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Drogas, álcool e brigas: 20 anos de Be Here Now, do Oasis

Por Ingrid Luisa
Atualizado em 4 jul 2018, 20h34 - Publicado em 26 out 2017, 17h40

Oasis

“Todas as pessoas aqui agora, vocês entendem o que eu quero dizer?”, questiona a música que abre o clássico álbum Be Here Now, do Oasis, lançado em agosto de 1997. Essa pergunta poderia muito bem ser voltada aos próprios irmãos Gallagher, afinal, nem todo mundo entendeu o que eles queriam dizer nas letras desse CD, um dos que mais divide opiniões em toda a carreira da banda, incluindo entre fãs do grupo.

As polêmicas não impediram o álbum de vender 700 mil cópias em sua semana de estreia. Completando 20 anos em 2017, Be Here Now veio logo em seguida do badalado What’s The Story? (Morning Glory), de 1995, e já carregava uma expectativa gigantesca da mídia e do público muito antes de ser lançado. O resultado? Polêmico, mas aqui cabem cinco fatos que podem explicar (ou não) o burburinho em torno dele:

1) O álbum é o resultado da soma de Caribe, drogas e pressa

Em maio de 1996, Noel Gallagher saiu de férias para uma ilha caribenha chamada Mustique, onde ficou hospedado numa casa de Mick Jagger e esteve na companhia do próprio e também de gente como Johnny Depp e Kate Moss. Nessa época, o Oasis estava no topo do mundo após o sucesso de seus dois primeiros álbuns e a vida de Noel era uma festa nonstop de álcool e cocaína. Depois de duas semanas, ele havia composto 15 músicas. Na terceira, ele gravou as demos de todas com o produtor Owen Morris (é possível ouvi-las na versão deluxe lançada este ano).

Saber esse processo é importante para entender por que Be Here Now é “maluco”. A crítica especializada adora apontar as letras sem-noção como “Porque você me vê, eu tenho minha torta mágica” ou “Cubra-se de frio quando está calor lá fora”. As músicas são muito longas e o álbum é pretensioso onde seus antecessores eram relaxados.

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Por isso mesmo, Be Here Now é considerado um ponto de ruptura, um momento em que o Oasis se perdeu. Noel diz se arrepender de não ter incluído algumas faixas que depois saíram como lados-b. “Nós estávamos altos de cocaína o tempo todo, achando que tudo é possível”, disse ele à NME. “Quando as pessoas dizem: ‘o Be Here Now cara, o que aconteceu ali?’, eu digo ‘bom, eu escrevi durante as férias, e vamos colocar desse jeito, eu tive ótimas férias”.

Noel ainda chegou a afirmar, em entrevista à Vevo em 2016, que a banda jamais deveriam ter gravado o álbum naquele momento, e disse não ter pressa de lançar músicas em sua carreira solo pra não correr o risco de lançar “outro Be Here Now”.

2) As músicas são muito longas e esse é um problema bom

Das 11 faixas (descontando a 12ª, uma reprise), a mais curta é “I Hope, I Think, I Know”, com 4m22s, e a maior é “All Around The World”, com 9m22s. Essa música é, aliás, a faixa mais longa a ter figurado no topo das paradas britânicas! A média das músicas é 6 minutos, e todas têm longos solos de guitarra e o refrão repetido muuuuuitas vezes, o que acabou não agradando a todos.

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Ao longo dos anos, Noel Gallagher disse em entrevistas que a duração excessiva das faixas era um dos grandes problemas do álbum. No entanto, quando revisitou as músicas em 2016 para preparar a edição de aniversário de 20 anos, ele mudou de ideia. “Eu tentei refazer todo o álbum”, ele disse numa entrevista à NME, revelando que planejava editar as faixas para deixá-las mais curtas. “Entrei no estúdio e depois de dois dias eu pensei ‘isso é fugir da ideia, o álbum foi feito para ser maluco desse jeito’”, declarou.

