Mulheres: usem sua beleza para conseguir as coisas
A beleza é sinal de fertilidade e é um diferencial desde os tempos dos homens da caverna. Quem não a possui costuma condenar as mulheres que se aproveitam dela. Mas qual o problema de usá-la a seu favor?
Luiz Felipe Pondè*
As feias odeiam as bonitas. Não, não estou sendo cínico. Beleza atrai inveja e, nas mulheres, beleza é sempre fundamental. Sendo assim, pode uma mulher usar sua beleza como forma de sobrevivência ou ela deve buscar ser feia porque a maioria é?
A mulher sempre usou sua beleza, provavelmente desde os tempos em que morávamos em cavernas. E por razões óbvias: a maioria esmagadora dos homens baba pela beleza feminina. Um dos erros crassos do feminismo é confundir problema de cadeia (espancamento de mulheres) com vida cotidiana. A dificuldade do feminismo está em não delirar: uma coisa é impedir que uma mulher dirija um carro, como em alguns países muçulmanos, outra coisa é dizer que, se ela usa sua beleza para conseguir uma coisa, está sendo vítima de abuso de poder. A afirmação chega a ser risível.
A maior inimiga da beleza da mulher é a outra mulher, a feia. A condenação do uso da beleza feminina por parte das mulheres é uma ferramenta das que não têm, por azar (a beleza ainda é um recurso contingente), acesso à beleza. Claro que há sofrimento aqui, mas de nada adianta “resolver” o sofrimento negando um fato óbvio: as feias têm raiva das bonitas. No caso dessa oposição beleza x fealdade nas mulheres (em todos nós, mas nas mulheres mais, pelas razões que descrevi acima), vidas são dilaceradas pela inveja da beleza numa mulher. As feias, que são maioria e a regra, só aceitam uma mulher bonita quando esta já não é mais tão bonita. Beleza não é só “beleza”. É abundância, fertilidade, fecundidade, enfim, é signo de vida. Sentir-se excluída disso por um simples azar (por isso se gasta tanto dinheiro para corrigir esse azar, com plásticas e outras intervenções) dói como uma espécie de condenação que perpetua a solidão e a esterilidade.
A beleza numa mulher me faz querer entendê-la melhor, ouvi-la, ser mais generoso com ela, mais justo, enfim, ser um homem melhor. Não se trata apenas de um “desejo meramente animal”. O alcance espiritual da beleza é fato estudado pelas religiões: o mal inveja a beleza do bem. Mas, para além da dimensão espiritual, não há nada melhor no mundo do que uma mulher linda a fim de você.
Por isso, é melhor levarmos a beleza mais a sério. Toda tentativa de proibir a exibição da beleza feminina é um ato nascido da inveja. Se você for bonita, observe se no trabalho não tem alguma feia que a detesta. O ódio das feias pelas bonitas nada mais é do que a agonia que a abundância gera na precariedade. Como somos seres precários – somos mortais, insignificantes cosmicamente e frágeis biologicamente -, a falta de beleza é a regra (quase) universal.
Luiz Felipe Pondè é doutor em filosofia pela USP e pós-doutor pela Universidade de Tel Aviv.
Texto adaptado de seu livro Guia Politicamente Incorreto da Filosofia
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