“Batman: Despertar” é aposta do Spotify no universo dos super-heróis
Com versões feitas em nove países (Brasil incluso), áudio série que estreia na terça (3) é o primeiro fruto da parceria da plataforma com a Warner Bros. e a DC Comics.
Depois do Batman de Robert Pattinson, que estreou nos cinemas em março, o Homem Morcego vai ganhar outra adaptação audiovisual em 2022. Quer dizer, só em áudio. Na próxima terça-feira (3), chega ao Spotify Batman Despertar, áudio série original da plataforma criada por David S. Goyer, roteirista responsável pela trilogia O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan.
Na história, Bruce Wayne trabalha como patologista forense em Gotham City. Ele não se lembra dos seus dias como Batman – seus pais, Thomas e Martha Wayne, inclusive, estão vivos. Bruce fica obcecado com o Ceifador, o mais novo serial killer da cidade. Tão obcecado que Thomas, chefe do Hospital do Gotham, pede ao filho que se afaste do trabalho e comece a se consultar com o Dr. Hunter, um estranho psicólogo.
O roteiro original de Batman Despertar foi desenvolvido nos Estados Unidos. Mas a série foi adaptada para outros idiomas, com direção e atores locais de mais oito países: França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México – e Brasil.
“A primeira coisa que decidimos foi que [Batman Despertar] não seria uma dublagem ou um trabalho de animação, mas algo único, diferente”, disse o cineasta Daniel Rezende (Bingo – O Rei das Manhãs, Turma da Mônica: Laços), diretor da versão brasileira da áudio série, em coletiva de imprensa realizada na última quinta (28).
Leitor assíduo das histórias do herói, Rezende confessou que nunca tinha feito algo parecido até então – mas que isso foi, justamente, o que o levou a topar o projeto. “Desde os meus primeiros trabalhos como montador, eu sempre achei que o som contava a história melhor que a imagem”, relembrou o cineasta, cuja montagem de Cidade de Deus foi indicada ao Oscar, em 2004. “Na ilha de edição, eu fechava os olhos e prestava atenção apenas no áudio. Se ele ficava legal, então eu voltava e consertava a imagem.”
Haja gogó
Para criar algo novo a partir do material original, Rezende quis que a produção de Batman Despertar fosse um “processo de desconstrução contínuo”. Para isso, chamou atores de diferentes frentes (teatro, audiovisual, dublagem) para que encontrassem, juntos, o tom da série.
Quem dá vida ao Batman é o ator Rocco Pitanga. Já sua irmã, Camila, interpreta Kell, ajudante de Bruce Wayne no necrotério. “É a primeira vez que eu contraceno com o meu irmão”, lembrou a atriz, que revelou poucos detalhes sobre a sua participação na história, sob o risco de entregar spoilers.
O vilão Ceifador é interpretado por Hugo Bonemer. E a atriz Tainá Müller empresta sua voz para Barbara Gordon, filha do Comissário Gordon e que, na ausência do Batman, vai recorrer a outro detetive de Gotham: o Charada (Augusto Madeira).
A equipe contou com fonoaudiólogos para auxiliar nos aquecimentos (e desaquecimentos) vocais. “Aprendi que colocar a língua para trás, no céu da boca, ajuda a ir deixando a voz mais grave”, disse Tainá, que ressaltou que as interpretações no estúdio eram cheias de caras e bocas. “É bem diferente de atuar na frente das câmeras. Vale de tudo para transmitir a imagem pela voz.”
“Para mim, a respiração era o grande apoio da atuação”, disse Camila, que precisou tomar cuidado com o roteiro impresso que tinha em mãos. “Todo mundo lia as suas falas em uma tablet, menos eu. Tive que virar as páginas bem devagarzinho para não fazer barulho e estragar a gravação.”
Para entrar no personagem, Rocco fez um intensivão do Homem Morcego. “Durante as gravações, eu não assisti a nada que não fosse do Batman”, relembrou o ator. “Fiquei isolado no hotel, vi a série Gotham e até fiz exercícios. Não, meu corpo não aparece em cena. Mas me ajudou a mergulhar na personalidade desse Bruce Wayne.
Batman Despertar traz um Batman negro, e não só na versão brasileira. Nos EUA, quem vive o herói é Winston Duke, o M’Baku de Pantera Negra. “O Batman é muito humano. Ele enfrenta uma dor comum e, em meio a ela, busca defender o coletivo. Por que não poderia ser negro?”, questiona Rocco. “É claro: pela voz, cada um pode reconhecer o herói à sua maneira. Mas acredito que a série pode inspirar positivamente. É uma simbologia muito forte.”
“Uma provocação aos fãs”
Não é a primeira vez que o Batman dá as caras (ou melhor, a voz) em uma produção 100% áudio. Nos anos 1940, o personagem apareceu em alguns episódios do programa de rádio do Superman. Em 2010, a BBC lançou o áudio drama Batman: The Lazarus Syndrome, no qual o Comissário Gordon investiga o assassinato do herói. E em 2021, o HBO lançou Batman: The Audio Adventures, uma comédia que presta homenagem à série de TV do Batman dos anos 1960.
A diferença aqui é a escala do projeto. De acordo com o Spotify, esse é o maior lançamento simultâneo da plataforma – e o primeiro fruto da parceria firmada com a Warner Bros. e a DC Comics. O acordo, anunciado em 2020, prevê a criação de vários conteúdos com os personagens da editora. No Brasil, Despertar será a terceira série original de ficção do serviço, depois de Sofia e do (ótimo) sci-fi Paciente 63.
“Despertar é uma atualização do Batman em vários níveis”, defende Tainá, tanto em relação ao formato quanto ao conteúdo da história, que promete embaralhar e recontar a origem consagrada do herói. “É uma provocação aos fãs do personagem”, disse Camila.
Ouça o trailer de Batman Despertar: