Denis Russo Burgierman, diretor de redação
Tem histórias que seria mais fácil não contar. Por exemplo: a de Gustavo Guedes, um menininho lindo de 1 ano e 4 meses, a mesma idade da minha filha, que morreu enquanto a família dele se digladiava numa batalha jurídica kafkiana contra a burocracia. É que o Estado brasileiro não reconhecia como remédio a única substância que poderia salvar a vida de Gustavo. Isso porque o tal remédio é feito de maconha.
Seria mais fácil ignorar histórias desse tipo porque gostamos de acreditar que vivemos num mundo científico, racional, de regras justas. É apavorante pensar que na verdade nossa vida continua cheia de obscurantismo e preconceito. Que muitos dos nossos médicos, cientistas e governantes tomam decisões mais por certezas morais e covardia política do que pelo conhecimento científico.
Por mais que desejássemos não ter que contar essa história, sentimos que não tínhamos outra opção. A SUPER é uma publicação dedicada ao conhecimento humano. Se algo está sendo feito em contradição com o que é sabido, é nossa obrigação contar. É por isso que estamos dedicando a capa desta edição a esse tema delicado, por mais que saibamos que ele vai incomodar. A reportagem de Camila Almeida busca revelar tudo o que a ciência sabe sobre o assunto, sem esconder nada.
É por isso também que, ainda neste mês de outubro de 2014, a SUPER vai estrear nos cinemas, com o filme ILEGAL, o primeiro documentário brasileiro a entrar de cabeça nesse tema. O filme, dirigido pelo jornalista Tarso Araújo e pelo cineasta Raphael Erichsen, estará em cartaz em cinemas do Brasil todo, trazendo histórias como a de Gustavo, a de Anny, que você conhecerá a partir da página 34, e a de Jairo, que está sendo processado por tráfico internacional pelo crime de aliviar a dor de sua esposa com câncer.
ILEGAL é o primeiro filme da SUPER. Eu gostaria de pedir um favor a você. Se você, como nós, acredita num mundo racional, pautado pelo conhecimento e não por preconceitos, vá ao cinema prestigiar, e chame seus amigos. Somos iniciantes no mundo audiovisual e sabemos que o destino de um filme muitas vezes se define pela bilheteria do primeiro fim de semana. Se pouca gente aparece, o filme sai de cartaz e a história não é ouvida por ninguém.
ILEGAL é o primeiro de muitos filmes que queremos fazer. Enquanto houver obscurantismo, haverá histórias precisando ser contadas. É essa a nossa missão, não importa se no papel, na internet, no cinema ou por telepatia.
Esta edição, assim como o filme, é dedicada à memória de Gustavo Guedes e à luta de sua família. Não terá sido em vão.