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Como os heróis salvaram o cinema

Quatro décadas atrás, falar de filme baseado em quadrinhos para o grande público era tabu. Mas hoje esses mesmos personagens são uma poderosa fábrica de dinheiro, impulsionando a tecnologia e enriquecendo os estúdios

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h48 - Publicado em 2 fev 2013, 22h00

Luiz Felipe do Vale Tavares

Vivemos um momento histórico, para não dizer nerdgásmico. Ele será lembrado para sempre pelas futuras gerações de fãs como a década em que os maiores super-heróis ganharam vida para valer na telona.

O enorme sucesso da maioria dessas produções é hoje tão natural que nem podemos imaginar que, há coisa de 15 anos, os grandes estúdios tinham pavor de investir em um filme de super-herói – infantil demais para os adultos e sério demais para as crianças, pensavam os executivos. Foi preciso um esforço monumental dos diretores e roteiristas apaixonados pelo material para mudar esse cenário. E algumas bilheterias estrondosas ajudaram também.

Graças ao trabalho desses cineastas-fãs, os super-heróis se tornaram uma mina de ouro, e não sem motivo. As produções passaram a ganhar tratamento vip, com ótimos atores, excelentes diretores, altíssimos valores de produção e roteiros inteligentes. O resultado apareceu na forma de uma sucessão inédita de filmes divertidos e até mesmo sofisticados para o gênero.

Tome 2012 por base. Três superproduções heroicas estrearam entre abril e julho: Os Vingadores, O Espetacular Homem-Aranha e Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Juntas, elas devem ultrapassar os US$ 3 bilhões de bilheteria no mundo inteiro. Uma soma sem precedentes. No Brasil, até o momento, Os Vingadores é a maior bilheteria da história. Só.

Filmes e filmes

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Os números superlativos demonstram que, diferentemente do que os grandes estúdios acreditavam até cinco anos atrás, o espectador moderno não é aquele ente descerebrado que consome “cinema pipoca” do mesmo jeito que consome a própria pipoca, sem esquentar muito com a qualidade. Ficamos “mal acostumados”, nos últimos anos, com programas de televisão de tramas sofisticadas, como Lost, valores de produção estonteantes, como Game of Thrones, ou mesmo humor muito bem escrito, como em The Big Bang Theory.

Por causa disso, para motivar a galera a tirar a bunda do sofá e voltar às salas de projeção, o cinema moderno teve de se reinventar e, para tanto, quebrar tabus.

Que ninguém se iluda. Filmes de herói são criaturas complexas, difíceis de desenvolver. O universo fantasioso e simplista é muito difícil de adaptar para a realidade que o público exige. E mesmo assim os elementos de fantasia devem ser mantidos até certo grau e, principalmente, respeitados ao extremo, sob pena de espantar os mais apaixonados pelo material original. Com certos dogmas, não se mexe, pois se os fãs se manifestarem contra qualquer elemento do filme que os desagrade, terão em mãos a mais poderosa arma de contrapropaganda jamais criada – a internet. Os efeitos podem ser, e costumam ser, catastróficos.

Basta lembrar a horrenda versão de Mulher-Gato (2004), com Hale Berry, que foi bombardeada sem dó por todos os meios virtuais, ainda em início de produção, quando vazaram as primeiras fotos do ridículo uniforme da heroína. A bilheteria, como resultado, foi catastrófica – o que, aliás, foi bem merecido.

Acertando a mão

Apesar da efervescência recente dos filmes de herói, o “padrão ouro”, por assim dizer, nasceu no longínquo 1978, quando estreou uma produção que contava com um novato como protagonista: Christopher Reeve. Até hoje, ao falar do finado ator, ninguém o associa a outra coisa que não seja a Superman.

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Se a cara do Homem de Aço se confundiu com a de Reeve, a alma teve de vir do diretor Richard Donner. O cineasta, que tem no currículo blockbusters de respeito, como a cinessérie Máquina Mortífera e o clássico dos anos 1980 Os Goonies, entendeu de cara o que era preciso para fazer um filme de herói funcionar. Em essência, o público precisava acreditar no que via.

Pois o primeiro Superman convenceu todo o público de que um homem podia voar. O sucesso foi tão estrondoso quanto merecido: um filme épico, sério, com elenco afiado, magistral trilha sonora e, como não poderia deixar de ser, convincentes efeitos especiais.

