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Nova lição de Anatomia

Nas aulas de Anatomia da USP, os cadáveres serão substituídos por placas de epóxi em que se podem ver fatias de 1 milímetro de um corpo humano.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h50 - Publicado em 31 jul 1991, 22h00

È dissecando cadáveres – por mais desagradável que isso pareça aos leigos – que um estudante de Medicina aprende a apontar a região do apêndice e a diferenciar o cérebro do estomago, por exemplo. Na Universidade de São Paulo, porém, em cerca de 60% das aulas de Anatomia, os cadáveres serão substituídos por placas de epóxi, em que se pode ver fatias de 1 milímetro de um corpo humano. A troca, no caso, não é má idéia: “Nos anos 70, a Medicina incorporou tecnologia, com computadores para tomografia e aparelhos de ressonância magnética”, explica o cirurgião Aldo Junqueira Rodrigues Junior. “Com isso, passou a existir um abismo entre o que o médico tinha aprendido na faculdade e o que ele lidava no dia-a-dia. Agora ao menos, os cortes das placas são semelhantes às imagens produzidas por esses novos exames”.

Segundo Junqueira, professor de Anatomia da USP, os cadáveres continuarão sendo usados nas aulas básicas, para mostrar a disposição espacial dos órgãos, como ensinar que o fígado fica no abdome. Maiores detalhes sobre as vísceras, no entanto, serão analisadas nas placas. “Nelas, é possível comparar a textura do tecido a olho nu ou ver por onde passam pequenos vasos sanguíneos”, conta o cirurgião animado. “Conseguimos, até mesmo analisar o tamanho do fígado, ao empilharmos algumas placas do abdome”, exemplifica. Mais do que aproximar a sala de aula da realidade da clínica moderna, as placas anatômicas podem resolver um antigo desafio dos anatomistas – o de preservar as estruturas do corpo humano. Estas costumam entrar em putrefação depois de dois ou três dias, graças a presença de água e gordura. Isso é um problema, partindo do principio de que já exista uma verdadeira falta de cadáveres.

“Em muitas escolas brasileiras, os futuros médicos estudam Anatomia em bonecos”, lamenta Junqueira”. Já as faculdades de Medicina americanas importam cadáveres de paises como a Índia”. O tradicional uso do formol é um paliativo. A substancia interrompe a putrefação por ser um potente desidratante, mas os estudantes não podem olhar direito as estruturas conservadas, uma vez que ficam guardadas em vidros.
Em 1987, o patologista e químico Günther Von Hagens, da faculdade de Medicina de Heidelberg, na Alemanha, começou a desenvolver um método, a plastificação, para fazer placas que preservassem as estruturas teoricamente para todo o sempre, além de facilitar o manuseio. Há um ano, Junqueira passou três meses com o cientista alemão e,hoje, o Brasil é o segundo país a produzir as placas anatômicas. Pode ser que o resultado do laboratório criado na USP surpreenda os especialistas, ao ser apresentado pela primeira vez no Congresso Internacional de Medicina ,neste mês em Portugal .

Com uma serra de marceneiro adaptada, os cientistas brasileiros conseguem fatias com a metade da espessura feita pelos alemães, que projetaram um equipamento especial para cortar cadáveres congelados entre -20 -40 graus Celsius. Essas fatias permanecem cerca de quinze dias em soluções a base de acetona e de diclorometano. “Os poros onde antes havia água ou gordura são preenchidos por essas substâncias”, explica Junqueira. “Então realizamos uma impregação forçada, isto é, deixamos as fatias expostas ao vapor de epóxi, que acaba forçando sua entrada nesses poros, por ter uma pressão maior”. A receita dos produtos usados na plastinação foi adaptada ao calor do clima brasileiro e isso teve um efeito curioso: Nossas placas são absolutamente transparentes, enquanto as alemãs têm uma cor amarelada”, orgulha-se Junqueira, cuja equipe produzirá o novo material didático para escolas e centros de pesquisa que o requisitarem.

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