A Veneza de esquerda
Giudecca, Veneza, Itália. Uma antiga ilha operária que resiste aos milhões de turistas que invadem a vizinha famosa. Mas eles estão chegando
Luiz Romero
A praça de são marcos parece calma vista de Giudecca. Turistas passeiam, como sempre. Fazem parte do exército de 20 milhões de pessoas que vêm a Veneza todo ano. Aqui, silêncio da periferia. Afinal, Giudecca, uma das dezenas de ilhas da Lagoa de Veneza, não é fotogênica como a irmã mais velha.
Num passado distante, ela foi retiro de lazer de nobres. Depois, virou uma cidade de fábricas, erguidas a partir do final do século 19. Com os operários, veio a política e, se Veneza tinha uma veia de esquerda forte, em Giudecca ela era mais intensa, com bancas de jornal distribuindo o L’Unità, antigo periódico do Partido Comunista Italiano, fundado pelo teórico marxista Antonio Gramsci.
O tempo passou, os trabalhadores se mudaram no pós-guerra para um novo bairro operário e a maioria das fábricas fechou. Hoje, Giudecca é uma ilha-dormitório de venezianos – dos que restam, já que nos últimos 30 anos a população da lagoa vem caindo, por conta do alto custo de vida e do excesso de turistas. Caminhando pela única avenida e pelos canais arteriais, é possível ver antigos símbolos do passado operário, como a cervejaria, a tecelaria e a fábrica de relógios. Gramsci, Che Guevara e Fidel Castro estão na fachada da sucursal do Partido da Refundação Comunista.
A aura de esquerda resiste. No verão, habitantes protestam com placas contra cruzeiros lotados. Mas os ventos parecem mudar de novo. O antigo moinho de farinha virou um hotel Hilton. Outras redes já fincaram bandeira na ilha. Casas são divididas por dentro, multiplicando quartos para atender à crescente demanda. Se Giudecca ainda olha calma o outro lado do canal, agora os turistas estão olhando de volta.
QUANDO – Sempre, menos no verão, quando Veneza recebe a maioria dos 650 cruzeiros que visitam a cidade por ano – alguns com quase 5 mil pessoas.
Imagem: Gettyimages
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