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Dark Writer – Capítulo 1

Leia o primeiro capítulo da história de Mary Prince, a personagem criada pelo escritor Dark Writer

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h52 - Publicado em 7 nov 2013, 22h00

Mary Prince é uma jovem londrina de 16 anos que, durante um ano de acontecimentos estranhos em todo o planeta, se vê obrigada a acompanhar a família em uma viagem de verão rumo ao norte da Inglaterra. Após algumas circunstâncias imprevistas que tornam a viagem ainda mais exaustiva para Mary, como o maçante engarrafamento provocado pela queda do meteorito que destruiu a torre do Big Ben, uma forte luz aparece à frente do carro onde ela está com a família e muda sua vida por completo. O pai tenta frear, mas o veículo desliza pela pista molhada e rodopia em meio ao clarão enquanto gritos de horror rompem o silêncio. Ao recobrar a consciência, a garota se vê em um local completamente diferente de onde estava antes e não encontra os pais em parte alguma. Em seu pescoço agora há um misterioso medalhão de prata e ela passa a ter que enfrentar monstros ao mesmo tempo em que encara seus próprios medos.

Capítulo 1 – A luz na estrada

Mary Prince acordou quando os primeiros raios de sol despontavam no horizonte, pois um deles, após ter se infiltrado pela cortina entreaberta, penetrou no grande quarto e incidiu do lustre até a escrivaninha, fazendo os olhos da jovem se abrirem para a claridade de uma nova manhã.
Do andar inferior as vozes dos pais discutindo subiam, provavelmente seu pai estava irritado com a quantidade de coisas inúteis que estavam sendo levadas nas malas de viagem. A garota se espreguiçou, esforçando para afastar o sono; foi dormir tarde na noite passada, já que que ficou ajudando sua mãe a fazer as malas para a tradicional viagem de férias de verão. Sentou-se sobre a cama, mas sentiu seu corpo pedir por mais horas de sono. Sua imagem refletiu no espelho do guarda-roupa; ela era uma garota muito bonita, como quase todas as garotas de dezesseis anos de seu bairro. Os olhos cinza-prata contrastavam com a pele branca, o cabelo comprido e louro estava todo desgrenhado depois de muitas reviravoltas sobre o travesseiro por causa de pesadelos sinistros e medonhos, mas isso ela já não se recordava.
– Bem, acho que decididamente eu não sou nada bonita de manhã – disse lançando um olhar desanimado ao espelho, como se ele pudesse escutá-la.
Colocou seus pés descalços no chão gelado e caminhou lentamente até janela, correu a cortina, e deixou a claridade do dia entrar por completo no quarto. O céu estava muito azul e o sol brilhava forte no horizonte, mas isso não foi surpresa, pois as altas temperaturas na Europa estavam batendo recordes jamais alcançados antes e os telejornais não economizaram em notícias sensacionalistas para anunciar que hoje seria o dia mais quente que Londres iria registrar em sua história.
O jardim de sua mãe estava uma beleza devido ao tempo ensolarado. Borboletas coloridas voavam lá embaixo, sobrevoando as flores bem cuidadas e a cascata artificial que desaguava na piscina, que por sua vez, pedia um mergulho, convidativa e cristalina. Ao ver isso, Mary desejou mais ainda que seus pais permitissem que ela ficasse em casa naquelas férias. Era muito melhor passar um mês se divertindo em festinhas em sua casa com pessoas de sua idade do que passeando a cavalo com os pais em algum canto isolado e sem graça da Inglaterra.
– Filha, é bom você se levantar! Combinamos estar bem longe de Londres muito antes das oito horas – gritou seu pai com sua habitual voz grave.
– Já estou indo – respondeu impacientemente.
Mary despiu a camisola e correu para o banheiro, escovou os dentes e depois se enfiou debaixo do chuveiro. Sentiu a água fria descer pelo seu corpo, aquela sensação agradável a fez se sentir mais sonolenta ainda, tudo que queria naquele momento era continuar dormindo em sua confortável cama. E imaginar que teria que passar as horas seguintes dentro de um carro não era nada agradável.
Poucos minutos depois, a garota estava descendo a escada para o primeiro andar de sua casa, seu cabelo ainda pingando água por causa da falta de tempo para enxugá-lo; seu pai gritava de segundo em segundo para que descesse logo.
– Achei que tivesse morrido afogada dentro da banheira – disse ele quando ela mal sentou à mesa para o café da manhã. – Você assistiu as recomendações do ministro para o racionamento de água.
– Mas eu nem demorei muito, pai – defendeu-se ela.
