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Canções de ninar e músicas de amor são elementos universais

Voluntários ouviram músicas de 86 culturas diferentes. E adivinharam se elas eram usadas para declarar amor ou fazer bebê dormir.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 12 fev 2020, 17h11 - Publicado em 30 jan 2018, 15h43

Alguns psicólogos acreditam que as preferências estéticas do ser humano podem ter ser influenciadas, até certo ponto, pelo ambiente em que o Homo sapiens surgiu e as pressões evolutivas que o moldaram. Todos nós, de índios Huli à família real britânica, teríamos propensão a gostar de pinturas com paisagens abertas, árvores, corpos d’água ou animais – mesmo um século depois da arte geométrica e abstrata do modernismo dominar os museus.

Uma pesquisa publicada na semana passada por pesquisadores de Harvard aplica um raciocínio similar a arte feita com sons. Todas as sociedades – não importa o grau de sofisticação tecnológica – precisam fazer bebês dormir, curar pessoas doentes ou lamentar a morte de entes queridos. É provável, portanto, que as músicas usadas por cada povo para cada uma dessas finalidades tenham características parecidas – e que suas funções possam ser identificadas por pessoas de outros povos.

Para ver se isso acontecesse mesmo – se o príncipe Harry é capaz de identificar uma canção de ninar dos índios Huli – a equipe do psicólogo Samuel Mehr desenvolveu um experimento abrangente. 750 voluntários de 60 países ouviram amostras de música coletadas em 86 sociedades do mundo todo. Os participantes, sem saber de onde vinham as músicas, precisavam tentar adivinhar para que elas eram usadas – dançar, declarar amor etc.

Deu certo: a maior parte dos participantes deduziu corretamente a função de cada peça – os gráficos estão disponíveis no artigo científico, aqui. A alta taxa de acertos contrariou as expectativas de acadêmicos. Antes de realizar o experimento na prática, os autores da pesquisa perguntaram a especialistas em música e cultura – chamados etnomusicólogos – qual eles acharam que seria o resultado. Só 28% deles acreditaram que os voluntários fariam as associações corretas.

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É claro que dedução não é mágica. Na segunda fase do teste, os voluntários, mesmo sem ter conhecimentos sobre teoria musical, precisaram análises breves sobre as características das músicas que ouviram. Coisas básicas: descrever se a música era cantada por uma só voz ou várias, se os cantores eram homens ou mulheres, se as melodias eram simples e complexas, e se o ritmo era rápido ou lento. A ideia era encontrar justificativas para as escolhas feitas na primeira fase.

O resultado é que determinadas características foram associadas com consistência a determinados tipos de música. Isto é: uma canção lenta e simples, cantada por uma mulher sozinha, é mais frequentemente associada ao ato de fazer um bebê dormir. Já canções com mais vozes e ritmos mais elaborados são imediatamente associadas a situações de dança e festa. 

Conclusão: é claro que a sua ideia do que é boa música é diferente da de alguém da Papua Nova Guiné (em geral, ela é diferente até da do seu vizinho). Mas certas intuições sobre qual tipo de música é adequado a cada situação valem, sim, para todos os seres humanos.

 

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