Quantas mutações são necessárias para que o coronavírus tenha nova cepa?
A Ômicron tem 50 mutações (30 delas só na proteína spike). Mas será que isso vale para todas as outras linhagens?
Primeiro vale explicar que o coronavírus tem o seu material genético composto por ácido ribonucleico (RNA), uma molécula frágil: na hora de se replicar, erros acabam acontecendo com facilidade. E alguns desses erros se tornam o que chamamos de mutações. Mas não existe um número mínimo para caracterizar uma nova linhagem (cepa).
Essas mutações acontecem o tempo todo. Mas só falamos em “nova cepa” quando elas alteram propriedades importantes do vírus. É o caso da Ômicron. De suas mais de 50 mutações, 30 estão na proteína spike, a chave que ele usa para entrar nas células. Isso lhe permitiu infectar com mais facilidade, e tornar-se a versão dominante do Sars-CoV-2.
A Ômicron tem duas sub-variantes: a BA.1, linhagem original, e a BA.2, que se difere em 40 mutações da BA.1. Elas são tão diferentes que, na árvore filogenética do Sars-CoV-2, estão tão separadas quanto as variantes anteriores Alpha, Beta e Gama estão entre si.
Milhares de cientistas monitoram o surgimento de novas linhagens. Sob um mesmo sistema de classificação chamado Pangolin, pesquisadores podem coletar amostras do Sars-CoV-2 e compará-lo com linhagens previamente registradas mundo afora.
Até o momento, mais de mil variantes do Sars-CoV-2 já foram identificadas. A maioria das mutações registradas não tem impacto na disseminação do vírus, mas esse monitoramento é importante para acompanhar o surgimento de linhagens que podem ser mais transmissíveis ou resistentes às vacinas.
Por isso, a Organização Mundial da Saúde classifica as variantes em grupos. Alpha, Beta, Gama, Delta e Ômicron integram o grupo das “variantes de preocupação”. São linhagens que demonstraram maior transmissibilidade, piora do quadro da doença ou diminuição da eficácia do diagnóstico e das vacinas. Há também as “variantes de interesse”, que estão num grau abaixo: no momento, Lambda e Mu estão neste grupo.
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Fonte: Maria Helena Menezes Estevam Alves, pesquisadora do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (UFPE).