Sua mãe estava verificando se as duas janelas da enorme cozinha estavam realmente fechadas, pois os empregados responsáveis pela manutenção do jardim e limpeza da mansão só iriam chegar dali a três dias.
– A ultima coisa que quero, quando voltarmos das nossas férias, é descobrir que nossa casa foi assaltada – dizia ela checando as fechaduras.
– Mãe, dos dez anos que moramos aqui, nunca ouvi falar em nenhum caso de assalto – disse Mary enquanto passava geléia de morango no pão.
– Às vezes acho que sua mãe tem síndrome do pânico – comentou seu pai tentando conter o riso, mas sem sucesso.
– Não achei a mínima graça, Charles – retrucou sua mãe em tom sério.
– É que você é mal humorada, Alice – disse seu pai abrindo um sorriso ainda maior no rosto. Mary sabia que se tinha uma coisa que ele adorava, era irritar sua mãe.
– E como você quer que eu fique bem humorada com um calor desses?! Sinceramente, não sei como os países tropicais sobrevivem com temperaturas tão altas – Alice sentou à mesa e encheu uma xícara de chá. – Mas isso tudo tem um lado positivo; sobrou mais espaço pros sapatos de salto alto na minha mala, já que não precisaremos de tantas roupas de frio para suportar as conhecidas temperaturas baixas do norte.
– Sapato de salto alto pra quê? – perguntou Mary, mal acreditando no que escutou. – Nós vamos viajar para um hotel que fica no interior da Inglaterra. Não haverá nenhuma festa ou algo parecido para irmos bem vestidas. A não ser que leve sapato de salto alto pra andar a cavalo.
– Uma boa ideia – falou Charles em tom irônico.
– Mas pode acontecer algum imprevisto – disse sua mãe ignorando o comentário do marido. – Então, quando terminar o desjejum, pode subir para o quarto e escolher algum sapato de salto alto para pôr na sua mala também.
Mary lançou um olhar desanimado à mãe.
– Tem certeza de que eu tenho que ir com vocês nessa viagem babaca? Eu já tenho dezesseis anos, não sou mais aquela garotinha de seis anos que gostava de ir pra fazenda no interior e cavalgar com o papai e a mamãe. Por favor, me deixem ficar – disse em tom de súplica.
– Mary, a gente sempre viaja nas férias de verão juntos, e esse ano não será diferente – disse seu pai terminando de beber o chá e colocando a xícara vazia sobre a mesa de vidro. – E será assim até você ser maior de idade e poder fazer suas próprias escolhas, mas enquanto morar debaixo do nosso teto será do jeito que eu e sua mãe quisermos. E já tivemos essa mesma discussão ontem, estou cansado desse assunto de você não querer viajar.
– E no fim você vai acabar gostando – falou sua mãe.
– Por que a gente não viaja pra um lugar mais divertido ao invés de ir pra um hotel no interior? Vocês escolheram muito mal nosso destino de férias este ano – continuou Mary irritada. Ela sabia que estava discutindo em vão, que no final seus pais iriam obrigá-la a viajar mesmo a contragosto.
– O interior é calmo, vai tirar o estresse dessa cidade agitada da nossa cabeça.
– Eu não quero passar as férias num lugar calmo, mãe. Se ao menos eu pudesse levar meu smartphone, mas nem isso vocês querem deixar.
– Não, mesmo – sentenciou Alice. – Nada de smartphone, laptop ou qualquer outra coisa que possa nos manter conectados com a loucura desse mundo moderno. Vamos passar semanas de puro sossego, é pra isso que férias servem.
– A conversa está boa, mas já passou da hora de pegarmos a estrada – falou Charles. – Vamos pegar as malas e levar para o carro.
– Vai começar a tortura – disse Mary desanimada, erguendo-se da cadeira para pegar o sapato de salto alto em seu quarto.
A garota tinha muitos pares de sapatos no guarda-roupa, mas não teve dificuldade nenhuma para escolher o que iria levar pra viagem, pois pegou o mais feio e o mais velho. Tinha certeza de que não havia necessidade alguma de levá-lo porque não iria usar, mas não queria discutir com sua mãe. Jogou o sapato dentro da mala e fechou-a. Então segurou a alça e fez força para erguê-la e levá-la para o primeiro andar. Quase caiu na escada por causa do peso, mas recuperou o equilíbrio antes de descer rolando os degraus.
Quando chegou lá embaixo descobriu que o peso de sua mala não era nada se comparado com o peso da mala de sua mãe. Seu pai fazia força para carregar a mala de Alice até o carro.
