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O zelador mais importante do Brasil

Albino José Fernandes trabalhou por 50 anos no palácio do catete. De tão confiável, recebeu uma missão de honra e acabou empossando um presidente

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h47 - Publicado em 31 ago 2008, 22h00

Texto Álvaro Oppermann

A faixa presidencial havia sumido. Esse mistério rondava o Palácio do Catete, no Rio de Janeiro – residência e sede da Presidência da República –, desde a Revolução de 1930. Nos corredores palacianos, o assunto era cochichado entre funcionários. Nos jornais, inimigos políticos de Getúlio Vargas, então no poder, comentavam o sumiço em tom de gozação: aquilo seria sinal profético da tendência autoritária de Getúlio. Quem permanecia impassível diante dessas intrigas era o zelador do Catete, Albino José Fernandes. Fora ele quem escondera a faixa. Em 1933, ele chamou Getúlio e confessou sua culpa, contando toda a sua história.

Durante os turbulentos dias de outubro de 1930, já perdendo o controle da situação, Washington Luís chamou-o num canto e confiou-lhe a faixa. “Guarde-a e só a entregue a um presidente eleito”, disse. Poderia tê-la dado a dom Sebastião Leme, cardeal do Rio e mediador entre o presidente e os militares. Mas Washington não confiava mais em ninguém. Só em Albino. Dias depois, foi deposto.

Albino, mulato mineiro da cidade de Serraria, entrou para o serviço público em 1908, aos 29 anos, quando o general Souza Aguiar, prefeito do Rio de Janeiro, empregou-o de servente no Palácio da Guanabara. Em 1915, no governo de Wenceslau Braz, viu-se promovido a zelador e chefe de arrumação do Catete. Alzira Vargas, filha de Getúlio, chamava-o de ‘Anjo da Guarda’ do palácio. Em 1925, no governo de Artur Bernardes, Albino ganhou a casa dos fundos do palácio como moradia.

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Depois de receber a missão do presidente Washington Luís, Albino guardou o símbolo máximo da nação no local mais seguro possível: nele mesmo. Durante muito tempo, dormiu com a faixa sob o pijama ou escondida debaixo do travesseiro. Mas naquele ano de 1933, julgou que Getúlio era, de fato, um presidente legítimo (apesar de não eleito). E decidiu que a faixa lhe pertencia.

Getúlio ouviu tudo em silêncio. Por fim, disse: “Eu não posso usá-la, Albino. Não sou presidente, mas chefe do governo provisório”.

Assim, pediu que o zelador se mantivesse como guardião do tesouro. Quando Getúlio Vargas foi enfim eleito pela Assembléia Nacional Constituinte, em 1934, Albino passou-lhe a faixa. Por lei, apenas o presidente do Congresso ou do Supremo Tribunal Federal poderia fazê-lo, mas, nesse momento único da história, o zelador ficou com a tarefa de empossar o presidente da República.

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Missão cumprida. Depois de 4 anos, Albino pôde finalmente dormir em paz. Sem o peso da imensa responsabilidade. E sem os diamantes pinicando debaixo do pijama!

Grandes momentos

• Albino foi o primeiro a entrar no quarto após o suicídio de Getúlio. Foi ele quem arrumou as pernas do presidente, que ainda estavam para fora da cama. Daí em diante, aos 74 anos, passou a tomar remédios.

• O zelador não tinha filhos, mas era avô de 8 netos e bisavô de 7. “Casei com uma senhora que já tinha filhos”, dizia.

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• Em 1958, Juscelino Kubitschek condecorou Albino com a Ordem Nacional do Mérito, mas ele não quis se aposentar. E não entendia por que os empregados mais jovens precisavam de lápis e papel para lembrar de suas tarefas.

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