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17 conselhos errados que as pessoas dão

Comece a academia, pare de fumar, beba menos, seja fiel, organize-se, leia mais, durma mais cedo, largue o café, coma melhor...

Por Maurício Horta
Atualizado em 20 dez 2018, 19h00 - Publicado em 29 abr 2013, 22h00

Seguir o coração pode ser uma roubada. Alma gêmea é algo tão crível quanto os deuses do Olimpo. Escolher a profissão que ama vira e mexe acaba em frustração. Conselhos desse tipo, comuns no amor, no trabalho e no cotidiano, não funcionam, pois não levam em conta como o cérebro e o corpo funcionam.

 

Todos os dias disparamos e recebemos frases que prometem ser soluções simples e diretas para problemas e dilemas do dia a dia. “Pense positivo”? Sério? Para começar o ano novo bem de verdade, é melhor evitar aquele que costuma ser o primeiro erro:

1. Maneire nas resoluções

Junto com o ano novo vem aquela vontade de ser alguém melhor, mais equilibrado, centrado, saudável. E aí tome resoluções para cá e para lá. É normal. Faz parte do nosso ritual de réveillon. Mas esqueça isso. Quanto mais decisões desse tipo tomarmos ao mesmo tempo, menor vai ser a chance de que alguma delas dê certo.

O psicólogo britânico Richard Wiseman acompanhou mais de 3 mil pessoas que fizeram resoluções de Ano-Novo. No início, 52% estavam confiantes de que teriam sucesso, mas, passado um ano, apenas 12% atingiram seus objetivos. Pare e pense na última vez em que você fez alguma resolução. Quantas deram certo? Quantas foram largadas no meio do caminho?

Isso ocorre porque nossa força de vontade funciona como um músculo: ela pode ser exercitada para se fortalecer, mas, quando usada além do limite, entra em fadiga. E para provar nosso limite de autocontrole não faltam experimentos malucos.

O pioneiro na área é Roy Baumeister, da Universidade Estadual da Flórida, Estados Unidos. Ele pegou dois grupos de estudantes com fome e os desafiou a resolver um quebra-cabeça. Ao primeiro grupo, o pesquisador exibiu um biscoito de chocolate. Ao segundo, nada. As pessoas do segundo time dedicaram 20 minutos ao quebra-cabeça. Os que foram atiçados desistiram em oito minutos.

Em outra pesquisa, da Universidade Macquarie, da Austrália, observou-se que estudantes em época de provas fumam mais, param de se exercitar, dobram o consumo de cafeína, bebem mais álcool, gastam mais, comem mais porcaria, cuidam menos de sua higiene – e, em vez de estudar mais, procuram passar mais tempo com seus amigos. E aí, se identificou?

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A razão para isso, segundo Michael Inzlicht, da Universidade de Toronto, Canadá, está em uma estrutura cerebral chamada córtex cingulado anterior, envolvida na detecção de erros. Ela dá um alarme quando você faz algo diferente do que pretende fazer. Quando esse sistema é usado demais, a capacidade de detectar erros se deteriora e você tem mais dificuldade em controlar as reações. Fica difícil se conter.

Então esqueça aquele monte de promessas de réveillon, porque a lista enorme de metas não funciona. A não ser que você queira mais um ano novo empurrando problemas velhos com a barriga.

O caminho certo

Quer que sua resolução funcione? Desista da lista enorme de promessas.

  • Escolha uma meta de cada vez e procure começar imediatamente, em vez de deixá-la para segunda-feira.
  • Foque em metas específicas, mensuráveis e com prazo estabelecido. “Correr meia hora três vezes por semana” é melhor que “fazer atividades físicas”.
  • Não encare um deslize como fracasso. Se você fumou durante um encontro com amigos, você pisou na bola, mas não abortou o plano de largar o cigarro. Relaxe.

2. Não vá para a cama no primeiro encontro

Um estudo da Universidade de Iowa, EUA, avaliou 640 relacionamentos e concluiu que quem transou de cara era menos satisfeito que quem resolveu esperar. Mas, ao tirar do grupo os que não queriam nada muito sério no relacionamento, a diferença sumiu. Tanto fazia quando começou o sexo.

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A explicação, segundo Anthony Paik, autor do estudo, está nas intenções da pessoa. A única vantagem em aguardar é peneirar quem não está disposto a nada sério. Se ambos querem algo a mais, não há por que esperar. Porém, o problema de focar tanto em arranjar namorado é que a pessoa pode cair no nosso sexto conselho.