– O que você pôs aqui dentro, Alice? Um elefante? – perguntou ele jogando a mala no porta-malas, seu rosto vermelho por causa do esforço. – Me diz de onde você tirou tanta roupa para lotar uma mala enorme desse jeito. A minha está praticamente vazia.
– Você não precisa de secador pro cabelo – retrucou Alice.
– Quantos secadores você está levando então, cem?! – perguntou ele rapidamente.
– Não, estou levando só dois.
– Você não vai usar metade destas coisas – disse ele, fechando o porta-malas, por fim.
– Ela vai preparada, caso precise passear no shopping – disse Mary ironicamente, entrando na parte de trás do carro. Ela já estava acostumada com os mimos da mãe, pois seu pai e ela conviviam com aquilo todos os dias e, de certo modo, achavam divertido. Os avós maternos de Mary eram muito ricos e ainda existia o agravante de, assim como a própria Mary, Alice ser filha única, então não a culpavam por ser tão fútil de vez em quando.
O carro de viagem de sua família estava no ranking dos mais caros e modernos do momento. Suas portas duplas abriam para cima e suas poltronas eram feitas do mais fino couro, seu motor mega desenvolvido recebia ordens pela voz dos donos, mas o pai de Mary preferia dirigir manualmente. O veículo deslizou para fora da garagem, onde os dois carros de trabalho, um de Alice e o outro de Charles, foram deixados para trás. O portão automático da mansão abriu e o carro negro saiu para a rua.
– Espero que os empregados cuidem bem da nossa casa – Mary escutou sua mãe dizer no banco da frente.
– Querida, eles sempre cuidam bem da nossa casa – falou Charles, enquanto ligava um dos dispositivos tecnológicos causadores do alto preço daquele automóvel no mercado.
A fina tela multi-touch se ergueu do painel e ele tocou no item onde estava a sigla GPS, mas o que apareceu na tela de vidro foi algo muito diferente das costumeiras ruas londrinas.

Pedimos desculpas pela interrupção: o sistema voltará em breve.

– Outra vez isso está fora do ar? – indagou Charles, perplexo.
As frequentes falhas no Sistema de Posicionamento Global estavam causando uma verdadeira dor de cabeça na população durante os últimos dois meses. Os motivos das interrupções nunca eram informados com precisão pelo Departamento de Defesa, o que só fazia aumentar os questionamentos e suposições.
– Escutei o alerta sobre isso ontem no telejornal, algo referente à alta temperatura estar causando dano no campo eletromagnético – comentou Alice.
– Legal, mais um motivo pra gente não viajar! – Mary agradeceu interiormente.
– Existem outros meios de se descobrir o caminho – disse Charles enfiando a mão no porta-luvas e pegando um mapa da Inglaterra, um sorriso satisfeito no rosto. – Barato e prático.
Mary viu sua última esperança de não fazer a viagem ir por água abaixo. Desanimada, encostou a testa no vidro da janela e observou os vários casarões e apartamentos do bairro passarem um atrás do outro, os cachorros de raça de seus jardins latindo para o automóvel em que estava. Pouco tempo depois, o carro já havia saído do bairro e pegava a principal estrada que os levaria para fora da cidade.
– Não acredito nisso – disse Alice.
– Era tudo que precisávamos para tornar o dia melhor – falou Charles enquanto pisava no freio, parando o carro.
O ânimo de Mary foi ao chão quando ela se ergueu para avaliar o tamanho do engarrafamento que iriam ter que enfrentar; uma fila interminável de carros se estendia perante seus olhos, tomando a pista até onde sua visão alcançava. As buzinas não paravam de soar e por toda parte guardas de trânsito tentavam pôr ordem naquela baderna.
– Pelo visto nós vamos passar horas nesse engarrafamento – disse ela desanimada.
– Se tivéssemos saído mais cedo, como sugeri ontem, talvez não estivéssemos nesse trânsito – falou seu pai, parecendo irritado.
– Agora vai me culpar por estarmos nesse engarrafamento? – perguntou Alice, em tom de quem também está irritada. – E já passou da hora de o prefeito dar um jeito no trânsito dessa cidade.
– Acho que deve ter acontecido algum acidente – comentou Mary procurando algum sinal de fumaça que pudesse anunciar um incêndio ou qualquer coisa parecida, mas os altos prédios em volta impediam uma melhor visualização.
– Tem de ser uma batida das feias pra deixar a cidade parada desse jeito – comentou Charles observando um guarda discutir com uma senhora que, aparentemente, queria contornar o carro visando passar por cima de um canteiro público.
– Eu vou perder o café da manhã com minha nora, não posso me atrasar – gritava a velha, seus óculos escuros, que mais pareciam uma imitação dos olhos de algum inseto, se agitando sobre seu nariz. – Eu vou pegar outra pista que não esteja engarrafada.
