Confesso que a primeira coisa que me chamou a atenção quando encontrei o livro Go perdido em uma das estantes da biblioteca da minha escola foi a capa. Diferentemente da maior parte de outras obras, em que editoras usam ilustrações hiper-realistas e extravagantes, Go corre na contramão, possuindo apenas o seu título em cor vermelha estampado em um fundo branco. Como se dissesse: “Vá, faça”.
Num primeiro momento, você pode até chegar a pensar que se trata de mais um livro norte-americano, tanto pelo título quanto pelo nome do autor (Nick Farewell), mas a história é totalmente brasileira e, inclusive, se passa em São Paulo. A primeira coisa que devo fazer é te alertar: este livro vai te fazer rever vários conceitos da sua vida, não importa pelo que esteja passando no momento. Talvez seja isto o que mais tenha chamado atenção e feito com que muitos se apaixonassem pelo universo desse livro: a identificação.
Em Go, temos um protagonista escritor, sem sucesso, DJ, fã de cinema e com problemas de socialização (já se identificou o suficiente?). Personagem este que conversa com os leitores ao longo de mais de 200 páginas, contando sobre si mesmo. Em meio a desabafos, decepções e descobertas, acompanhamos os altos e baixos da vida de Júnior, ou melhor, DJ Fahrenheit, um homem sarcástico e realista, mas, sobretudo, romântico e com certa esperança de que viverá dias melhores.
Durante toda a história, seguimos o personagem na luta para finalizar o primeiro livro enquanto tramas distintas se desenrolam de fundo: a convivência com a solidão, traumas familiares e a mais significativa delas: a descoberta de um novo amor, o que provoca certo choque no seu mundo particular, antes solitário e ranzinza.
Admito, como bom fã de um romance, que a história melhora ainda mais quando Ginger surge em cena. Ela é a típica garota incrível que faz Júnior se sentir como um adolescente se apaixonando pela primeira vez. O que faz Go inovar é a forma delicada, mas ao mesmo tempo crua e realista, de retratar os momentos que os dois passam juntos. Ambos solitários, fãs de boa música e perdidos em mundos próprios, eles descobrem uma forma de apoio – uma ponte de um para o outro – o que torna o casal só mais um dos pontos altos do livro.
A escrita franca quase sempre soa como se estivéssemos lendo poesia, o que rende citações magníficas por parte do autor. Em muitos momentos, cheguei a me perguntar se estava lendo uma história baseada em fatos reais. Nas últimas páginas, tive a minha resposta: estava. Estava lendo a minha história e a de todos nós que nos identificamos em algum ponto com Júnior e a sua vida. E você pode até não concordar comigo, mas acredito que são raras as obras literárias que conseguem fazer mais do que nos entreter durante a leitura; são raras as histórias que nos fazem absorver lições de moral e reflexões até mesmo quando fechamos os livros e estamos distraídos fazendo alguma outra coisa.
Esta história definitivamente é uma dessas preciosidades, seja te lembrando de nunca desistir dos seus objetivos, seja te incentivando a esperar por dias melhores.
Outro ponto positivo a ser adicionado são as referências musicais que você encontrará a todo momento (afinal, o personagem principal é DJ). Títulos de canções, nomes de bandas e afins são citados corriqueiramente durante a história. Inclusive, há uma lista de canções selecionadas especialmente pelo autor, na última página, que servem como trilha sonora da narrativa.
Em um resumo prático: Go é mais um desses livros fantásticos escritos por brasileiros (ou pelo menos quase brasileiro, já que Nick nasceu na Coreia do Sul) e que, infelizmente, quase sempre são preteridos por best sellers internacionais. É uma grata surpresa para quem acredita na literatura nacional e para aqueles que querem explorar histórias que vão além da lista dos mais vendidos do New York Times.