3. Procure sua alma gêmea

No início, os humanos tinham quatro pernas, quatro mãos, duas faces, quatro orelhas, dois órgãos sexuais e eram fortes como os deuses. Com receio que escalassem o céu para lutar contra eles, as divindades pensaram em exterminá-los. Mas, se fizessem isso, não restaria quem os idolatrasse. A solução foi, então, cortar os humanos em dois “como se faz com os linguados”, escreveu Platão em O Banquete. Desde então, os humanos buscam sua alma gêmea, essa metade perdida.

A bonita história da mitologia grega traz uma ideia tão errada quanto popular – a de que relacionamentos dão certo quando as pessoas são parecidas. Estudos identificam que, de fato, casais tendem a compartilhar certas características, como posição política, religião, condição social e valores. Mas talvez esses casais estejam juntos não porque têm muito em comum, mas porque se conheceram em ambientes onde certas características são compartilhadas, seja na igreja, faculdade, trabalho ou bar.

Porém, em um mesmo grupo há pessoas com personalidades distintas, e ainda assim elas podem se unir. A pergunta que vale, então, é outra. Pessoas de personalidades parecidas desenvolvem relacionamentos melhores? Alguns estudos concluem que sim. Outros dizem que os opostos se atraem. E outros explicam que pessoas parecidas se dão bem a curto prazo, pois se conectam com mais facilidade, mas não a longo prazo, já que personalidades diferentes dividiriam melhor tarefas e evitariam o tédio.

Bem, estudo tem de monte. Mas um outro, da Universidade Humboldt, Alemanha, chama a atenção. Ele analisou cem casais e concluiu que a resposta não está no parceiro, mas na própria pessoa. Dos traços de personalidade, o que mais influiu foi sociabilidade, a disposição a cooperar e resolver problemas.

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Outro fator que conta é a qualidade da relação com amigos e parentes – gente satisfeita com aqueles próximos também tem um relacionamento melhor. Em suma: compatibilidade de amantes é algo superestimado. O que importa é como você é.

 

4. Não dê importância ao sexo

O amor nasce do desejo sexual, concluiu o psicólogo Jim Pfaus, da Universidade Concórdia, Canadá. Ao analisar a atividade cerebral de pessoas diante de imagens eróticas e de fotos dos parceiros, sua equipe viu que os sentimentos ativam áreas diferentes de uma região chamada corpo estriado.

O desejo envolve uma parte ligada a estímulos instintivamente prazerosos. Já o amor ativa uma área que liga esse prazer a um estímulo. Em resumo, diz Pfaus, “amor é um hábito formado a partir do desejo sexual conforme ele é recompensado”. O sexo alimenta o amor.

Helen Fisher, antropóloga da Universidade de Rutgers, EUA, resume a história: “naso pasyo, maya basyo”. É um dito popular do Nepal que quer dizer “pênis entrou, amor chegou”. Sim, a versão nepalesa da famosa rima chula brasileira.

E a queda do desejo? Se antes o amor envolve uma atividade intensa no mecanismo de recompensa, depois ele acalma. Quando essa atração louca diminui, vem o que Fisher chama de “ligação”, sentimento mediado pelos hormônios vasopressina e ocitocina. Com o tempo, a importância do sexo cai. Mas não deixa de existir.

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5. Siga o seu coração

conselhos
(Pedro Piccinini/Superinteressante)

No início de um relacionamento, os altos níveis do neurotransmissor dopamina, ligado ao prazer, fazem a atenção se focar nas características positivas da pessoa, ignorando as negativas. Isso é agravado pelo pensamento obsessivo causado pela queda de outra substância, a serotonina.

O resultado, segundo Helen Fisher, é ânsia, compulsão, distorção da realidade, dependência física e emocional, mudança de personalidade e perda de autocontrole. Piração total. Queremos loucamente alguém sem entender exatamente quem ele é.

Mas, como viver nas alturas consome tempo e energia demais para se dedicar a outras atividades, esse período de novidade passa – em sete meses, segundo Fisher, ou em pouco mais de dois anos, segundo Andreas Bartels, da University College de Londres.

