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Pesquisadoras brasileiras contam sobre o seu trabalho e os desafios da carreira.

Jaqueline Goes sequenciou o genoma do coronavírus sete vezes mais rápido que o resto do mundo

Enquanto outros países demoraram em média 15 dias para sequenciar o genoma do Sars-Cov-2, a equipe brasileira fez o mesmo em 48h. Confira os outros feitos da cientista

Por Maria Clara Rossini
6 set 2022, 17h32

Na maioria das vezes, as siglas DNA e RNA são empregadas de uma maneira genérica. Cada ser vivo possui um código formado por letrinhas (A,T, C e G, se o tipo de material genético for DNA; e A, U, C e G, se for RNA). As espécies podem ter códigos maiores ou menores, e a ordem deles é o que define as características do indivíduo.

Para se referir à totalidade do material genético de um organismo (isto é, a ordem de todas as “letrinhas” do DNA ou RNA), os biólogos costumam utilizar o termo “genoma”. Descobrir a ordem dessas letras não é fácil: para ter uma ideia, o modelo do genoma humano só terminou de ser sequenciado em 2003 – uma tarefa que demorou 13 anos e US$3 bilhões.

A pesquisadora Jaqueline Goes é expert nesse caça-palavras. Formada em biomedicina pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, ela se especializou em técnicas de sequenciamento de nova geração, uma tecnologia que diminui o tempo de sequenciamento de meses para minutos.

Você deve lembrar do alvoroço dos cientistas para desvendar o genoma do Sars-Cov-2 no início de 2020. A maioria dos países levou cerca de 15 dias para sequenciá-lo. Jaqueline e sua equipe fizeram o mesmo em dois dias.

“Eu costumo dizer que esse não foi um trabalho de 48 horas. Foi um processo de quatro anos, pois comecei a trabalhar com a tecnologia em 2016”, diz a pesquisadora. Na época, ela fazia doutorado na Universidade Federal da Bahia, em parceria com a Fiocruz. Sua equipe estava trabalhando com o surto de Zika no nordeste do Brasil, e precisava de uma maneira rápida de sequenciar o genoma do vírus.

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Foi aí que Jaqueline começou a se especializar no sequenciamento de nova geração. Ela passou seis meses no Reino Unido estudando a técnica. Quando retornou ao Brasil, se tornou consultora e ensinou diversos pesquisadores a trabalhar com esse método rápido de sequenciamento. 

Tanto no surto de COVID-19 quanto de Zika, o sequenciamento é essencial para monitorar o espalhamento da doença. Afinal, o genoma não é o mesmo entre indivíduos da mesma espécie. (O DNA dos humanos, por exemplo, não é idêntico – ou então seríamos todos iguais). As pequenas variações do genoma de cada indivíduo mostram a cepa, linhagem e o caminho percorrido pelo vírus.

Comparando o genoma do vírus brasileiro com o de outras regiões do mundo, a equipe na qual Jaqueline trabalhava descobriu como o Zika vírus chegou ao Nordeste: ele provavelmente saiu da África e foi para o Caribe por meio de rotas de imigração. O vírus circulou por lá de forma silenciosa, adquiriu mutações genéticas vantajosas e emergiu como uma epidemia. Foi só depois que ele veio para o Brasil. O estudo sugere que o Zika chegou ao país durante a Copa das Confederações, em 2014, mas só virou epidemia em 2016.

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Jaqueline também já fez trabalhos sobre febre amarela e dengue sorotipo 2. Nesse último, ela mostra que o DENV-2 sofreu uma substituição de linhagem em 2014, o que levou a um aumento de infecções no Brasil.

Hoje, Jaqueline coordena uma rede de vigilância genômica, a SEQV BR, após ter concluído seu pós-doutorado no Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo. Graças ao trabalho durante a pandemia de COVID-19, a pesquisadora foi homenageada por diversas instituições. No entanto, ela diz que sua maior honra foi ter virado uma Barbie. Sim, a Jaqueline Goes faz parte de uma linha de bonecas da Mattel.

“Eu senti um desconforto inicial pela questão estética. Nunca me identifiquei com ela. Depois que eu entendi que ela tem outras versões que caiu a ficha: ‘Caraca, eu sou uma Barbie’”, diz ela. “Me fez entender meu papel na representatividade”.

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