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Por Maria Clara Rossini
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Luna Gripp usa dados hidrológicos para prever enchentes na Amazônia

A #MulherCientista dessa semana é responsável pelo Sistema de Alerta Hidrológico da Amazônia. O sistema avisa, com meses de antecedência, como as comunidades locais devem se preparar para as cheias dos rios

Por Maria Clara Rossini
21 Maio 2021, 14h40

Neste exato momento, os rios da bacia amazônica estão passando pela segunda maior cheia da história. Ao longo das próximas semanas, é provável que a bacia atinja o maior nível já registrado. A cheia sem precedentes oferece riscos diretos às populações ribeirinhas, que têm suas casas alagadas, e às cidades próximas dos rios, que também estão vulneráveis a inundações.

Se você mora no Norte do país, é possível que tenha visto notícias como essa nos últimos dias. Por trás das manchetes, existe um esforço do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) para registrar o nível dos rios em bacias hidrográficas do país e fornecer esses dados para pesquisadores.

A engenheira ambiental Luna Gripp é a responsável pelo monitoramento do nível dos rios da bacia amazônica. Todos os dias, ela recebe os dados das estações de medição da Amazônia e prepara boletins semanais sobre os níveis de chuva e cheia dos rios. Qualquer análise sobre cheias e secas na região provavelmente utiliza os dados tratados por ela.

A principal forma de coleta de dados é bastante artesanal: um morador local mede o nível da água usando uma régua fixada no leito do rio. Ele anota os dados em um caderno e depois envia para a equipe de Luna. Para a chuva, é utilizado um recipiente em forma de copo que capta e armazena água, chamado pluviômetro. A pesquisadora conta que há moradores que realizam a mesma tarefa, todos os dias, há mais de 40 anos.

Esses dados convencionais são complementados com informações baseadas em tecnologias de ponta: sensores de níveis instalados nos rios, e pluviômetros automáticos que transmitem as informações coletadas para satélites, que por sua vez enviam os dados diretamente para o sistema. Imagens obtidas diretamente por satélite também são utilizadas para expandir as informações. Mesmo com toda tecnologia disponível, os dados dos moradores locais continuam essenciais: eles que são utilizados para corrigir as informações dos satélites.

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O trabalho de Luna somado à dedicação dos colaboradores resultou em uma série histórica riquíssima sobre a hidrografia da Amazônia. Os índices do porto de Manaus, por exemplo, começaram a ser registrados em 1902. O nível do rio na cidade é influenciado pelos rios Negro e Solimões, que se encontram na região formando o Rio Amazonas.

Por ser o primeiro órgão a receber esses dados, o Serviço Geológico criou um sistema de alerta que informa com antecedência sobre as cheias ou secas que ocorrerão nos meses seguintes. Isso permite que a população e a defesa civil da região se preparem e planejem a melhor maneira de alocar os recursos disponíveis.

“Com esse tempo, eles podem conseguir madeira para levantar as casas de populações ribeirinhas ou fazer o cadastro de pessoas que vão precisar de auxílio-aluguel”, diz Luna. Na cidade de Anamã, no Amazonas, a unidade básica de saúde vai para debaixo d’água quando há enchentes severas. O estado precisa providenciar uma unidade móvel (uma embarcação) para atender a população enquanto a água não baixa.

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Em alguns casos, a seca pode ser até mais devastadora que a inundação, já que muitos municípios da Amazônia só podem ser acessados de barco. São eles que levam comida e combustível para os geradores de energia e embarcações locais. Se em algum ano chove menos do que o esperado, o nível do rio diminui e a população fica praticamente incomunicável.

Para fazer as previsões e informar se os municípios devem ou não começar a se preparar, Luna faz uma comparação com a série histórica de cheias e vazantes da região, por meio dos mesmos dados coletados pelo SGB-CPRM ao longo dos anos. Em março de cada ano, ela mede o nível dos rios e verifica em quais outros anos ocorreram níveis semelhantes. Depois, é possível ver o que ocorreu no mês de junho desses outros anos na série histórica. Se em 90% dos casos houve uma grande cheia no meio do ano, é possível ter uma boa ideia de que aquilo ocorrerá novamente.

A pesquisadora emite boletins de previsões três vezes por ano. No entanto, ela não têm tido muitas surpresas com as previsões. Na última década, as cheias severas se tornaram frequentes. Até os anos 2000, a maior cheia da série histórica do porto de Manaus tinha acontecido em 1953. O recorde foi batido em 2009, em 2012, e provavelmente será batido novamente nas próximas semanas. Os anos de 2013, 2014 e 2015 estão entre as dez maiores cheias da história. “A gente tem que aceitar que isso vai ser comum. Precisamos pensar em como minimizar os impactos e ter soluções regionalizadas”, diz Luna.

Com a cheia histórica ocorrendo em Manaus, o trabalho de Luna nunca esteve tão agitado. Além da rotina no Serviço Geológico, ela concede diversas entrevistas por dia. Para completar, a pesquisadora carrega um “peso” a mais, esse com todo o prazer todo mundo: ela está grávida de seis meses, e não pretende parar tão cedo de trabalhar.

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