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As últimas provas corrigidas recebem notas menores – e é culpa do cansaço do professor

Em um teste com 30 milhões de provas, alguns alunos eram prejudicados pelos seus sobrenomes. Eles ficavam no fim da lista de chamada e suas provas eram corrigidas por um professor cansado e estressado.

Por Leo Caparroz
29 abr 2024, 18h00

Corrigir provas dá muito trabalho – e quanto maior a turma, maior o esforço. Com tantas questões e tantos testes, pode ser difícil para o professor dar notas consistentes para todos os estudantes. Uma nova pesquisa comprovou a suspeita de muitos professores e alunos de que as notas das provas dependem também da ordem em que elas foram corrigidas.

As provas que ficam no fim da fila e são corrigidas por último tendem a ter notas menores e comentários mais negativos do que as que foram primeiro. É o que descobriu um grupo de pesquisadores da Universidade de Michigan, nos EUA, que analisaram 30 milhões de registros de notas do Canvas, tirados de uma grande universidade pública nos Estados Unidos.

Canvas é um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Trata-se de uma plataforma educacional que permite às escolas, faculdades e universidades gerenciarem recursos de aprendizagem online – é um portal que reúne todo o conteúdo do curso, aulas diárias, tarefas, testes, comentários de feedback e notas. 

Segundo os pesquisadores, até o final de 2020, o Canvas era o AVA primário de 32% de todas as institiuições de ensino superior nos Estados Unidos e Canadá. O objetivo do estudo era examinar como a ordem das tarefas no momento da correção prevê as notas, educação dos comentários do professor, dúvidas pós-correção e solicitações de reavaliação pelos alunos.

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O estudo mostrou que, sim, as provas avaliadas por último tendiam a receber notas mais baixas. Por exemplo, entre as 50as e 60as tarefas corrigidas, as notas eram 3,5 (de um máximo de 100 pontos) menores do que as dez primeiras. Além disso, os comentários dos professores sobre as tarefas ficavam progressivamente mais negativos e menos educados. 

E não é uma grande coincidência: os alunos com tarefas avaliadas por último eram os mais propensos a fazer perguntas e os que mais questionavam as notas depois da entrega – o que indica menor qualidade de avaliação. Especificamente, os alunos avaliados na ordem 50-60 tinham 5 vezes mais chance de enviar uma solicitação de reavaliação em comparação com os dez primeiros avaliados.

Essa discrepância na avaliação foi percebida de um jeito curioso: os alunos com sobrenomes que começavam com as últimas letras do alfabeto tinham notas piores. Eles não são maus alunos, é que o sistema de avaliação do Canvas ordenava as provas a serem corrigidas por ordem alfabética, e os estudantes que ficavam no fim saiam prejudicados.

Sendo assim, alunos com sobrenomes começando com A, B, C, D e E, tiveram notas ligeiramente maiores quando o sistema de correção era ordenado alfabeticamente do que quando era aleatório. Enquanto os alunos no final da lista sentiram as notas caírem um pouco.

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Quando os pesquisadores viraram a tabela de ponta cabeça, perceberam que o efeito também acompanhou a mudança: se a lista era invertida, eram os alunos com sobrenomes em T, U, V, W, X, Y e Z que tinham notas mais altas.

Trabalho dá trabalho

Talvez você já imagine o principal culpado dessa diferença: o cansaço. Corrigir trabalhos é exaustivo e, depois de ler várias e várias respostas, a tarefa vai ficando mais estressante e a paciência vai diminuindo – o que pode deixar o corretor menos tolerante com notas e mais ríspido com comentários.

“Suspeitamos que a fadiga é um dos principais fatores que provocam esse efeito, porque quando você trabalha em algo por um longo período de tempo, você fica cansado e começa a perder a atenção e suas habilidades cognitivas são prejudicadas”, disse Jiaxin Pei, um dos autores do estudo.

Segundo os pesquisadores, esse viés sequencial era mais presente nas ciências sociais e humanidades, impactando menos disciplinas como engenharia, ciências exatas e medicina. A hipótese é de que os trabalhos em humanas sejam mais abertos à interpretação e, portanto, mais difíceis de avaliar. Por outro lado, provas em engenharia costumam ser mais específicas e menos subjetivas.

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