PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana

E se… fôssemos imortais?

O tempo seria infinito - e o tédio também.

Por Mariana Iwakura
Atualizado em 30 ago 2017, 15h17 - Publicado em 9 dez 2004, 22h00

Você poderia fazer tudo o que deseja mas acha que não vai ter tempo para realizar. Afinal, o tempo seria infinito. Você poderia ser advogado, depois pescador, astronauta e estilista. Poderia namorar muitas mulheres (ou homens. Ou os dois) e viajar com eles pelo mundo. Além disso, você não viveria a angústia de saber que todos que ama morrerão um dia.

De fato, em um primeiro momento, a perspectiva de ser imortal parece muito boa. Acontece que a morte está muito mais presente na nossa vida do que imaginamos. “Nós nos organizamos para a morte. A partir dos 4 anos, a criança já sabe que vai morrer um dia. Sabemos que vamos perder pessoas e situações e que devemos nos preparar para isso”, diz Maria Júlia Kovács, professora de psicologia da morte da USP.

A morte está ligada à religião, à criatividade humana e à reprodução da espécie. “A vida seria um presente infinito, sem noção de futuro”, diz o físico Marcelo Gleiser, autor do livro O Fim da Terra e do Céu: o Apocalipse na Ciência e na Religião. Para ele, é o tempo finito que nos dá a necessidade de buscar algo que vá além do nosso tempo. A imortalidade, portanto, levaria todos à estagnação intelectual e cultural.

Se você acha que viver para sempre é assunto só para a imaginação, saiba que a ciência anda se preocupando com isso. Alguns pesquisadores vêem a velhice como um processo de degradação celular, a senescência, uma doença que poderia ser curada. Avanços na biotecnologia também podem levar à preservação do corpo por meio da clonagem. É possível que, no futuro, tenhamos uma espécie de “corpo reserva”, pelo qual trocaríamos nosso corpo jà envelhecido. Nossa consciência seria transferida como um conjunto de informações digitais – como se transferem arquivos em CD hoje em dia. Num mundo sem envelhecimento ou doenças, a única maneira de morrer seria por traumas – acidentes de carro ou tiros, por exemplo. Continua achando que seria bom? Acompanhe algumas das conseqüências que viriam por aí.

Infinitos fragmentos

Continua após a publicidade
A vida seria uma sucessão interminável de eventos pouco emocionantes

Arquivo de dados

“O cérebro, como um computador, tem memória finita. Depois de mais ou menos 70 anos, ele começa a ficar bem menos eficiente”, diz o neurocientista brasileiro Sidarta Ribeiro, da Duke University (EUA). Assim, teríamos que usar fotografias ou vídeos para arquivar todas as nossas lembranças

Descanso merecido

O trabalho seria para sempre. Se parássemos, não haveria sistema de previdência que arcasse com tantos aposentados. O mais provável é que tirássemos férias longas entre uma carreira e outra

Cabe mais um?

Para evitar a superpopulação, teríamos que controlar os nascimentos. Alguém teria que desistir da vida para outro nascer. Isso não seria um problema, já que a vontade de ter filhos está ligada à necessidade de perpetuar a espécie. Imortais, é bem possível que o instinto maternal fosse por água abaixo

Continua após a publicidade

Homens sem fé

“Uma das bases da religião é a relação com a morte”, diz o psiquiatra Paulo Dalgalarrondo, da Unicamp. “Sem ela, os homens se afastariam das religiões”. A moral religiosa seria substituída por leis humanas, e as igrejas virariam museus, com valor apenas histórico

Cultura estagnada

Não haveria a ânsia existencial de criar. “O motor criativo está ligado à consciência de morte”, diz o físico Marcelo Gleiser. Além disso, as mesmas pessoas, com as mesmas idéias, estariam para sempre na terra. Se chegássemos à imortalidade em 1989, por exemplo, estaríamos dançando lambada até hoje

Câmara de suicídio

Sem memória, filhos, religião ou cultura, o tédio tomaria conta da existência. “Muitas pessoas apelariam para o suicídio, quando batesse o cansaço de viver”, afirma Marcelo Gleiser

Publicidade


Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.