Com a paixão indo embora, a atenção se volta às incompatibilidades antes ignoradas. E aí podemos seguir o coração e buscar de novo aquele delicioso frio na barriga. Assim, seguir o coração pode levar a um ciclo de príncipes encantados que viram sapos. É por isso que todo mundo tem um conhecido que está sempre de namoro novo. Essa falta de pé no chão prejudica as chances de construir uma relação mais estável. Não que isso seja obrigatório. Longe disso.

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6. Arrume um namorado

Há bons motivos para alguém evitar um relacionamento estável – sonhos mais individuais, estabilidade financeira antes de ter filhos etc. Isso não significa que tais pessoas sejam solitárias, como verificou um estudo da Universidade Cornell, EUA.

Os pesquisadores pediram a 2,7 mil solteiros que avaliassem seu contato com pais e amigos. Após seis anos, repetiram a pergunta. Quem casou se distanciou da família e dos amigos. Estavam casados, tinham companhia, mas ao mesmo tempo se isolaram – o que não aconteceu com os solteiros.

Outro estudo feito em seis países com pessoas de 65 anos concluiu que, enquanto homens solteiros de fato acabam com uma rede de apoio mais restrita que os casados, com as mulheres é o contrário. Sem marido ou filhos, solteiras se preparam ao longo da vida para evitar a solidão mantendo contato com parentes e amigos. Já as casadas se dedicam a marido e filhos, que nem sempre mantêm contato no futuro. Ser solteiro não significa ser solitário. Na verdade, muitas vezes pode ser o contrário.

7. Escolha uma profissão que você ame

conselhos
(Pedro Piccinini/Superinteressante)

Em 2005, Steve Jobs defendeu, em seu famoso discurso a formandos da Universidade Stanford, EUA, que eles fizessem algo que amassem. “Se não tiverem encontrado, continuem procurando”, disse. Mas se o jovem Steve tivesse seguido seu próprio conselho, provavelmente acabaria como um dos melhores professores do centro espiritual Zen de Los Altos, afirma Cal Newport, autor do livro So Good They Can’t Ignore You (“tão bom que não podem ignorá-lo”, sem versão no Brasil).

Na faculdade, seu interesse não eram os negócios nem a eletrônica, mas história e misticismo oriental. Em pouco tempo, Jobs abandonou os estudos, foi para um templo hare-krishna, fez retiro espiritual na Índia. Isso tudo influenciaria sua maneira de ver o mundo e de conduzir a Apple, claro, mas a empresa não brotou dessa sua paixão. Ela nasceu da sorte de criar com um amigo talentosíssimo, Steve Wozniak, um esquema de montagem de placas de circuito que funcionou e decolou graças ao estilo visionário e vendedor de Jobs.

O fato é que, exceto o caso dos poucos que nasceram para a coisa certa, para os demais esse conselho não vale nada – e por vários motivos. Ainda que você admire uma profissão, isso não significa que tenha talento para ela, nem que na prática ela seja do jeito que você imagina ou que ela vá trazer boas oportunidades profissionais.

Muitos agrônomos acabam atuando como vendedores de agrotóxicos, arquitetos fazem mais reforma do que projetos bacanas, fotógrafos registram mais imagens para cardápios do que para editoriais de moda, engenheiros não constroem nada além de planilhas.

“O início de uma carreira fantástica pode não parecer nada fantástico”, diz Newport. “Essa realidade bate de frente com um mundo fantasioso em que existe um trabalho perfeito, que você amará logo de início”. Aí mora o problema.

A busca pela paixão no que faz pode levar a uma desilusão precoce. Pulando fora cedo, não dá tempo para desenvolver habilidades e ficar bom naquilo. Sem se tornar bom, as chances de brotar uma possível paixão pelo trabalho vão pelo ralo.

8. Não fique com gente do trabalho

O caminho mais comum para começar um relacionamento é se apaixonar por um colega – seja de estudos, seja de trabalho –, concluiu uma pesquisa do psicólogo Ailton Amélio, da USP. E há boas razões para isso.

Um relacionamento não amoroso permite conhecer melhor um futuro parceiro, seja para descobrir características que não se observam à primeira vista, seja para derrubar a fachada que pessoas criam para parecerem o par ideal. O convívio no trabalho ou na aula permite conhecer pessoas mais reais do que em uma festa.

