É bonito, até emocionante, imaginar que cada um dos filhos ocupa sempre o mesmo espaço no coração de seus pais. Na vida real, entretanto, a história não é bem assim. Alguns especialistas são corajosos o bastante para afirmar que, em boa parte das famílias, há sempre um filho preferido. Gente como a psicóloga americana Ellen Libby, autora do livro The Favorite Child (“A Criança Favorita”, inédito no Brasil).
Segundo Ellen, há muitos casos em que o primeiro filho acaba sendo o predileto, pois é ele quem transforma o casal em pais pela primeira vez. “Mas a preferência pode mudar ao longo do tempo, dependendo das circunstâncias em cada fase da vida”, diz a psicóloga. “A chegada de novos filhos, às vezes, renova o prazer da paternidade, com a vantagem de não trazer com ela as inseguranças de quando se é pai ou mãe de primeira viagem”. Ou seja: nada impede que o segundo filho, ao nascer, roube o posto de predileto, e acabe o perdendo para o terceiro, alguns anos mais tarde.
Certo mesmo é que cada família funciona de um jeito, e que maior ou menor afeição por este ou aquele filho depende de uma tremenda variedade de fatores. “A predileção dos pais pode se manifestar, por exemplo, pela criança que parece mais frágil ou apresenta alguma necessidade especial, ou por aquela que é a mais carinhosa de todas”, diz Joana Singer Vermes, psicóloga do núcleo de estudos do comportamento Paradigma, em São Paulo. De acordo com Joana, os pais têm medo de admitir a preferência, porque confundem favoritismo com amor. Trata-se, contudo, de um comportamento normal – típico da natureza humana.
“Ter um filho favorito não é uma violação de um código moral. Um pai não é igual a uma mãe. E um filho não é igual ao outro.”
Ellen Libby, psicóloga