Fazer sexo sem tesão aumenta risco cardíaco e depressão
Ao contrário do que diz a sabedoria popular, falta de sexo não aumenta o estresse. Já transar só para agradar o outro faz mal à saúde
Fazia tempo que não se falava tanto em consentimento sexual no Brasil, ou seja: sobre a necessidade do sexo ser uma decisão consciente de dois (ou mais) adultos. Só que mesmo nessas situações, tem muita gente transando sem vontade — e um novo estudo mostra que isso faz mal para o corpo e para a mente.
Na pesquisa, 64 pessoas em relacionamentos sérios revelaram quantas vezes tinham feito sexo no último mês. Depois, disseram com que frequência têm vontade de transar em 30 dias — as respostas variavam de nenhuma até várias vezes por dia.
Os pesquisadores mediram então a quantidade de cortisol na saliva dos participantes. O hormônio é produzido quando passamos por estresse físico ou psicológico — e atrapalha o sistema imunológico, prejudica o coração e pode levar à depressão.
Os autores escolheram o cortisol de propósito. Eles queriam um indicador cartesiano — se simplesmente perguntassem aos participantes se estavam estressados, as respostas provavelmente não seriam tão precisas.
Quando olharam os resultados, os pesquisadores perceberam que as pessoas que transavam mais do que realmente queriam tinham níveis mais altos de estresse que os outros. Eles chamam isso de “compliance sexual”: quando você aceita, conscientemente, fazer sexo, geralmente porque que agradar o parceiro e manter a qualidade da relação. Um termo burocrático para “transa burocrática”.
Outra descoberta surpreendeu os cientistas: quem fazia menos sexo do que gostaria não tinha níveis elevados de estresse. A quantidade de cortisol era equivalente a de quem tinha desejo e atividade equilibrados. Biologicamente, então, a eventual falta de sexo não é tão determinante quanto parece para deixar você mais estressado.
A pesquisa, realizada pela Southwestern University, no Texas, foi a primeira a estudar as consequências físicas de aceitar fazer sexo sem ter vontade. Estudos anteriores se preocupavam em entender como a diferença entre o tesão e atividade sexual afetava os relacionamentos. O problema é que eles não separavam quem fazia sexo demais de quem fazia de menos.
Tanto a ciência quanto a sociedade preferiram ignorar que o sexo consentido é muitas vezes visto como uma tarefa — segundo outra pesquisa de 2010, até um quinto das relações acontece assim. É uma situação diferente do estupro dentro do relacionamento — que é um tipo de abuso negligenciado e até legalizado em países como a Índia. Sexo burocrático não é estupro, mas não é saudável. A pesquisa mostra que o consentimento, mesmo que indispensável, é só o primeiro passo para uma sexualidade realmente plena.