Onde surge o amor*

  • 37% – lugares onde pessoas já se conheciam (escola, faculdade, trabalho, academia)
  • 32% – intermédio de um conhecido em comum
  • 20% – flertes com desconhecidos
  • 6% – outras situações
  • 4% – encontro acidental
  • 1% – algum serviço de relacionamento

*Fonte: O Mapa do Amor, de Ailton Amélio

9. Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje

Trabalhar demais emburrece. Um estudo da University College London com mais de 2 mil funcionários públicos ingleses concluiu que, comparando testes de cognição feitos em um intervalo de cinco anos, pessoas que trabalham mais de 11 horas por dia tiveram uma queda maior de memória de curto e longo prazo, raciocínio abstrato, criatividade e solução de problemas em relação a quem segue uma jornada de oito horas. Uma razão para isso é que quem trabalha por muitas horas deixa de praticar outras atividades importantes para a saúde mental.

Mas o que fazer se a carga de trabalho for muito grande? Bom, a resposta não está em quanto, mas em como se trabalha. Passar muitas horas na labuta não é sinônimo de produtividade. Pode ser, na verdade, o contrário. Workaholics trabalham mais não por produzirem mais e melhor, mas porque precisam de mais tempo para produzir a mesma coisa, seja por serem controladores que não conseguem trabalhar em equipe, seja por estabelecerem expectativas irreais.

Isso, segundo o psicoterapeuta Bryan Robinson, autor de Chained to the Desk (“acorrentado à mesa”, sem versão para o Brasil), é um tiro no pé. “Eles criam estresse e desgaste para si e para seus colegas, causando baixo estado de ânimo, falta de harmonia, conflito interpessoal, baixa produtividade, perda de criatividade e de cooperacão e absenteísmo por conta de doenças relacionadas ao estresse.”

Quem é viciado em trabalho já sentiu isso. O melhor, portanto, não é fazer tudo hoje, mas estabelecer prioridades, delegar tarefas – e não abrir mão de sua vida. Só assim você estará 100% amanhã.

As 4 faces dos workaholics*

O implacável

Não sabe dizer “não”. Assume mil responsabilidades sem conseguir priorizar o que importa nem delegar tarefas a outras pessoas. Com tanta coisa a fazer em pouco tempo, acaba deixando passar muitos erros.

O bulímico

Por ter autoestima baixa, cria expectativas altas demais de como devem ser seus resultados. Isso lhe dá medo de começar projetos e, quando começa, trabalha à exaustão, extremamente preocupado com o risco de cometer erros.

O desatento

Tem prazer com muitas ideias e, assim, começa uma imensidão de projetos. Porém, sente-se enfadado quando precisa levá-los adiante. Acaba fazendo tudo sem muito empenho, pensando em outras coisas.

O degustador

Detalhes o preocupam tanto que ele acaba paralisado, reescrevendo a mesma frase, rechecando algo. Como acha que ninguém será cuidadoso como ele, não consegue passar o bastão.

E aí, você se identificou com algum perfil?

*Fonte: Chained to the Desk, Bryan Robinson

10. Seja mais extrovertido

conselhos
(Pedro Piccinini/Superinteressante)

Você quer crescer na sua carreira, mas acha que é introvertido demais para ter um cargo de liderança? Balela. Embora esse tipo de vaga tenda a favorecer personalidades dominantes e expansivas, líderes extrovertidos têm uma fraqueza, segundo Adam Grant, professor de administração da Universidade da Pensilvânia, EUA.

Em ambientes com funcionários que tomam mais iniciativa, eles se sentem ameaçados. Por isso tentam ser o centro das atenções e podem empurrar decisões goela abaixo. Já líderes introvertidos tendem a ouvir mais calmamente e a ser mais receptivos a sugestões quando o time sob sua responsabilidade é mais assertivo.

11. Não perca tempo com fofoca

Nem toda fofoca é maliciosa. Quando consiste em avisar sobre pessoas pouco confiáveis, ela promove a cooperação e desestimula o comportamento antissocial.

Foi o que concluiu uma série de experimentos da Universidade de Berkeley, EUA, com 200 pessoas que participavam de jogos de cooperação envolvendo dinheiro. Quando um participante via outro jogando por interesse próprio, sentia-se frustrado e tinha os batimentos cardíacos acelerados.

Ao compartilhar isso com outras pessoas no jogo, sua frustração diminuía e o batimento cardíaco desacelerava. E, de quebra, ele barrava estratégias egoístas no jogo. Ou seja, espalhar que há alguém fazendo algo errado diminui a ansiedade e melhora o sentimento de cooperação.

