André Bernardo
Um terço dos pais brasileiros nunca falou com seus filhos sobre sexo, descobriu um estudo da Unesco com milhares de estudantes, pais e professores de 13 capitais brasileiras. Isso fica ainda pior quando o assunto são doenças sexualmente transmissíveis – mesmo em Porto Alegre, a capital onde os pais se sentem mais esclarecidos sobre o assunto, 30% dizem não ter sequer conhecimento suficiente para orientar os filhos. No final das contas, o único tema que os pais dominam é gravidez. “Infelizmente alguns ainda pensam que educar sexualmente o filho é colocar um preservativo na carteira dele”, diz a psiquiatra Carmita Abdo, do Programa de Estudos em Sexualidade da USP. E quando, então, os pais deveriam começar a falar sobre sexo? Hoje a idade média são os 11 anos. Mas isso não é o suficiente. “O interesse dos jovens por temas ligados ao sexo tem começado cada vez mais cedo. Na pré-adolescência, entre 9 e 12 anos, o filho já precisa estar preparado para as mudanças que vão ocorrer em seu corpo”, diz a psicopedagoga Quézia Bombonatto. “Se os pais ainda não tiverem falado sobre sexo com o filho, a sociedade ou os amigos deles já devem ter conversado – e de uma forma que talvez eles não tenham entendido.” Ou seja, se pais não gostam do que seus filhos veem na televisão ou na internet, é melhor serem mais rápidos. E tem mais. Quando viram adolescentes, os filhos consideram a vida sexual um assunto privado (leia na página 58). Se tiverem dúvidas ou partirem para a prática, os pais serão as últimas pessoas a quem vão recorrer.
Com quem dá para falar?
As principais fontes de informação sobre sexo entre os jovens brasileiros
Transa
41,3% amigos
35,1% pais
24,6% professor
Gravidez
43,2% pais
35,1% professor
23,4% amigos
DST
52,6% professor
33,7% televisão
31,6% pais
Mocinha no escuro
Até a primeira menstruação ainda é tabu em parte das famílias
Parte considerável das mães brasileiras não fala com as filhas nem sequer sobre menstruação – mesmo quando ela desce pela primeira vez. Isso depende do nível educacional da mãe. Vejamos o caso de meninas cuja mãe não tem ensino fundamental completo. Delas, 37% nunca conversaram sobre isso. No caso de mães com ensino médio ou superior, a situação melhora, mas não por completo. De cada 10, sete passaram pela conversa antes da primeira menstruação, duas, somente depois, e uma, jamais.
Nordeste se cala, sudeste abre o jogo
Porcentagem das famílias que conversam sobre sexo, por capital
83% Rio de Janeiro
51% Fortaleza
67% Recife
69% Belém
74% Cuiabá
76% Manaus
82% São Paulo
82% Porto Alegre