4 mitos científicos em que você provavelmente acredita
Sim, existe gravidade no espaço e, infelizmente, é impossível encontrar uma cura para o câncer. Entenda as respostas para esses e outros mitos desbancados
Ciência é pop. A vovó, o feirante, sua sobrinha de 10 anos, todo mundo tem uma opinião sobre algum assunto científico que seja, de evolução aos aliens. Se ciência não fosse pop, a SUPER não estaria no ar. Com tanta gente tagarelando sobre um assunto, é inevitável que vão aparecer mitos populares e lendas urbanas – e alguns picaretas tentando se aproveitar. A seguir, algumas coisas que quase todo mundo pensa sobre ciência que simplesmente não são verdade.
1. Não existe gravidade no espaço
Parece óbvio: você vê os astronautas boiando como bolhinhas de sabão, a velha regra da maçã de Newton não se aplica mais. Até a Nasa fala em “gravidade zero” para explicar o que acontece no espaço. Mas é uma licença poética: falta de gravidade é uma ilusão. Tem gravidade em todo lugar no espaço – o que mais prenderia a Terra e a Lua em suas órbitas? A gravidade fica menor quanto mais longe estamos, mas, a 400 quilômetros de altitude, a distância para a Estação Espacial Internacional, ela ainda tem por volta de 90% de sua força.
Como se explica então o doritos voador? O momento angular (e não “força centrífuga”, que é outra lenda urbana). Coisas girando tendem a sair numa reta pela tangente. Essa é a força que faz com que você possa girar um balde sem a água cair. O giro da nave tenta tirar ela para longe da Terra, enquanto a gravidade puxa para baixo. Na velocidade certa, as duas forças se anulam. E o resultado é que os astronautas flutuam, como se estivessem num elevador em queda livre.
2. Charles Darwin descobriu a evolução
A gente topa com o dedão do pé em fósseis desde que caminha sobre a Terra. Eles são a origem das lendas sobre dragões. Os filósofos da Grécia antiga já especulavam sobre como animais podiam virar pedra.
Mas foi só a partir do século 18 que se começou a pensar seriamente sobre a consequência da existência de fósseis: se animais do passado tinham formas diferentes das do presente, quer dizer que eles mudam. Em outras palavras, evoluem.
Já em 1751, Pierre Louis Maupertuis falou que uma espécie podia produzir outra. O avô de Charles Darwin, Erasmus Darwin, foi o primeiro a propor que todas as espécies descendiam de micro-organismos. E George Lamarck propôs a primeira – e, infelizmente, errada – teoria da evolução no ano de nascimento de Darwin, 1809.
A teoria da seleção natural de Darwin explicou como a evolução acontece. O fato que evolução existe já era conhecido havia mais de um século. Dizer que Darwin descobriu a evolução é como dizer que ninguém sabia que maçãs caíam antes de Newton.
3. Os antigos achavam que a Terra era chata
Sim, não faltou gente na História para dizer que nosso planeta era uma bandeja sustentada por elefantes em cima de uma tartaruga. Mas ninguém na época de Cristóvão Colombo achava que ele ia cair da borda do mundo.
A ideia de a Terra ser uma esfera data de Pitágoras, no século 6 a.C. Os gregos antigos chegaram à conclusão que vivemos numa bola, não frisbee, por alguns fatos. Um, as estrelas no céu são diferentes dependendo da latitude do observador – se a Terra fosse plana, todo mundo estaria vendo a mesma coisa. Dois, a Lua é redonda, o que sugere que sua parceira também seja. Três, o casco dos navios some no horizonte enquanto as velas ainda são visíveis. E, por fim, a sombra da Terra projetada na Lua durante um eclipse é redonda.
Até mesmo o tamanho da Terra foi calculado com bastante precisão por Erastótenes, no século 3 a.C. – e ele errou por pouco, de 5% a 15% (a gente não sabe porque ele deu o número em “estádios”, e ninguém sabe quanto exatamente era um). Aliás, se Colombo tivesse levado a sério Erastótenes, ele não teria passado o resto da vida achando que tinha trombado com a Ásia. Ele acreditou em cálculos errados que situavam o Japão a 3.700 quilômetros das Ilhas Canárias (fica a 20 mil). Os portugueses levaram: conhecendo o tamanho da Terra, eles sabiam que a Ásia não podia ficar lá e preferiram investir numa rota no caminho contrário, contornando a África e chegando na Ásia antes dos espanhóis, com Vasco da Gama, em 1498.
4. Vão descobrir a cura para o câncer
Essa aparece em qualquer post sobre pesquisas engraçadas ou incomuns. “Por que não investem isso na cura com o câncer?”, diz o comentarista do Facebook, com o mesmo senso de justiça com que passa adiante aquela imagem da criança africana que vai ganhar um dólar por cada like.
Para começo de conversa, “câncer” não é só uma doença. São mais de 100 tipos de tumores, começando por células muito diferentes, que em comum só têm o fato que são uma reprodução descontrolada de células causada por um defeito de DNA.
Como câncer é uma categoria de doenças, não uma só, não tem como haver uma cura só. Alguns são simplesmente removidos cirurgicamente, como os de próstata. Isso dá aos pacientes 99% de chances de sobrevivência em 5 anos. Vários outros são tratados por quimioterapia, como o câncer de mama, que tem 90% de chances de sobrevivência, se detectado num estágio inicial. Quimioterapia não é um tratamento único – são dezenas de remédios diferentes, usados para tumores diferentes. Outros tipos de câncer, como os do cérebro, têm que ser tratados de forma diferente – radioterapia, no caso. E tem também a imunoterapia, voltar os mecanismos de defesa do corpo contra o câncer, que é usada para melanoma.
Em outras palavras, já existe cura para o câncer. Só não funciona em todos os casos, principalmente os avançados – um câncer de vesícula biliar, que é difícil de detectar no começo, pode ter apenas 2% de chance de sobrevivência. Mas isso de estágio não é tão diferente de alguém chegando no hospital dias depois de ser picado por uma cobra: tratamento existe, mas é simplesmente tarde demais.
Quando chegam notícias sobre “cura do câncer”, o que realmente está se dizendo são melhorias para tratar algum tipo de câncer. O que não atrai muitos cliques.