12. Curta o momento

Há uma razão simples para que sexta-feira seja mais legal do que domingo – às vezes esperar por alguma coisa é melhor do que experimentá-la. A razão básica é a dopamina (de novo ela).

Quando recebemos o sinal de que acontecerá algo prazeroso, é liberada em nosso cérebro uma dose de dopamina – e assim sentimos prazer antes da recompensa. Feche os olhos e pense agora no Carnaval chegando. Ou em outra coisa que dê prazer, se você não for do Carnaval. Até aí, nada de novidade.

Mas, segundo o neurocientista Robert Sapolsky, de Stanford, estudos com macacos mostram que a dose de dopamina atinge seu pico não quando há a certeza, mas quando há 50% de chance de que o sinal leve à recompensa.

É a razão por que uma partida do Brasil contra o Japão é muito menos esperada do que uma contra a Espanha. Afinal, teoricamente, é mais difícil saber se ganharemos da Espanha do que do Japão. Melhor do que fazer é aguardar. E melhor do que aguardar é ter esperança. Torcedores que o digam.

13. Siga a sua intuição

A ideia que rendeu ao psicólogo Daniel Kahneman o prêmio Nobel de Economia em 2002 é simples: a mente funciona com dois sistemas, um intuitivo e outro racional. E, contrariando o senso comum, quem manda na maioria das nossas escolhas é a intuição.

Isso porque, seja na savana africana, seja em uma metrópole moderna, precisamos tomar muitas decisões em muito pouco tempo. Se parássemos para pensar em cada problema, acabaríamos mortos – ou por um leão ou por um carro. Afinal, o raciocínio precisa de tempo e de informações que nem sempre estão à disposição – e em algumas situações não podemos apenas dizer “não sei”.

Já a intuição oferece respostas imediatas substituindo uma questão complexa pela associação mais próxima. O problema é que isso nos leva a erros crassos. Imaginemos Bruno, um homem tímido de 30 anos, organizado e detalhista. É mais provável que ele seja um camponês ou um bibliotecário? Se levarmos em conta que o Brasil tem mais de 5 milhões de estabelecimentos agrícolas e menos de 5 mil bibliotecas, a chance de ser camponês é bem maior, certo? Mas a intuição diz o contrário – afinal, as características de Bruno se encaixam perfeitamente no estereótipo de bibliotecários.

Bom, na vida encaramos dilemas bem mais relevantes do que a profissão de Bruno – um pedido de demissão, outro de casamento, onde investir, o que vestir… Quando você estiver diante de uma questão importante, o melhor é deixar a intuição de lado e colocar a cabeça para funcionar. Porque ela é cega, burra e medrosa.

Os 5 tópicos do erro

Por que a intuição pode passar a perna em nós.

1. Primeiras impressões

Por mais que se possa provar o contrário, elas ficam.2. Estereótipos

A intuição se baliza por representações – se algo se encaixa no modelo de um grupo, logo é parte dele.

3. Emoções

Quando uma opção traz medo (como voar de avião), ela parece ser mais perigosa que uma alternativa de maior risco (como andar de carro).

4. Memória pessoal

Uma história bem contada é lembrada com mais facilidade, ainda que possa ser fictícia ou pouco comum.

5. Coincidências

Duas coisas que acontecem juntas parecem ter uma relação de causa e efeito, ainda que isso não seja verdade – tal como o frio e a gripe.

14. Pense positivo

Não precisa querer ser otimista – já somos inatamente predispostos a isso. Só para ter ideia, em uma pesquisa feita nos anos 80 com estudantes americanos, 93% se consideravam melhores motoristas do que a média – ainda que seja impossível que a maioria das pessoas seja melhor do que a maioria das pessoas.

O problema é que nosso cérebro é bem seletivo na hora de aprender fatos – ele codifica as informações desejáveis, mas não as indesejáveis. Se ouvirmos falar do sucesso fortuito de Eike Batista, por exemplo, pensaremos que isso também pode acontecer conosco – ignorando que as condições que o levaram ao sucesso não são tão simplesmente reproduzíveis.

Já quando vemos informações negativas como taxas de risco de câncer, divórcio e acidentes, não incorporamos essas informações – ou ao menos achamos que nosso risco é menor. Quem acha, de verdade, que pode sofrer um grave acidente a qualquer hora?