– A senhora não pode passar por cima do canteiro… ! – dizia o guarda, mas a idosa pisou fundo e seu velho carro de cor laranja contornou por cima do canteiro e foi para o outro lado da pista, deixando o guarda coberto de fumaça e terra.
– A senhora vai… Cofff!… receber uma multa por isso! – gritou ele tossindo, enquanto pegava a prancheta e anotava os números da placa do carro.
– É, nosso dia promete ser muito agitado – disse Mary boquiaberta, olhando para o pontinho laranja, o automóvel da coroa, que cada vez ficava mais distante. – Quero chegar à terceira idade com a disposição dessa senhora.

O tempo foi passando, mas ao contrário do tempo, o automóvel onde estavam pareceu não sair do lugar. O trânsito ainda estava muito engarrafado e havia muita estrada pela frente. As buzinas dos carros soavam cada vez mais estressadas e impacientes, e os motoristas gritavam e xingavam, irritados. Mary já estava começando a ficar com dor de cabeça com aquela confusão toda, mas até agora o motivo do tráfego no centro de Londres estar parado não tinha sido anunciado. Nem os próprios guardas sabiam dizer, ou estavam tão nervosos e ocupados aplicando multas, que fingiam não ouvir as constantes perguntas que estavam sendo feitas. O sol se tornava cada vez mais quente no céu azul-anil e ainda nem era meio-dia. Dentro do carro estava abafado, e Mary, que estava deitada confortavelmente no banco de trás, sentia gotículas de suor se formando em sua testa.
– Liga o ar condicionado, pai! – disse ela rapidamente, pois tinha acabado de lembrar do ar, e aparentemente seus pais estavam querendo tanto se ver fora daquele trânsito que, provavelmente se imaginavam numa sauna, deduziu a garota.
– Como conseguimos esquecer o ar num calor desses?! – falou Charles, impressionado, apertando o botão para acionar o aparelho de refrigeração; o vento gelado logo começou a circular pelo veículo, deixando o ambiente mais fresco.
Mary teve a ligeira impressão, pelo tom da voz de seu pai, que ele estava dormindo e só acordara porque a ouvira chamar.
– Você estava dormindo? – perguntou ela em tom ameaçador e, ao mesmo tempo, achando engraçado. Sentou-se para poder ver a expressão no rosto dele, se era de sono.
– Claro que não – disse ele esfregando os olhos e tentando não olhar para o retrovisor, onde os olhos muito claros da filha o avaliavam. – Imagina.
– Por que a senhorita Alice Cavenglass está tão calada? – perguntou Mary teatralmente, pois acabara de escutar suspiros do banco a frente.
– Pelo visto não era só eu que estava dormindo – disse ele olhando para o banco ao lado, onde Alice estava.
Mary pôs a cabeça entre o espaço dos dois bancos da frente e olhou para o lado; sua mãe dormia feito um bebê, seu cabelo muito louro escorria pela sua face fina e muito branca. Suspirava baixinho, e por vezes movia as pálpebras como se as muitas buzinas que soavam em seu ouvido pudessem fazê-la acordar a qualquer momento.
– Incrível como até dormindo ela é linda – disse seu pai apaixonadamente.
– Claro, é minha mãe – disse Mary voltando a se largar na poltrona do carro. Foi quando percebeu que estava faminta. Olhou seu relógio de pulso, os ponteiros estavam se aproximando do número doze, o que significava que faltavam poucos minutos para o horário do almoço. – Pai, estou com fome.
– Eu sei, filha – disse ele enfiando a mão no bolso e tirando sua carteira. Pegou algumas notas e entregou a Mary. – Já está na hora do almoço. Eu tinha planejado almoçarmos em algum restaurante de beira de estrada, mas já que estamos no centro de Londres ainda, acho que você pode ir numa lanchonete e comprar uns sanduíches. Tenho certeza de que o carro não vai sair desta posição tão cedo, portanto tem tempo de sobra para escolher os melhores sanduíches e coisas gostosas que quiser.
– Voltarei logo – disse ela pegando o dinheiro e saindo do carro.
A zoada que era escutada dentro do automóvel não era nada se comparada com a que fazia ali fora. As buzinas soavam mais altas do que nunca e os motoristas menos educados berravam com os guardas “Que diabos está acontecendo com esta cidade?!”. O sol de meio-dia brilhava com toda potência e o ar quente que subia do asfalto fez Mary sentir como se estivesse dentro de um vulcão. A garota passou por entre os carros e chegou à calçada. Homens e mulheres passavam pra lá e pra cá com suas roupas estilosas, afinal estavam em Londres, um dos maiores centros financeiros do mundo, e Mary acabou tendo dificuldade para entrar numa lanchonete ali perto por conta do alto número de pessoas.
