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O homem-gravador

Lionel Mapleson teve a idéia inédita de gravar óperas ao vivo para se divertir com os amigos. Acabou construindo um acervo histórico

Por Ayrton Mugnaini Jr.
Atualizado em 31 out 2016, 18h46 - Publicado em 30 jun 2008, 22h00

Dizer que ele era louco por música é pouco. Lionel Mapleson era filho do secretário musical da rainha Vitória, sobrinho de um dos maiores empresários ingleses de óperas e já havia estudado canto e violino. Mas só sossegou quando conseguiu, aos 25 anos, virar bibliotecário do Metropolitan Opera de Nova York, desde aquela época a maior casa amaricana de espetáculos de música erudita.

Nascido na Inglaterra e radicado nos EUA, Mapleson era amigo pessoal de Thomas Edison, de quem adquiriu um fonógrafo. Naquele ano de 1900, esse aparelho enorme, com cilindros de cera em vez de discos e um cornetão do tamanho de uma pessoa, era o que havia de mais moderno em termos de gravação e reprodução de som.

Fascinado com seu novo brinquedinho, Mapleson teve uma idéia genial: gravar as apresentações de ópera no Metropolitan para colecioná-las e ouvi-las quando quisesse. Até então, ninguém tinha tido a sacada de gravar shows ao vivo. Mesmo porque, como já foi possível perceber, aquele gravadorzinho do começo do século 20 estava longe de ser um aparelho de bolso. Só mesmo com muita influência para convencer os administradores da casa a colocar o trambolho dentro do ponto – um buraco na beira do palco de onde auxiliares sopravam o texto da ária para os cantores. Mas, como prejudicava a visão, o fonógrafo foi gongado pela platéia. O jeito foi levá-lo para a coxia, o que justifica a péssima qualidade das gravações: “É como ouvir concerto num camarim cheio de gente através de uma porta que fica abrindo e fechando”, definiu um amigo.

Por 4 anos, Mapleson gravou centenas de cilindros de dois minutos, entre eles os únicos registros de óperas cantadas por Jean de Reszke, o maior tenor do mundo até aparecer Caruso. Também são dele as primeiras gravações de hits eruditos como a ária Ritorna Vincitor da ópera Aída, de Verdi, e o Coro dos Soldados, do Fausto de Gounod. Mas a festa acabou quando grandes gravadoras, pegando carona na idéia de Mapleson, fecharam contratos para registrar os recitais. Delicadamente, o Metropolitan pediu que ele levasse seu brinquedinho de volta para casa. E Mapleson voltou ao anonimato. Até tentou negociar com gravadoras londrinas para ter seus cilindros transformados em discos. Mas isso só aconteceu no final de sua vida, quando as gravações foram redescobertas por colecionadores e acabaram reeditadas em elepês.

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Mapleson morreu aos 72 anos, ainda como bibliotecário do teatro, sem imaginar que os frutos da sua inocente idéia traria muita alegria aos fãs de música erudita e inspiraria a maior dor de cabeça da indústria fonográfica: a pirataria.

 

Grandes momentos

• A manivela do aparelho de Mapleson fazia um estardalhaço, e muitos recitais tinham que ser interrompidos quando a caixa de cilindros desabava da coxia, a 15 metros do chão.

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• De tanto serem ouvidas, muitas das gravações se desgastaram. Algumas delas só puderam ser identificadas graças à tecnologia digital empregada a partir dos anos 80.

• Detalhes da obra de Lionel Mapleson, incluindo excertos de seu diário, podem ser vistos na página oficial da família, www.mapleson.com.

 

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