A neurocientista Tali Sharot, da University College London, pediu para que voluntários estimassem qual o risco de passarem por uma série de eventos negativos – câncer, divórcio, demissão, pedra nos rins… Depois, deu-lhes as estatísticas reais e perguntou novamente qual o risco.

Se uma pessoa respondesse que as chances de ter uma úlcera era de 25% e depois fosse informada que a estatística correta é de 13%, ela tenderia a se aproximar da realidade, atualizando o risco pessoal para algo como 15%. Já quem respondesse, por exemplo, 5%, aumentaria pouquíssimo o risco pessoal – ou simplesmente ignoraria a informação passada.

Ao verificar imagens de ressonância magnética do cérebro dos participantes, Sharot viu que quando a realidade era melhor que a previsão, havia uma maior ativação de partes envolvidas no planejamento e análise de consequências futuras. Quando a realidade era pior, essa ativação era muito menor. Ou seja, aprendemos o que nos convém.

Esse otimismo inato nos serve por razões simples – ele nos poupa de antecipar a dor e as dificuldades que o futuro pode trazer. Tudo maravilhoso. Mas há um problema. Isso nos faz subestimar nossos riscos e acabar tomando decisões imensamente tolas.

Pessoas põem seu dinheiro em esquemas financeiros duvidosos e fazem sexo sem proteção, governos subdimensionam os gastos em projetos, e bancos fazem empréstimos sem ter a certeza de que pessoas sem renda e sem bens possam honrar suas dívidas.

O que fazer então? Usar duas ferramentas com as quais evoluímos – otimismo e pessimismo, ao mesmo tempo. Ter um pé em cada um é o melhor para não cair em enrascadas.

15. Seja perseverante, você conseguirá

O mecanismo básico da motivação é o circuito de recompensas do nosso cérebro. Quando você tem uma expectativa e percebe no ambiente algum sinal de que conseguirá esse objetivo, há uma liberação do neurotransmissor dopamina, aquele que causa prazer.

Já quando você espera algo e não recebe, o nível de dopamina cai tremendamente – o que dá uma tristeza forte, tal como quando você tem vontade de doces (ou de sexo, cigarro, aumento de salário, fuçar a vida de alguém no Facebook…), mas não tem nada disso por perto.

Se você repetir para si mesmo “seja algo”, o resultado será óbvio – frustração em cima de frustração. Você não virará chefe, não enriquecerá, não alcançará o que considera sucesso e acabará deprimido.

O que fazer então? Estabeleça pequenos passos factíveis. A cada pequeno resultado conquistado, terá a dose necessária de motivação para dar o passo seguinte rumo a um objetivo maior – e realista.

16. Pare de se remoer

A resposta da depressão pode estar em Darwin, que não fazia nada em um a cada três dias desde a morte da filha. “Farei pouco mais que me contentar em admirar os avanços dos outros”, disse em sua autobiografia.

Não foi nada disso, o que se reflete na hipótese defendida pelo psiquiatra Andy Thompson e o psicólogo evolucionista Paul Andrews. Segundo eles, na maioria dos casos, depressão é uma resposta evolutiva engatilhada por um problema complexo, como perder a filha.

Perde-se o prazer em trivialidades que possam atrapalhar um projeto maior. Em vez de incapacitar, o sofrimento acelerou sua pesquisa – e Darwin chegou à teoria da evolução. E ele não é um caso isolado. Escritores e artistas têm até dez vezes mais depressão que a população em geral, diz a Associação Americana de Psiquiatria.

17. Ouça meu conselho

Quer ajudar alguém a tomar a melhor decisão? Ofereça informações em vez de conselhos, concluiu um estudo da Universidade George Manson, EUA. Psicólogos testaram em centenas de estudantes quatro tipos de intervenções – conselhos a favor e contra uma opção, fornecimento de informações que contribuam para a escolha, e ajuda a encontrar meios para a decisão.

Dessas estratégias, trazer informações novas foi considerado o melhor dos métodos. Isso porque o conselho tem um lado ruim – ele faz a pessoa sentir que perdeu um pouco de sua independência ao fazer a escolha. Já informações não só mantêm o senso de autonomia e aumentam a confiança na escolha própria como também trazem ajuda para decisões futuras na mesma área.

Portanto, se for sair distribuindo conselhos por aí, dê também informações a respeito, como as dessas páginas. E, aí sim, feliz ano novo.

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