– Aiê! – gemeu ela, pois mal tinha acabado de entrar pela porta de vidro do estabelecimento e já haviam esbarrado nela.
– Desculpa, moça. Foi sem querer – disse o garçom, que estava equilibrando em uma das mãos uma bandeja cheia de batatas fritas e na outra segurava três copos cheios de suco de laranja. Por pouco tudo não havia caído, mas ele conseguiu se equilibrar a tempo de evitar o desastre.
– Ah… não foi nada – disse Mary deixando o garçom de lado e indo em direção ao balcão para pedir os sanduíches.
A movimentação na lanchonete era grande e demorou um pouco até que um dos garçons pudesse atender a garota.
– O que deseja? – perguntou ele.
Alguns minutos depois, Mary saiu da lanchonete tomando bastante cuidado para não esbarrar em nenhum garçom, pois carregava três sanduíches, três latas de refrigerantes e três pedaços de torta de amora. Passou pela porta da lanchonete e saiu para a calçada. A confusão continuava a mesma do lado de fora, e os transeuntes que passavam, ela pôde ouvir, não conversavam sobre outra coisa que não fosse o calor ou o motivo daquele congestionamento.
– Não foi anunciado o motivo desse trânsito no telejornal e olha que eu passei a manhã inteira no sofá assistindo televisão – dizia uma mulher negra que passava de mãos dadas com um cara de cabelo louro muito claro. – Se eu soubesse que o centro estava tão agitado deste jeito, nem tinha saído de casa, ainda mais com esse calor infernal!
– Nem para sair comigo? – perguntou ele rapidamente.
– Por isso estou aqui, não é? – disse ela meigamente e os dois sumiram em meio à multidão.
Mary achou o comentário da mulher muito estranho. O que será que estava acontecendo com aquela cidade? E por que não deram noticias sobre aquele engarrafamento no telejornal? Olhou para os carros presos no trânsito e, com um choque que fez sua boca se escancarar, percebeu que o carro negro de seu pai não estava mais ali.
Ela correu para o meio dos carros, ainda tomando cuidado para não deixar o “almoço” que carregava cair. Era impossível que o carro tivesse se distanciado tanto daquele local, o trânsito ainda estava muito parado. Sentindo um alívio no peito, ela viu o carro negro e de grande porte da sua família a alguns metros à frente. Caminhou apressadamente até o automóvel, mas logo percebeu que alguém estava discutindo, e parecia ser a voz do seu pai.
– Eu já disse que dou a grana pra pagar o pequeno estrago – dizia Charles, que estava fora do carro com um monte de notas na mão e aparentemente tentava entregar o dinheiro para um homem alto e branco que parecia estar possesso. – Aqui tem o dobro do valor do conserto desse amasso que fiz no seu carro, não há motivo para brigas. Eu estava distraído, foi isso.
– Então você acha que é assim?! – retrucou o cara alto no mesmo tom de voz. – Acha que é bater no meu carro e que seu dinheiro vai consertar tudo?! Não, não vai! Não quero seu dinheiro!
De repente o rapaz deu um soco na cara de Charles, que andou alguns metros para trás e caiu de costas no capô de um carro amarelo. O dinheiro que segurava, agora estava todo espalhado pelo chão.
– Paaara! – gritou Alice de dentro do carro, parecia apavorada com aquela cena, como se nunca tivesse visto alguém levar um soco antes, principalmente se tratando de seu marido.
Mary largou os lanches no chão e correu até o pai, para ajudá-lo. Enquanto isso, outros motoristas saíram de seus carros para apartar a briga. O cara alto parecia querer dar mais socos em Charles, mas quatro homens o haviam segurado e imobilizado. Charles se pôs de pé e, dispensando os cuidados da filha, voou para cima do cara. Alguns homens tentaram segurá-lo, mas sem sucesso, pois poucos segundos depois ele acertava um belo de um soco na cara do homem. Mary levou as mãos ao rosto e fechou os olhos ao escutar o barulho que o soco produziu, só voltando a abri-los pouco tempo depois.
O homem alto e branco estava estirado no chão, parecia ter desmaiado com o soco de Charles. Os motoristas que haviam saído de seus carros se abaixavam em volta do homem para socorrê-lo, mas não parecia ter ferimentos graves em seu rosto.
– Mary, vem para dentro do carro – disse Alice que observava tudo pela janela do carro, estava pálida e com a voz trêmula.
