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Bilocação: O mito do sósia fantasma

Você consegue estar em dois lugares ao mesmo tempo? Hummm... talvez não seja um bom negócio...

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h51 - Publicado em 30 abr 2005, 22h00

Alexandre Petillo e Giselle Vanessa

Doppelganger é uma palavra alemã usada para se referir ao “fantasma” de uma pessoa viva. Etimologicamente, ela vem de doppel (duplo) e ganger (que anda). Embora soe estranha, a palavra é mais comum na cultura mundial do que se imagina. O termo é utilizado em dezenas de jogos de RPG. Também já apareceu freqüentemente na literatura. Seu representante mais famoso é o Retrato de Dorian Gray, do irlandês Oscar Wilde (1854-1900). Nesse romance, Dorian Gray, um rapaz da alta sociedade londrina, posa para um amigo pintor. Ao ver a obra pronta, Dorian manifesta o desejo de permanecer eternamente jovem, como no retrato. Dito e feito. Dorian vende sua alma para conservar seus traços da juventude – mas é o retrato que envelhece.

O mito do doppelganger está associado à teoria bizarra do “gêmeo mau” e também ao fenômeno da “bilocação” (estar em dois lugares ao mesmo tempo). Segundo a literatura parapsicológica, o duplo etéreo seria formado de um tipo de matéria mais rarefeita ou mais sutil do que os nossos cinco sentidos são capazes de perceber, mas ainda é matéria pertencente ao plano físico. Seria a contraparte exata do nosso corpo físico denso, ao qual pertence mas do qual seria separável, embora incapaz de ir muito longe.

Apesar de ser uma contraparte idêntica e quase independente, o doppelganger manteria união intrínseca com sua metade de carne e osso. Assim, um ferimento causado no corpo etéreo se refletiria no corpo físico. No entanto, quanto mais o corpo etéreo existir, mais debilitado o corpo físico ficaria. O americano Henry Steel Olcott, fundador da Sociedade Teosófica, uma instituição filosófica cujo lema é “não há religião superior à verdade”, escreveu há mais de um século uma tese chamada Posthumous Humanity (“Humanidade Póstuma”), na qual tentou explicar fenômenos desse tipo: “A separação do duplo etéreo do corpo denso geralmente é acompanhada de um considerável decréscimo na vitalidade do último, ficando o duplo mais vitalizado à medida que a energia no corpo denso diminui”, escreveu. Essa separação, segundo Olcott, pode levar à morte do sujeito. “É muito perigoso fazer qualquer ruído ou pancada repentina na sala, em tais circunstâncias; pois o duplo, sendo por reação instantânea trazido de volta ao corpo, faz o coração contrair-se convulsivamente, e a morte pode mesmo ser causada.”

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Alguns relatos de doppelganger se tornaram clássicos. A mais conhecida história envolve Emilie Sagée, uma professora de francês na Letônia. Em 1845, diversos alunos teriam visto Emilie “bilocar”. Certo dia, sua sósia teria sido vista ao lado dela, imitando seu gesto de escrever no quadro-negro, mas sem usar o giz. Em outra ocasião, a sósia teria sido vista parada, enquanto a Emilie de carne e osso caminhava. O curioso é que a própria Emilie disse nunca ter visto seu duplo etéreo.

“Escreve aí”

Figuras célebres também relataram ter encontrado seu sósia fantasma. Já no final da vida, o escritor francês Guy de Maupassant (1850-1893) se disse perseguido pelo seu doppelganger. Certa vez, seu sósia teria entrado no seu quarto, se sentado diante dele e começado a ditar o que Maupassant estava escrevendo. A sensação de ser vigiado pelo duplo é narrada no conto “O Horda”, presente no livro O Horda e Outras Histórias (L&PM, 2000).

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Consta também que o poeta alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) cavalgava um dia por uma estrada, quando teria visto um outro homem – seu sósia perfeito – vindo em sentido contrário, também montado a cavalo e vestindo um traje cinza com detalhes em dourado. Oito anos mais tarde, Goethe cavalgava novamente pela mesma estrada, mas no sentido contrário. Foi quando teria se dado conta de que estava vestindo uma roupa semelhante à do sósia que vira oito anos antes. Teria Goethe vislumbrado seu próprio futuro?

O mito do duplo etéreo também é freqüentemente explorado no cinema. Por exemplo, no filme Pacto Sinistro (1951), de Alfred Hitchcock, o mestre do suspense utiliza diversas metáforas visuais para sugerir o encontro de duplos. Em uma cena, o personagem Bruno pede dois drinques duplos, mesmo estando sozinho na tela.

De acordo com estudiosos que se dedicam ao tema, os duplos etéreos apareceriam, em geral, para avisar o próprio sósia ou seus familiares e amigos de tragédias iminentes. Eles poderiam, em muitos casos, plantar idéias maléficas na mente dessas pessoas. Ou seja, caso você encontre seu sósia por aí, por mais que ele lhe pareça familiar e simpático, é melhor não lhe dar ouvidos.

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