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“Coringa – Delírio a Dois”: 5 coisas para se ter em mente antes de ver o filme

Dos números musicais à crítica aos manicômios, veja o que esperar do filme com Joaquin Phoenix e Lady Gaga, que estreia nesta quinta (3).

Por Eduardo Lima
Atualizado em 7 out 2024, 10h40 - Publicado em 1 out 2024, 19h00

(O texto contém spoilers leves de Coringa: Delírio a Dois)

Ninguém sabe como está a mente do palhaço? Agora dá para ter uma ideia, com o lançamento de Coringa: Delírio a Dois, a continuação do filme de 2019 também dirigido por Todd Phillips e estrelado por Joaquin Phoenix.

A principal adição do filme é a atriz e cantora Lady Gaga no papel de Arlequina, a parceira no amor e no crime do Coringa. Na quinta-feira, dia 3 de outubro, o longa estreia nas salas de cinema brasileiras, mas a Super já assistiu e quer te contar o que você precisa ter em mente antes de comprar sua pipoca e sentar na cadeira do cinema.

Para começar…

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Você precisa assistir ao primeiro filme, claro

Fotografia de cena do filme Coringa 1.
(Warner Bros./Reprodução)

Delírio a Dois é uma continuação no sentido mais literal da palavra: o filme todo trata das consequências dos eventos do longa de 2019. Se você ainda não viu ou não se lembra de nada que rolou, talvez seja melhor conferir a obra, disponível na Max.

O novo filme começa com Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) na cadeia, aguardando julgamento pelos crimes que ele cometeu no capítulo anterior. Mesmo que a história continue linearmente, Delírio a Dois pode trazer um pouco de estranhamento, já que…

O filme é praticamente um musical

Fotografia de cena do filme Coringa 2.
(Warner Bros./Reprodução)

Fala sério: você tem Lady Gaga no seu filme e não vai deixá-la cantar? Coringa e Arlequina (que, no filme, é chamada de Lee) cantam e dançam em sequências musicais, especialmente nos sonhos do protagonista.

As músicas cantadas pelas personagens são, em sua maioria, covers de canções pré-existentes dos anos 1950 e 1960, como os clássicos norte-americanos “What the World Needs Now Is Love e “Close to You. É uma dinâmica parecida com a do filme Moulin Rouge (2001) – com a diferença é que, aqui, o vermelho é de sangue, não de um moinho francês. 

Os covers são integrados à trilha da compositora islandesa Hildur Guðnadóttir, que ganhou um Oscar pela música do primeiro filme. Lady Gaga lançou um álbum, chamado Harlequin, reunindo essas versões.

As cenas musicais fazem referência a clássicos do gênero, e há um pedacinho de That’s Entertainment!, filme de 1974 com Fred Astaire, Frank Sinatra e Judy Garland, que aparece na tela. Esses momentos são muito importantes para entender o que se passa na cabeça de Fleck, o homem por trás da maquiagem de Coringa. Mas, se cantoria não é a sua praia, tudo bem, porque o filme…

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Não é tão musical assim

Fotografia de cena do filme Coringa 2.
(Warner Bros/Reprodução)

Não é como se essa fosse a versão vilanesca de Cantando na Chuva ou A Noviça Rebelde. Os números musicais são importantes para a história, sim, mas na maior parte do tempo o filme é um suspense psiquiátrico, com cenas que lembram Um Estranho no Ninho, filme de 1975 vencedor do Oscar estrelado por Jack Nicholson que se passa em um hospício.

Na segunda metade do filme, as principais influências são filmes clássicos de tribunal, como Testemunha de Acusação, de Billy Wilder. É ali, no meio do julgamento do Coringa, que os fãs mais atentos da DC Comics vão reconhecer um personagem conhecido…

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Harvey Dent

Captura de cena do personagem Duas Caras jogando uma moeda.
(Warner Bros./Reprodução)

O promotor público que acusa Arthur Fleck é Harvey Dent, também conhecido pelos fãs do Batman como Duas-Caras. Em Delírio a Dois, ele ainda não é um vilão com o rosto deformado, mas sim um advogado dedicado a ajudar a condenar o Coringa à pena de morte.

A postura de Dent no tribunal, os diversos abusos no processo jurídico e o tratamento violento e opressivo do Asilo Arkham, onde ficam internados os presos com problemas psiquiátricos, são detalhes explorados pelo filme de maneira crítica. E a exposição dessas instituições violentas contra pessoas com transtornos mentais lembra muito o movimento brasileiro da…

Luta antimanicomial

Fotografia de um movimento social pela luta antimanicomial no Brasil.
(Governo da Paraiba/Reprodução)

No mundo todo, críticas ao antigo modelo de hospitais psiquiátricos começaram a surgir, especialmente na segunda metade do século 20. O filósofo e historiador Michel Foucault foi um grande crítico da ideia de “loucura” e de hospitais que mais parecem prisões para tratá-la.

O sociólogo Erving Goffman chamou esses asilos e manicômios de “instituições totais”, se referindo ao fato de que esses locais confinavam a vida toda de uma pessoa. Ele comparou esses hospitais e as práticas violentas ali praticadas a campos de concentração e prisões.

A partir dos anos 1950 e 1960, apelos humanistas começaram a causar a desinstitucionalização de muitos hospitais psiquiátricos. Alguns deles deram lugar a serviços comunitários de auxílio e serviço, sem isolar completamente a pessoa com transtorno psiquiátrico do convívio social.

No Brasil, um movimento social começou a partir da luta pelos direitos das pessoas em sofrimento mental. A luta antimanicomial, que surgiu por aqui em 1987 no Encontro dos Trabalhadores da Saúde Mental, levou à reforma psiquiátrica, definida pela Lei Paulo Delgado em 2001. 

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O movimento continua ativo até hoje, indo para as ruas todo ano no dia 18 de maio para lutar pelos direitos das pessoas com transtornos mentais, pelo tratamento adequado e pela extinção dos manicômios. Se houvesse luta antimanicomial em Gotham City, talvez Coringa: Delírio a Dois fosse bem diferente.

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