Sem esperar uma segunda ordem, Mary correu até onde deixara os lanches e latas de refrigerantes, e com eles em mãos, entrou pela porta traseira do automóvel, batendo-a ao se sentar no banco.
– Vamos deixar seu pai resolver essa história – disse sua mãe em tom preocupado. – Só foi uma batidinha, não era motivo pra confusão.
– Papai estava meio sonolento – disse Mary observando um amassado no para-choque traseiro do carro da frente. Com certeza era o veículo do homem que brigara com seu pai. – Nossas férias irão ser bem legais – disse ela sarcasticamente, enquanto mordia um pedaço do seu sanduíche.
Charles entrou no carro algum tempo depois com o olho esquerdo roxo e dizia que tudo tinha sido resolvido sem ser preciso ir à delegacia.
– Ele aceitou mil libras como pagamento. Acho que está bem pago, não acha? – perguntou ele à Alice.
Mas Alice não respondeu, apenas lançou um olhar feio e continuou calada. Mary sabia que sua mãe estava irritada com seu pai por ele ter batido no carro, e mais ainda por ter brigado no meio da rua. Algo no olhar dela fez Mary entender que não permaneceria em silêncio por muito tempo.
– Bom, parece que o trânsito está começando a fluir – disse Charles transcorridos alguns minutos, ao notar que o automóvel estava começando a se mover com mais frequência.
– Pra você bater em outro carro, seu barbeiro? – perguntou Alice irritada.
– Amor, foi sem querer – disse ele lançando-lhe um olhar de “pobre coitado”. – Eu estava morrendo de sono e fome.
– E isso explica brigar no meio da rua como se estivesse em um ringue de boxe?
– O cara me deu um soco no olho – disse ele alarmado, apontando para o roxo em seu rosto. – Eu não podia deixar barato.
– Verdade, mãe – disse Mary lealmente. – Foi o homem que deu um soco primeiro. Papai só revidou, e você sabe disso porque viu tudo.
– Me perdoa, querida? – perguntou Charles à Alice, mas Mary não pôde deixar de notar a piscadela que ele deu em agradecimento às palavras que ela dissera.
– Claro que perdôo – disse Alice, e então deu um selinho nos lábios dele.
Mary adorava quando seus pais se comportavam como se fossem dois adolescentes apaixonados, principalmente porque sabia o quanto os dois haviam lutado para ficar juntos. A começar pelo fato de seu avô materno, Christopher Cavenglass, nunca ter aprovado o namoro dos dois, pois seu pai não pertencia ao mesmo grupo social que a mãe e, para seu avô, isso era importante. Só depois de três anos de confusão, incluindo uma ameaça de fuga de Alice, o casamento dos deles finalmente foi aceito. Por isso Mary se orgulhava de ter sido fruto do amor dos dois, que conseguiram ficar juntos mesmo enfrentando tantos empecilhos, e olhou encantada aquela cena. Mas, quando Alice notou que sua filha os observava, parou o selinho instantaneamente, parecendo envergonhada.
– O amor é lindo – comentou um Charles sorridente.

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O pai de Mary tinha razão, não demorou muito e o engarrafamento já estava bem mais fluido, mas mesmo assim era necessário parar o carro às vezes. Não havia mais aquela barulheira de buzinas e nem motoristas nervosos gritando e Mary sabia que não demoraria muito para saírem de Londres.
– Aí está o motivo do engarrafamento! – disse Charles, quando entraram em uma das ruas mais famosas de Londres e se depararam com uma imagem surpreendente.
– Minha nossa! – gritou Alice boquiaberta.
Mary ficou paralisada e esfregou os olhos, talvez aquilo se tratasse de uma miragem ou qualquer coisa parecida. O Palácio do Parlamento, Westminster, estava à esquerda. Suas torres erguidas e elegantes como sempre, mas uma delas não estava tão erguida assim. A Torre do Relógio estava pela metade. O topo do patrimônio mundial, onde outrora se encontravam os ponteiros e o sino Big Ben, agora estava fragmentado no chão, saído de dentro dos limites do palácio e bloqueando grande parte da rua pela qual o carro teria de passar.
– Foi um atentado terrorista! – Alice se apavorava cada vez mais.
– Não, não foi – disse Charles entre o divertimento e o nervosismo, apontando para a fachada do palácio.
– Um meteorito! – Mary se impressionou.
