Richard Leakey
Se alguém tivesse perguntado ao pequeno Richard o que queria ser quando crescesse, ouviria a profética frase: “caçador de fósseis”. Era de se esperar, já que nascido e crescido num paraíso antropológico, o nordeste da África, onde seus pais fizeram notáveis descobertas nos anos 50 e 60. Segundo filho da arqueólogo e antropólogo queniano Louis Leakey, filho de missionários ingleses, Richard passou a infância correndo entre restos desenterrados de ancestrais do homem. Certa vez, aos 6 anos de idade, aborrecido por não participar das buscas, recebeu o convite do pai. “Venha pegar sue próprio osso!” Minutos mais tarde encontrou seu primeiro fóssil, uma mandíbula completa do porco gigante extinto, Notochoerus Andrewsi, com meio milhão de anos.
Depois de algum tempo pensando em dar outro rumo à vida, acabou fascinado pela Antropologia. Nascido em Nairóbi, capital do Quênia, em 1944, ele chega aos 49 anos, em 19 dezembro próximo, como um homem de sucesso. E não apenas em sua profissão, como também no mundo do glamuroso dos grande cientistas dos grandes cientistas, que o transformou numa estrela de seriados científicos na televisão. Mas a tarefa que mais o maior desafio que já enfrentou. “Quando me impus essa tarefa, em 1989, o comércio do marfim despencou e o país arrecada 150 milhões de dólares destinados à construção de estradas e de abrigos para uma frota de vigilância aérea. Mas seus problemas não foram apenas de ordem administrativa. O confronto com os caçadores ainda significa risco de vida, como conta Leakey no prefácio de um novo livro publicado no final do ano passado. “Vivo cercado por lembranças do perigo: soldado armados protegem minha casa e guarda-costas me acompanham sempre que saio de carro.” Ele já não pode se dedicar como antes à caça de fosseis – “que foi e continua sendo o primeiro amor de minha vida”. Ainda assim, considera uma honra ter sido apontado para a nova tarefa, em 1989, pelo então presidente Daniel arap Moi.
Uma coisa é certa: o que nunca lhe faltou foi ambição e persistência para atingir seus objetivos. Em 1967, por exemplo, ele convenceu a National Geographic Society americana a financiar uma viagem ao lado leste do Lago Turkana, no norte do Quênia. Foi uma audácia, pois Leakey tinha então apenas 23 anos e, ainda mais grave, era autodidata, não possuía título acadêmico. A instituição pagou para ver, mas valeu a pena. Entre os 400 ossos encontrados, estava o crânio 1470, um fóssil decisivo para sua carreira. “Ele me fez famoso, da mesma forma que, em 1959, meu pão ganhou celebridade por ter descoberto o Zinjanthropus”. Foi o primeiro fóssil do gênero mais tarde batizado Australopithecus. O crânio desenterrado por Richard foi um hominídeo do gênero Homo.
Na década seguinte, o cientista realizou a série de expedições que culminou nos grandes êxitos de 1984. Especialmente o achado do menino de Turkana, um esqueleto quase completo que lhe valeu a capa da revista americana Time e um lugar definitivo entre os grandes antropólogos do século. Mas apesar de ter alcançado a glória graças à habilidade em achar ossos, ele diz que não se deve pensar que um macaco subitamente se tornou homem apenas porque passou a andar com duas pernas. Para ele, a evolução é muito mais que isso: representou mudanças no comportamento, na linguagem e na fabricação de objetos. Ou seja, em toda a cultura.