Aliás, é impressionante como, 35 anos depois, os efeitos de Superman continuam a nos impressionar pelo apuro técnico. Richard Donner e sua equipe tiveram que inventar novas técnicas, assim como complexos movimentos de câmera, para criar a ilusão do voo do super-herói. Assim, desde o início de suas grandes produções, os heróis empurraram adiante a tecnologia cinematográfica. E o futuro não seria diferente.

Novas fronteiras

Hoje, a computação gráfica é pré-condição para qualquer filme de herói que se preze. E os cineastas começam a dar mais atenção às novas técnicas de filmagem, em especial as inovações do Imax e do 3D.

O Imax é uma aposta para as futuras grandes produções, pela grandiosidade das imagens projetadas na telona. Enquanto os filmes habitualmente são rodados com películas de 35 mm, o Imax usa o dobro desse tamanho, 65 mm, para poder projetar uma imagem de inacreditável qualidade em uma tela gigantesca, que pode chegar ao tamanho de um prédio de quatro andares nas melhores salas. A experiência é vertiginosa.

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A tecnologia Imax já tem seus mais de 30 anos de vida, mas pelas restrições decorrentes do altíssimo custo de produção, além da necessidade de salas especiais com telas gigantescas, passou boa parte de sua vida restrita a documentários e atrações em parques de diversões americanos.

Christopher Nolan, diretor da nova cinessérie do Batman, viu o grande potencial do Imax e deu o pontapé inicial para trazê-lo ao cinema de verdade. Dadas as restrições financeiras, conseguiu filmar apenas 30 minutos de O Cavaleiro das Trevas (2008) com as gigantescas câmeras que a tecnologia exige. Essas cenas, embora poucas, deixaram o público de queixo caído, como no voo do Batman sobre os prédios de Hong Kong.

Na esteira do Homem-Morcego, outros filmes recentes fizeram uso do Imax, como Transformers 2 e Missão Impossível 4, e muitos mais estão por vir.

Mas, como o custo dessa extravagância é ainda muito alto, os grandes estúdios estão optando pelo formato digital (em vez de películas) e, principalmente, pelo 3D, que caiu de vez no gosto do público após a estrondosa revolução que James Cameron trouxe com Avatar, outro campeão de bilheteria.

Mesmo com a pressão dos estúdios para levar cada vez mais filmes 3D ao público (não pelo entusiasmo com a tecnologia, mas pelo fato de os ingressos dessas salas serem mais caros), muitos diretores insistem no bom e velho 2D, com o argumento de que o efeito tridimensional distrai e pouco acrescenta.

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Durante uma entrevista para o Sindicato dos Diretores da América, assim justificou Christopher Nolan sobre sua batalha com os executivos da Warner ao recusar o uso do 3D para o terceiro Batman: “Eles teriam adorado, mas eu disse aos executivos que queria que o terceiro filme fosse esteticamente consistente com os dois primeiros e que usaríamos Imax para criar uma imagem de qualidade altíssima”. Para Nolan, uma boa experiência 3D exige uma imagem menor e mais distante, de forma a preservar o efeito de profundidade. Não é a praia dele. “Eu prefiro a tela grande, olhar para uma tela enorme e com uma imagem que você sente que é maior que a vida. Quando você trata isso com 3D, e tentei em vários testes, você diminui a escala para que a imagem vire uma janela menor, na sua frente.”

Mas o que seria do verde se todos gostassem do azul? Marc Webb, diretor do novo Homem-Aranha, é bem mais entusiasmado com o 3D. “Há um elemento experimental que é fantástico e estamos aplicando-o na elaboração de cenas por meio do ponto de vista do próprio personagem”, diz. “Parte da diversão foi criar o filme pensando na subjetividade, fazer o público se sentir como o Homem-Aranha quando pula entre os prédios.”

Independentemente de qual o formato favorito, o importante é que há justificativas autorais interessantes. Enquanto alguns diretores buscam o Imax pelo caráter épico e grandioso das imagens, outros preferem o 3D pelos truques tridimensionais que colocam o público no centro da ação.

O que é certo é que ambos são tentativas de aperfeiçoar a velha máxima do velho Donner com seu Superman – o público precisa acreditar no que está vendo, tratar o fantástico como realidade. É basicamente nesse conceito de realismo que estão ancorados todos os filmes de sucesso de heróis. Hoje a fórmula está mais que compreendida, e a inovação consiste em fazer mais e melhor.

Entre a roupa e o ator

O realismo, claro, passa pelo figurino. E taí um ponto crítico na elaboração de um filme de herói: a adaptação dos trajes, transpondo o colorido dos quadrinhos à frieza do real.

