos (como a borracha e o silicone). Os semicondutores ficam no meio termo – e é isso que os torna tão especiais. Dependendo do estado em que se encontram, eles podem conduzir eletricidade perfeitamente ou impedi-la de passar. O material mais conhecido que apresente essa propriedade é o silício, mas há outros, mais obscuros, como o germânio. 

Semicondutores são a base de funcionamento de todos os dispositivos microeletrônicos que existem – como seu celular e seu computador. Neste exato momento, alguns deles estão conduzindo eletricidade para que você possa ler este texto. Assim que você bloquear a tela, eles se tornarão isolantes. A ativação e desativação dos semicondutores em um chip se dá em escala microscópica. Estamos falando de nanômetros, um milhão de vezes menores que milímetros. 

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O doutorado de Sonia foi justamente sobre a miniaturização desses dispositivos. Ela estudou formas de diminuir a espressura das junções entre os semicondutores, tanto de silício quanto outros materiais. Hoje, seria impossível pensar em smartphones sem os trabalhos de base realizados nas décadas passadas.

Pioneirismo na ciência.

Sonia diz que seu pioneirismo na área não importava para as pessoas até pouco tempo. Ela primeiro foi reconhecida fora do país – quando seu colega americano publicou um artigo em inglês sobre a primeira doutora negra em física do Brasil –, e só depois aqui. Ela conta que começou a chamar a atenção da mídia após o filme “Estrelas Além do Tempo”, de 2016, que conta a história de um grupo de engenheiras e matemáticas negras da Nasa. 

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O pioneirismo não terminou com o doutorado. Sonia Guimarães também foi a primeira mulher a dar aula de física no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Ela passou no concurso para professora em 1993, quando alunas mulheres ainda não eram aceitas no instituto (isso só mudou em 1995).

Sonia sofreu com a intolerância por parte dos alunos e dos outros professores. Em seu terceiro ano como professora, 12 dos 120 alunos em suas turmas preencheram reclamações anônimas dizendo que Guimarães não sabia física e que sua roupa chamava muito a atenção.  

A pesquisadora conta que a discriminação continua até hoje, mas ela percebe avanços. O ITA é uma instituição majoritariamente masculina – dos 110 alunos que entraram em 2019, apenas 6 eram mulheres. Mas esse número vem aumentando. Entraram 10 novas alunas em 2020 e 17 em 2021.

Além de dar aulas em uma das instituições mais prestigiadas do país, Guimarães está orientando alunas da Universidade Federal do ABC (UFABC) que pretendem projetar um robô para a exploração de Marte. A física também é cofundadora de um grupo chamado Avanço do Brasil Negro, que pretende aumentar a representatividade negra na política. 

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