Se fosse há alguns anos, aquela imagem teria causado o maior terror a Londres e a outras milhares de cidades do mundo inteiro, mas desde o começo do ano retrasado aquela notícia já era bastante comum. Tudo começou com um grande meteorito que caíra na floresta Amazônica, no Brasil, e depois os casos se espalharam pelo mundo inteiro. O pânico havia tomado conta do planeta no começo daquele ano e muitas pessoas estavam cometendo suicídio porque achavam que o “fim do mundo” estava próximo. Por fim, com os esforços das autoridades políticas, a ordem conseguiu ser restabelecida. Cientistas não cansavam de dizer que não havia motivo para pânico, que aquilo era somente mais uma fase pela qual o planeta estava passando, assim como a fase dos terremotos que ocorreram há dez anos e que causaram graves prejuízos a muitas cidades do planeta. Disseram também que em pouco tempo a rota de colisão dos meteoritos iria de deixar de ser a Terra, rumando para outros planetas. Era claro que Mary não entendia nada sobre meteoritos e suas rotas de colisões, mas sempre achou que aquilo era o tipo de acontecimento que só ocorria em outros lugares e não na cidade onde morava. E ao ver aquela sombra negra no Velho Pátio do Palácio ela sentiu como se estivesse em algum filme. Aquilo era muito irreal pra ser verdadeiro.
A poeira estava por toda parte e homens com máscaras passavam faixas amareladas pra lá e pra cá, restringindo toda a área em torno da cratera deformada e torta que a rocha abrira. Curiosos haviam se reunido por toda a extensão das grades do jardim e observavam aquela cena com excitação, tirando fotos e filmando com suas câmeras digitais.
– Pai, tô com medo – disse Mary enquanto o carro passava ao lado do jardim com a rocha.
– Não há motivo para pânico, queridas – disse Charles em tom calmo, tentando tranquilizar a mulher e a filha. – Meteoritos são normais nos dias de hoje.
– E como você quer que eu me sinta calma se a qualquer momento uma pedra vinda do espaço pode atingir a minha cabeça?! – disse Alice apavorada, os olhos claros vidrados na crosta do meteorito.
Mary não desgrudou os olhos da rocha até o carro terminar de atravessar a Ponte da Torre e virar numa rua, deixando a imagem do corpo celeste para trás.
– É, parece que finalmente estamos deixando Londres, mas oito horas depois do planejado. Esse meteorito estragou meus planos – comentou seu pai displicentemente, como se fosse normal um meteorito provocar um engarrafamento numa cidade, além de destruir um famoso monumento turístico.

O sol estava sumindo no horizonte e a família estava em seu carro, que atravessava uma pequena cidade do interior da Inglaterra. Eles haviam feito uma rápida parada num restaurante de beira de estrada e comeram algo decente, como disse Alice, pois ela não gostou dos sanduíches que Mary comprou no centro de Londres e se recusou a comer. Charles, por sua vez, não só comeu o sanduíche dele, como também o da esposa, e ainda conseguiu devorar dois pratos de macarrão à bolonhesa no restaurante. Mary já estava cheia por conta do sanduíche e da torta de amora que comera no carro e se contentou apenas com um copo de milk-shake de morango.
O assunto dentro do automóvel não era outro além do meteorito que derrubou o Big Ben.
– Mas o primeiro ministro não esperava esconder a queda da rocha da população britânica, não é? – comentava Charles. – Quero dizer, esse tipo de notícia se espalha rápido e nem é necessário televisão pra isso. Todos no restaurante já sabiam sobre o meteorito e a ruína do relógio, vocês ouviram as conversas.
– Por isso que não deram notícias no telejornal sobre o trânsito – disse Mary se recordando do que a mulher negra falara. – Mas isso é uma tremenda idiotice, aposto como já devem ter postado vários vídeos na internet sobre o desastre.
– Espero que um meteorito não caia em cima do nosso carro, isso sim – disse Alice lançando um olhar preocupado ao céu. – Acho melhor mudarmos de assunto.

Não demorou muito e a noite caiu espalhando escuridão por todo aquele horizonte rural e trazendo nuvens mensageiras das temidas tempestades de verão. O carro negro corria por entre estradas que cortavam colinas, plantações e, por vezes, densas florestas. Frequentemente Charles tinha que parar e recorrer ao mapa para verificar se estava no caminho certo. No entanto, pela primeira vez naquele dia, algo a favor deles aconteceu; o GPS emitiu um bipe e o lugar onde se encontravam apareceu na tela.
– Já não era sem tempo – disse Alice.
– Falta muito para chegarmos ao tal hotel onde iremos passar nossas maravilhosas férias de verão? – perguntou Mary que estava começando a se sentir sonolenta por conta do zunido que o vento fazia lá fora.
– Segundo o GPS, chegaremos lá à meia-noite – respondeu seu pai que acabara de digitar o destino deles na tela sensível. – Falta uma hora de viagem ainda.
