“A Sociedade da Neve”: a história real por trás do filme da Netflix
O filme aborda o caso dos 16 sobreviventes do desastre aéreo conhecido como "milagre dos Andes". Para passar pelo frio, eles davam socos uns nos outros. Já para sobreviver à fome, recorreram ao canibalismo.
Estreia da Netflix, “A Sociedade da Neve” é a mais recente adaptação da história real do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, um acidente em que 29 pessoas morreram há mais de 50 anos, em 1972.
O avião saído de Montevidéu, capital do Uruguai, levava 45 pessoas: membros do time de rugby Old Christians Club e seus amigos e familiares. A equipe jogaria em Santiago, no Chile.
A aeronave caiu no meio da parte argentina da Cordilheira dos Andes, e os sobreviventes passaram por duras circunstâncias até serem resgatados. Precisaram, inclusive, alimentar-se de carne humana.
O filme espanhol liderou os mais vistos da Netflix em sua semana de estreia com 22,9 milhões de visualizações. A direção é de Juan Antonio Bayona e a inspiração vem do livro homonômino de Pablo Vierci, amigo de infância dos jovens no voo. O longa teve 8 indicações ao prêmio Goya (o mais importante do audiovisual do país) e deve concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Conheça a história real por trás da tela:
O acidente
Os passageiros já tinham feito uma parada forçada em Mendoza, na Argentina, devido a uma tempestade. As condições do clima não melhoram no dia seguinte, mas o avião partiu mesmo assim.
As nuvens eram densas na região e bloqueavam a visão dos pilotos. A navegação, então, dependia essencialmente dos instrumentos da aeronave. Achando que estavam perto do destino, o copiloto pediu permissão para descer em Mendonza. O aeroporto, que também estava com os radares comprometidos, concedeu.
Na descida, o avião passou por uma forte turbulência. Quando saiu das nuvens, eles não viram a pista de aterrissagem do aeroporto. Pelo contrário: se depararam com a Cordilheira dos Andes.
Na queda, apenas 33 dos 45 passageiros sobreviveram. Os que restaram passaram por um verdadeiro inferno nos meses seguintes.
O maior desafio era, sem dúvida, sobreviver às nevascas e temperaturas congelantes dos Andes. Eram quase -30°C e o perigo constante de congelamento. Os integrantes do grupo davam socos uns nos outros (o que ativava a circulação de sangue nas regiões atingidas) para se manterem aquecidos.
O que também dificultou a sobrevivência foi a escassez de comida. Eles encontraram alguns suprimentos no avião, como bolachas, chocolates e bebidas, mas não durou o suficiente. Para matar a sede, bebiam a água derretida da neve.
O frio extremo e a fome foram, aos poucos, derrubando sobreviventes – mais seis morreram nos dias seguintes e outros oito acabaram soterrados por uma avalanche. Quem sobrou recorreu à carne dos cadáveres para prolongar seus dias.
Quase dois meses depois do acidente, o número de sobreviventes já tinha caído para 16. Eles estavam ficando mais fracos e sem tempo: ou eles saíam do abrigo para procurar ajuda, ou iam todos morrer na neve.
Dois sobreviventes, dos poucos que ainda conseguiam andar, partiram na missão para o resgate: o plano era escalar uma montanha e torcer para encontrar algum vilarejo que oferecesse ajuda.
Foram cerca de 60 km, percorridos em dez dias, até avistarem outro humano. O homem trouxe ajuda e os dois conduziram as autoridades até o restante dos sobreviventes. Um helicóptero resgatou os 16 jovens do meio da neve.
Repercussão
A história do “milagre nos Andes” se espalhou rapidamente pelo mundo, tanto o emocionante relato do resgate como o espantoso caso de canibalismo. Os uruguaios defenderam suas ações, dizendo que essa tinha sido a única forma de sobreviver nas condições extremas.
“O acidente é muito conhecido no Uruguai, especialmente no mundo do rugby, e nos ensina sobretudo que nunca devemos nos dar por vencidos”, diz o uruguaio Emiliano Caffera, técnico da seleção brasileira de rugby. “O respeito e o cuidado que eles tiveram uns pelos outros é admirável, porque estamos falando de decisões que colocavam em jogo as suas próprias vidas. Então, eles foram muito organizados, disciplinados e fizeram um grande trabalho em equipe, tendo sucesso à base de perseverança e amor”.
Os sobreviventes escreveram diversos livros. Fotos do acidente e cartas escritas por eles e pelos companheiros falecidos também contam a história da tragédia.