“Eu voltei a algumas coisas que havia editado e pensei ‘nah, elas soam péssimas, elas ficavam melhores quando não havia ninguém cantando por três minutos’ porque, você sabe, você está meio que digerindo a cocaína antes de cantar. [Este álbum] é para ser acompanhado de um engradado de cerveja e um saco de cocaína, sem fazer planos para os próximos dois dias. Esse é o espírito intencional original. E se você o escutá-lo nesse espírito, pode ser o maior álbum de todos os tempos.”

3) Os singles criaram uma ideia errada do Oasis

É engraçado, mas muita gente que não conhece a fundo a banda inglesa acha que seu som gira em torno de singles lentos e “românticos”. Isso ficou bem forte na era Be Here Now, quando dois singles nesse perfil, “Stand By Me” e “Don’t Go Away”, fizeram sucesso em todo o mundo. Faça um teste: pesquise “Oasis” no Youtube e veja o que aparece: “Wonderwall” e “Stop Crying Your Heart Out”, duas baladas, seguidas dos singles citados acima.

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O rock com guitarras estrondosas bem anos 90 (chamado também de “britpop”) que caracteriza o grupo, presente em músicas como “Supersonic” ou mesmo “D’You Know What I Mean?”, outro single desse álbum, acabou não sendo a primeira coisa que vem à cabeça quando as pessoas pensam em Oasis. Esse estigma, reforçado pela quantidade de músicas mais melódicas do Be Here Now, desagradou alguns fãs.

4) As gravações tiveram um clima pesado

É de conhecimento público que os irmãos Gallagher não conseguem lidar com o ego um do outro, mas, sob o sucesso da era Morning Glory, o segundo álbum, eles estavam incontroláveis. O produtor de Be Here Now, Owen Morris, chegou a declarar: “Noel decidiu que Liam era um péssimo vocalista e Liam decidiu que odiava as músicas de Noel”.

Tendo uma parte do Be Here Now gravada no aclamado Abbey Road Studio, reza a lenda que a banda foi expulsa de lá por “se comportarem como selvagens”. Outro boato é que Johnny Depp, que participou do álbum tocando guitarra em “Fade In-Out”, acabou tocando em toda a música porque Noel estava muito bêbado no dia da gravação.

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Curiosamente, em 2016, Noel disse que “aquela turnê e toda a experiência de fazer o álbum foram as mais proveitosas experiências que tive na indústria da música, porque nós não ligávamos para p***a nenhuma. Havíamos estragado tudo, de alguma forma, mas era brilhante”.

5) A turnê foi o ponto final da inocência do Britpop

Vários shows clássicos ocorreram na turnê do álbum, como a apresentação icônica na arena G-Mex, em Manchester, em dezembro de 1997. Era o Oasis em sua época de maior banda de rock do mundo tocando seus sucessos em casa. A plateia uníssona, Liam no auge de seu agudo vocal, com chocalho e microfone apontado pro nariz, Noel tocando perfeitamente todos os solos. Gostando do álbum ou não do Be Here Now, ele rendeu algumas das melhores apresentações da banda.

No entanto, essa turnê, que visitou todos os continentes do globo, foi conturbada e regada a drogas. Álcool e cocaína eram o dia a dia da banda, que começou os shows com a crítica os bajulando e encerrou com comentários de que o desempenho deles não era mais o mesmo.

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Em um artigo para o jornal The Guardian escrito em 2007, o jornalista John Harris teorizou a coisa toda: “Havia, sem dúvidas, um desejo massivo de prolongar a diversão que o Oasis havia começado em 1994. (…) 1997 foi o último suspiro do absurdamente positivo, romantizado e estrelado estado mental criado pelo Britpop. Pelo que me lembro, foi só no final do ano que a ficha caiu, quando uma sequência de shows indulgentes e arrogantes expôs o estado fragilizado do Oasis”.

E, assim, o Britpop conquistador do mundo cedeu espaço a novas ondas como as boy bands, o new metal e o emo. E o Oasis levou quase uma década até se reerguer criativamente.

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