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Malba Tahan: O “árabe” que escrevia números

Há um século, nascia Júlio César Mello e Souza, o homem que inventou e encarnou o ¿árabe¿ Malba Tahan. Com esse pseudônimo, ele foi o maior divulgador da Matemática no Brasil, escreveu cerca de 120 livros e formulou propostas ainda hoje consideradas modernas para o ensino.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h51 - Publicado em 30 abr 1995, 22h00

Luiz Barco, Enor Paiano

Se você imagina que vamos falar de algum milionário, está enganado. A não ser que possamos considerar milionário todo homem que venda mais de 1 milhão de livros. Malba Tahan produziu textos didáticos, folclore, ficção, fez incursões na literatura infantil, escreveu sobre História e inventou “estórias”, praticou e inovou muito a pedagogia da Matemática. Não fez fortuna pessoal, mas enriqueceu, e muito, um dos maiores patrimônios que as crianças carregam e as escolas teimam em ignorar: o imaginário infantil.

Se dissermos que esse extraordinário professor se chamava Júlio César de Mello e Souza, talvez você não saiba de quem se trata. Mas, se lembrarmos que, muitas vezes, ele escreveu com o pseudônimo de Malba Tahan, você poderá se lembrar com orgulho do brasileiro da cidade de Queluz (interior de São Paulo) que, se ainda andasse entre nós, faria 100 anos no dia 6 de maio de 1995. Entre as obras que assinou como Mello e Souza (que passou a vida no Rio de Janeiro e morreu em 1974), e as que atribuiu ao “escritor árabe” Ali Iezid Izz-Edin Ibn Salim Hank Malba Tahan (teoricamente nascido próximo da cidade de Meca e morto no deserto lutando por sua tribo), contam-se cerca de 120 títulos. Seu livro mais célebre, O homem que calculava, já traduzido em doze idiomas e com quase quatro dezenas de edições em português, ainda está nas livrarias, junto com outras catorze obras do autor.

É muito comum hoje, ao freqüentarmos seminários sobre Educação Matemática, ouvirmos falar em etnomatemática e também em “pedagogias” centradas no natural interesse que a criança tem pelo lúdico e pelo histórico. A maioria dessas observações são corretas, mas é surpreendente a não inclusão da Aritmética da Emília de Monteiro Lobato e da quase totalidade dos livros de Malba Tahan no rol das exemplificações.

Temas de vibrante atualidade como multidisciplinaridade, perspectiva histórica, respeito ao desenvolvimento cognitivo, construção do conhecimento, que encantam os atuais especialistas em educação, já eram lugar comum nos escritos de Mello e Souza. Quem teve o privilégio de conhecê-lo pessoalmente sabe que ele, com o mesmo carinho que tratava o aprendiz, fustigava o hipócrita — e fez da pedagogia da matemática sua profissão de fé. De quebra, tornou-se, se não o maior, um dos maiores divulgadores de ciência que o Brasil já teve.

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Hoje, nem o mais sisudo dos professores pode ensinar as frações sem se lembrar do problema dos camelos. Quer coisa mais interessante para ilustrar tema tão árido? Mas, mesmo com tanta popularidade, Malba Tahan sofreu com as críticas. Tem razão o educador matemático e editor de livros didáticos Valdemar Vello. “Alguns dos matemáticos mais respeitados”, lembra ele, “preferiam procurar eventuais equívocos a perceber as belezas imensas da obra inovadora de Malba Tahan.”

Boxes da reportagem

O caso dos camelos

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Decifre o problema mais famoso de Malba Tahan, retirado do livro O homem que calculava.

Beremiz, o homem que calculava, estava viajando pelo deserto de carona no camelo de um amigo. A certa altura, encontraram três irmãos discutindo acaloradamente. Eles não conseguiam chegar a um acordo sobre a divisão de 35 camelos que o pai lhes havia deixado de herança. Segundo o testamento, o filho mais velho deveria receber a metade, ao irmão do meio caberia um terço e o caçula ficaria com a nona parte dos animais. Em qualquer divisão que se tentasse, surgiam protestos e a partilha era paralisada. Como resolver o problema?

“É muito simples”, aparteou Beremiz, que dominava muito bem os números. Pedindo emprestado a montaria do amigo, propôs uma divisão dos agora 36 camelos. Sendo assim, o mais velho, que deveria receber 17 e meio, ficou muito satisfeito ao sair da disputa com 18. O filho do meio, que teria direito a pouco mais de 11 camelos, ganhou 12. Por fim, o mais novo em vez de herdar 3 camelos e pouco, ganhou 4. Todos ficaram muito felizes com a divisão. Ora, se somarmos 18 + 12 + 4, teremos 34. Devolvendo o camelo de seu amigo, o homem que calculava ficou com aquele que sobrou.

Pergunta-se: que truque Beremiz usou para resolver o problema dos irmãos e ainda sair ganhando um camelo? A resposta depende de uma matemática meio mágica.

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