Cidade literária: descubra Recife a partir de seus livros
A capital pernambucana oferece diversas experiências que aproximam seus habitantes da literatura
As ruas, pontes, os rios e casarios do Recife têm vocação literária – já foram cenário ou personagem nas obras de escritores e poetas consagrados na literatura nacional. João Cabral de Melo Neto, Ascenso Ferreira, Raimundo Carrero, Manuel Bandeira, Clarice Lispector e Marcelino Freire são só alguns dos muitos que já escreveram sobre a cidade. Que tal conhecer mais sobre esse Recife literário através do #hellocidades, projeto da Motorola que quer reconectar você ao lugar onde vive?
Sentada ao lado dos seus livros, no Cais da Alfândega, no Bairro do Recife, a estátua do poeta Ascenso Ferreira, imortalizado pelo escultor Demétrio Albuquerque, observa o curso do Rio Capibaribe e o passar dos dias. Autor dos versos de “Noturno”, Ascenso declama:
“Sozinho de noite
Nas ruas desertas
Do velho Recife
Que atrás do arruado
moderno ficou…
Criança de novo
Eu sinto que sou”
Parando ao lado do poeta, na beira do rio, é possível ler esses versos escritos no passado e, ainda hoje, sentir a conexão entre as palavras de Ascenso Ferreira e o Recife. O escritor e poeta Marcelino Freire deixou a cidade há 26 anos, quando se mudou para a São Paulo. Mas, ainda hoje, sente a forte presença do Recife nos seus escritos.
“Dizem que eu não sou mais pernambucano. Deixei o Recife faz 26 anos. Meu sotaque tomou fumaça. Daí minha Recife é a da ruptura. Da distância melancólica. Da mágoa sem rancor. Escrevi um livro só para falar da saudade que sinto. Chama-se ‘Rasif’. É o nome do Recife em árabe. Eu nasci nesse lugar distante. Escrevi esse livro de contos para dizer que carrego o Recife ainda comigo. É um caso de amor perdido. Ambos perdemos. Recife nos meus textos, a exemplo do Recife que aparece em meu romance ‘Nossos Ossos’, é sempre uma cidade perdida”, conta o escritor.
Ao ser questionado sobre a vocação literária da capital pernambucana, Freire aponta para uma ‘evocação’ na relação entre o Recife e seus poetas e escritores. “A cidade está parada. Quem dá movimento à cidade somos nós. Ouvimos a cidade e escrevemos o que escutamos. A cidade é prédio e viaduto. As pessoas são minha geografia”, diz.
O jornalista e editor da literária Revista Vacatussa, Thiago Corrêa, acredita no potencial literário da cidade. “Por um certo tempo até achei que o Recife era pouco ‘cantado’ na nossa ficção, achava estranho quando encontrava o Recife nas histórias. Mas, depois que me aprofundei no assunto, vi que não, que ele foi bem problematizado na obra de Osman Lins, Gilvan Lemos, Hermilo Borba Filho, Mauro Mota, Josué de Castro, Carneiro Vilela, Ascenso Ferreira… Talvez hoje esse ímpeto tenha diminuído um pouco, só aparecendo com frequência nos livros de Ronaldo Correia de Brito e Raimundo Carrero”, avalia.
Lançada em 2004, a Revista Vacatussa foi criada por um grupo de ex-alunos da Oficina de Criação Literária comandada pelo escritor Raimundo Carrero, com a ideia de produzir, divulgar e discutir literatura. Às vésperas da sua 14ª edição, a publicação traz os textos de novos talentos e escritores que atuam de forma independente da chancela das grandes editoras. As novidades sobre a Revista Vacatussa podem ser acompanhadas pelo site.
Para o projeto #hellocidades, o escritor e editor da Revista Vacatussa destaca o conto ‘Catana’, que está no livro Retratos imorais de Ronaldo Correia de Brito. “O que me chama a atenção nele é a perspectiva que Ronaldo usa para falar de um período importantíssimo para o Recife, que é o Carnaval”, diz Thiago Corrêa.
Já Marcelino Freire dá uma lista de nomes essenciais para conhecer melhor o Recife dos livros: “Miró da Muribeca é o corpo do Recife. A ponte que caiu, a lama dos córregos, o lixo dos bares. João Cabral me mostrou os caranguejos e me mostrou os coveiros dos cemitérios. Luna Vitrolira e Cida Pedrosa soltam o verbo de Vênus-Veneza. Feridas abertas. Jomard Muniz de Britto é puro atentado — palavra desarmorial, do jeito que eu gosto. Fred Caju é vivo e diz do Recife vivo, longe da naftalina que toma conta dos livros. Carrero é a música disto tudo”, indica.
Ruas literárias do Recife
Além dos livros, o Recife da literatura também pode ser desvendado através do celular. O aplicativo Ruas Literárias do Recife, idealizado pelo cineasta Eric Laurence, busca aproximar o Recife de seus habitantes e visitantes a partir da ótica de diferentes escritores, de diversas épocas, mostrando que a relação com a cidade pode ter outros acessos.
Por meio do mapeamento das ruas da cidade, a plataforma, que pode ser baixada no seu Android pela Play Store, possibilita um roteiro literário e poético, no qual os recifenses e visitantes podem descobrir como as ruas e suas edificações foram descritas e representadas por escritores pernambucanos.
Entre os autores estão Raimundo Carrero, Ronaldo Correia de Brito, Joaquim Cardozo, Clarice Lispector, Luzilá Gonçalves, Manuel Bandeira, Carlos Pena Filho, Micheliny Verunschy, Paulo Mendes Campos, Antônio Maria, e mais. Nas localizações pesquisadas estão, entre outros, os endereços da Avenida Guararapes, Estrada dos Remédios, Rua da Concórdia, Cais da Alfândega e a Rua Nova, no Centro do Recife, imortalizada por Carneiro Vilela no seu ‘A emparedada da Rua Nova’.
“O grande objetivo do projeto é possibilitar à população apropriar-se de sua memória patrimonial – tanto em sua dimensão material quanto imaterial, fazendo emergir entre as ruas da cidade a sua poesia e prosa”, explica Laurence.
Lançado através do edital Funcultura, do Governo do Estado, o aplicativo traz aproximadamente 150 pontos de localização no Recife, que remetem a trechos de escritos feitos por 82 autores, de diferentes épocas e estilos, desde o século XIX até os dias atuais.
Agora é só sacar o celular, fazer um roteiro e conhecer a capital pernambucana através do olhar de grandes autores da literatura brasileira. Reconecte-se com o Recife e com a literatura pelo hellomoto.com.br. E não se esqueça da hashtag #hellocidades!