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“Vi coisas lá embaixo que ninguém viu”

Por oito anos, Sandro Zozo correu perigo. Como mergulhador de saturação (o nome vem de o corpo ficar saturado, no limite), ele descia a 250 metros de profundidade para realizar a manutenção de plataformas de petróleo. Até que, em 2012, sofreu um acidente quase fatal no fundo do mar. Aposentado aos 38, garante: faria tudo de novo.

Por Débora Nogueira
Atualizado em 31 out 2016, 18h50 - Publicado em 14 set 2014, 22h00

 

Qual a preparação para mergulhar a centenas de metros de profundidade?
Primeiro, você entra na câmara hiperbárica, que faz seu corpo chegar à pressão da profundidade em que você vai trabalhar – dez, 20 vezes maior que ao nível do mar. Isso leva praticamente um dia inteiro. Aí você entra no “sino”, uma estrutura metálica que vai ser a sua casa no fundo do mar, e desce para mergulhar. Você fica mais uns 20 dias pressurizado.

Como são esses 20 dias?

É como viver em uma lata. Parece que você e os outros mergulhadores estão na cadeia: tem ordem do banho, hora certa de comer. Existe assistência 24 horas, o pessoal dá comida e monitora o dióxido de carbono lá dentro. Enquanto isso, você faz a manutenção necessária.

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E a volta?

É preciso uma semana para despressurizar. Você vai respirando uma mistura de gases, que leva tempo para se dissipar no seu corpo. Entre o mergulho e a despressurização, são 28 dias de confinamento. Só é possível fazer esses mergulhos quatro vezes por ano. O resto do trabalho é no navio, dando suporte.

Qual o efeito do mergulho saturado?

Nós respiramos uma mistura de hélio, oxigênio e nitrogênio. O hélio vai roubando a temperatura do corpo humano, então isso precisa ser monitorado sempre. Às vezes está 28 graus e você treme de frio. Outro incômodo é a umidade da câmara, que chega a quase 80%. Você fica todo melado, precisa tomar mais de um banho por dia, pega fungo nas unhas, otite.

Como você entrou nessa?

Eu sempre gostei de mergulhar, mas achava que seria difícil. O mercado é muito fechado, existem uns 150 mergulhadores no Brasil, 50 estão desempregados. Eu dei sorte: um amigo me indicou. Fiz o curso e estou há quase dez anos nessa mesma empresa, mas estou afastado há dois por causa de um acidente.

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Como foi esse acidente?

O “sino” é nosso apoio lá embaixo, como um cordão umbilical, tem tudo o que precisamos: cabo elétrico, mangueira de gás para respiração. Houve um vazamento em alguma das 60 válvulas que chegam à cápsula. O sino começou a alagar comigo e outro rapaz lá dentro. E não dava para ficar no mar, a gente morreria de hipotermia. Usamos uma roupa tipo de astronauta, térmica, com canos de água quente que vêm do navio. Mas, para piorar, essa água estava chegando fria.

De que maneira vocês se salvaram?

Conseguimos restabelecer o contato com o navio, e um técnico fechou todos os cabos que chegavam ao sino e, depois, abriu um a um até descobrir de onde vinha o vazamento. A água chegou quase à nossa cabeça. Ficamos 40 minutos nessa agonia. Enfim, não morri nem vi acidente com morte. Mas há muito risco.

Faria tudo de novo?

 

 

Faria. Se eu não tivesse feito, seria um sonho não realizado. Não me arrependo, vi coisas lá embaixo que ninguém nunca viu. Vi lula gigante, tubarãozinho pequeno. No Espírito Santo, vi uma tartaruga enorme tentando morder um mergulhador. Foi realmente uma vida muito diferente. Mergulhei em campo de lagosta, vi coral cheio de peixinho colorido de aquário. Foi maravilhoso.

Imagem: Gettyimages.com

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