Sérgio Gwercman, diretor de redação
Na minha memória, Pollyana ocupa o primeiro lugar na lista dos livros mais irritantes que já li. Possivelmente por eu ter sido obrigado a enfrentá-lo na escola, provavelmente por ele ser adorado pelas meninas da sala numa fase em que garotos odeiam tudo que venha do universo feminino (outros exemplos daquele tempo: coleções de papel de carta e pular elástico), o fato é que eu cresci vendo na história da jovem que sempre enxergava o lado bom das coisas um dos momentos mais chatos da literatura mundial.
Como eu nunca dei uma segunda chance para Pollyana, nem para sua igualmente esquecível sequência Pollyana Moça, talvez o mais correto que você tenha a fazer é relevar minha implicância com um livro que li coisa de 25 anos atrás. Mas ficou grudado na minha cabeça o passa-tempo favorito de Pollyana, um certo Jogo do Contente, que consistia em encontrar algo positivo em todas as experiências da vida. E taí uma brincadeira que não tinha espaço na minha adolescência – naqueles anos, meu caro, nem Pollyana dava jeito. Eu podia ser novo, mas já era vivido o suficiente para entender que estava diante de uma aula de desonestidade emocional: queriam que eu mentisse para mim mesmo.
O que eu gostaria de ter ouvido naquela época são as lições que a reportagem de capa deste mês ensinam. Não se trata de tentar convencer você que seus problemas não existem, de que ser tímido é a coisa mais legal do mundo ou de que a ansiedade é uma maravilha. Mas de entender que nem tudo na vida é treva. Maurício Horta, Alexandre Versignassi e Jorge Oliveira mostram como a timidez que te atrapalha pode ser a semente de um profissional focado e de bom desempenho. Que fracassar é das melhores receitas para ser bem-sucedido. E por que os pessimistas sofrem menos. Não é nada que resolveria meus problemas na 6ª série. Mas ao menos não seria alguém tentando me convencer que eles não existiam.
Um grande abraço.