Quem inventou as fitinhas do Bonfim?
A lembrança obrigatória de quem visita Salvador nasceu no final do século 18 – mas ela era bem diferente da versão atual.
Costuma-se atribuir a criação das fitas ao português Manoel Antônio da Silva Serva. Aproveitando uma tradição portuguesa de fitinhas em festas da Igreja Católica, ele teria lançado o souvenir por aqui em 1809, quando era tesoureiro da Devoção de Nosso Senhor do Bonfim – instituição mantenedora da Igreja Nosso Senhor do Bonfim, aberta em 1754. O objetivo seria angariar fundos para a igreja com a venda das fitas. Mas talvez não fosse bem assim: há registros de comercialização das fitas desde 1792.
E elas eram bem diferentes dos modelos atuais, a começar pelo nome: no começo, foram chamadas de “medidas do Bonfim”. Isso porque tinham de medir, precisamente, 47 centímetros – o comprimento do braço direito da imagem do Senhor do Bonfim (Jesus Cristo crucificado) que veio de Portugal a Salvador em 1745 e deu origem à igreja que leva esse nome.
Além disso, eram mais largas (5 a 7 centímetros de largura, contra 1 cm das de hoje) e rebuscadas: feitas com seda (ou cetim), tinham a imagem do Senhor do Bonfim em alto relevo e fios banhados em ouro. Coisa fina. Fiéis endinheirados compravam as medidas e as usavam nos ombros ou enroladas no chapéu.
Ao longo do século 19, outras igrejas da Bahia também passaram a produzir suas próprias medidas. Mas a tradição foi perdendo força no século 20 – e desapareceu por completo nos anos 1940. Mas não para sempre.
As fitas voltaram a circular duas décadas depois. Órgãos de turismo fizeram campanhas intensas com as fitas para divulgar as celebrações do Senhor do Bonfim, padroeiro não oficial de Salvador. Foi nessa época que elas ficaram menores e mais baratas. Ganharam cores, a frase característica (“Lembrança do Senhor do Bonfim da Bahia”) e nova matéria-prima (primeiro algodão e hoje, majoritariamente, náilon ou poliéster). A tradição manda prender as fitinhas no pulso ou nas grades da Igreja do Bonfim – que, vale dizer, não as fabrica mais. Na verdade, boa parte delas é produzida em São Paulo.
Fonte: Artigos “Do algodão ao ouro: conheça a história das fitinhas do Bonfim” e “Fitas do Bonfim desaparecidas”, do Correio.