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Um exemplo interessante é o Capitão América, com seu vestuário original de bandeira americana, um ícone da era do Tio Sam nos anos 1940. O recente filme de 2011 teve a brilhante ideia de trocar a fantasia por um verdadeiro uniforme militar típico da Segunda Guerra Mundial, mas com elementos da bandeira americana, ou seja, o mínimo para identificar o referido super-herói, mas sem exaltar demais a origem nacionalista e, com isso, correr o risco de afastar o público estrangeiro, que banca em geral mais de metade de bilheteria total de um filme de Hollywood.

Outro bom exemplo é o Homem-de-Ferro, que pautou todo o aparato tecnológico do herói como desdobramento do que vemos no dia a dia. Para o público de 10 anos atrás, toda essa tecnologia pareceria exagerada, mas hoje, com nossos celulares e tablets, o mundo de Tony Stark não parece tão distante.

Poucos colocaram fé sobre a possibilidade de sucesso de um filme do Homem-de-Ferro, um herói pouco conhecido do grande público. A arma secreta foi a inspiradíssima escalação de um carismático e talentoso Robert Downey Jr. para interpretar o herói. E deu tão certo que ele, sozinho, carregou o filme nas costas. O público adorou, e a bilheteria foi tão grande que possibilitou a materialização do sonho de todo fã de quadrinhos, um filme com a união dos maiores heróis da Marvel, Os Vingadores, composto de Homem-de-Ferro, Capitão América, Thor e Hulk.

A editora de quadrinhos, travestida de estúdio (sim, a Marvel abriu uma divisão de cinema só para cuidar do projeto!), arquitetou um plano ambicioso que culminou com o filme deste ano. Em vez de partir atabalhoadamente para o objetivo final, o próprio filme dos Vingadores, optou pela produção de produções individuais de cada um dos heróis, isoladamente, com deliciosos ganchos ao final dos créditos que serviam de chamariz para a iminente reunião.

A Marvel foi muito esperta, pois o sucesso de Os Vingadores dependia dessa construção lenta e gradual do seu universo, para “catequizar” o público moderno, que nada ou pouco conhecia desses heróis. O resultado não podia ter sido melhor: o filme do grupo já arrecadou mais de US$ 1,5 bilhão nas bilheterias do mundo todo e se tornou uma sensação.

Hoje a Marvel tem todos os motivos para comemorar, mas sua principal rival, a DC, ainda patina na lama no que diz respeito ao cinema. Embora a recente cinessérie do Batman, sob a batuta de Nolan, tenha sido um grande sucesso de crítica e público, ainda é um caso isolado, enquanto outros heróis da DC naufragaram feio nas bilheterias, como o recente Lanterna Verde. Para o ano que vem, a Warner (dona da editora) nos oferecerá um novo e remodelado Superman e, para garantir a qualidade, o colocou nas mãos de Nolan como produtor. Não descartemos que a DC planeja também, para o futuro próximo, a sua reunião de heróis, a Liga da Justiça.

Ou seja, o futuro parece melhor do que nunca para um gênero que, segundo os sábios críticos, já nasceu praticamente esgotado em 1978.

US$ 3 bi de bilheteria no mundo inteiro com filmes do gênero, só em 2012.

1978 – Padrão ouro
O primeiro grande filme de super-herói, Superman, criou a tendência do realismo nessas produções.

2012 – Homem-Aranha
Novo filme tenta mostrar, por meio de efeitos 3D, como seria pular entre os prédios, como faz o herói aracnídeo.

Super filmes
Veja como está a disputa de supercachorro grande* e aposte até onde vão chegar O Espetacular Homem-Aranha e O Cavaleiro das Trevas Ressurge, lançados também neste ano.

1. Os VINGADORES (2012) – U$ 600 milhões**
2. O CAVALEIRO DAS TREVAS (2008) – U$ 588 milhões
3. Homem-Aranha (2002) – U$ 550 milhões
4. Batman (1989) – U$ 498 milhões
5. Homem-Aranha 2 (2004) – U$ 476 milhões
6. Superman (1978) – U$ 454 milhões
7. Homem-Aranha 3 (2007) – U$ 387 milhões
8. Homem-Aranha (2008) – U$ 351 milhões
9. Batman Eternamente (1995) – U$ 335 milhões
10. Homem-de-Ferro 2 (2010) – U$ 311 milhões
11. Batman – O Retorno (1992) – U$ 310 milhões
12. Superman II (1980) – U$ 308 milhões

* Valores reajustados pela inflação no período.
** Cifra atingida até 27 de junho.

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