Mary observou na tela do sistema de posicionamento, que um pontinho branco, o carro, atravessava uma longa camada negra, que era a floresta ao redor, e ia em direção a um monte de pontinhos amarelos onde estava o nome da cidade que era o destino deles. Mary desejou mais do que nunca, ao ver o nome da cidade, que seus pais tivessem permitido que ela ficasse em casa.
– Vamos voltar? – pediu ela esperançosa.
Mas nem seu pai e nem sua mãe responderam, o que ela entendeu como um “não”.
De repente o carro deu uma desviada brusca e Mary foi arremessada com toda a força contra a porta esquerda. Alice soltou um grito de pavor e o carro parou.
– Pai, o que houve? – perguntou Mary massageando o braço.
– Vocês viram aquilo? – perguntou seu pai, parecendo impressionado.
– Parecia um animal morto, não? – perguntou Alice com a voz trêmula.
– Eu não vi nada – disse Mary virando e olhando pelo vidro do carro.
A alguns metros atrás, em meio à névoa, uma sombra estava esticada no chão. A garota não pôde deixar de sentir medo ao ver aquela imagem fantasmagórica no meio do asfalto.
– Deve ser um animal, sim. Vamos seguir pro hotel, pai – disse ela apreensiva.
– Não, agora eu fiquei curioso – disse seu pai, dando marcha à ré.
– Pai, o que você tá fazendo?!
– Volta, Charles!
– Calma, deve ser só algum animal morto – disse Charles teimosamente, o carro se aproximando cada vez mais daquilo. – Mas eu quero saber qual é.
Mary viu a forma no chão ficando cada vez mais perto e então a luz traseira dos faróis furaram a névoa e revelaram a figura misteriosa; era um cervo nobre, sua barriga estava amassada como se a roda de um caminhão tivesse passado por cima dela. O sangue estava espalhado pela pista e várias moscas o rodeavam.
– Que horror! – comentou Alice que se enfiara no banco de trás junto com a filha e observava o animal morto.
– Vou lá fora dar uma olhada – disse Charles saindo do carro para a escuridão da estrada.
– Charles, você não está no trabalho – disse Alice, também abrindo a porta do carro e saindo. – E além do mais esse animal já está morto, você não pode fazer nada.
– E, pai, você é médico e não, veterinário – disse Mary, que se sentiu sozinha e acabou saindo atrás da mãe.
Não conseguiu ver como era o ambiente dos dois lados da estrada, pois a escuridão ao redor era total. Um vento gelado chegou ao seu rosto, o que a fez correr novamente até o banco traseiro do carro, esticar a mão pela abertura que dava acesso ao porta-malas e pegar uma das jaquetas de frio que havia levado.
– Vem logo, Mary – Alice agarrou a mão de Mary enquanto ela vestia a jaqueta e puxou-a.
Caminharam cautelosamente pelo asfalto até o animal, tomando cuidado para não pisar no sangue que escorria. O cheiro era horrível e Alice tapou o nariz com as mãos, gesto repetido pela filha. Alguns órgãos haviam saído e agora estavam pulsando no chão em meio ao sangue. Charles se abaixou perto da cabeça da criatura para observá-la melhor. Mary correu até ele.
– Não me deixe sozinha desse lado – disse Alice correndo atrás da filha.
A língua do mamífero estava esticada para fora e saía sangue de sua boca. Sua galhada de várias pontas tocava o chão, imóvel, mas os olhos negros estavam girando, iluminados pela luz dos faróis do carro.
– Ele ainda está vivo – concluiu Mary.
E então, sem aviso, o animal soltou um urro. Mary sentiu seu coração congelar de susto. Alice escorregou no sangue do bicho e caiu no chão, na pressa de voltar correndo para o carro.
– Vamos voltar para o carro agora – disse ela apavorada quando Charles a ergueu do asfalto.
– Que nojo – disse Mary vendo sua mãe toda manchada de sangue e tentando espantar as moscas que insistiam em pousar no seu cabelo louro.
– Vamos – disse Charles abraçando a filha e a esposa, suja de sangue, e voltando pra dentro do carro aos tropeços.
Mal tinham entrado no carro e fechado as portas quando uma intensa chuva começou a cair lá fora. O barulho das grossas gotas de água no teto do veículo juntamente com a imagem do cervo ferido fez Mary, pela primeira vez, desejar estar no hotel onde iriam passar as férias. Charles ligou o carro e acelerou. O automóvel começou a andar pela pista encharcada, era difícil enxergar qualquer coisa à frente por conta da densa camada de chuva que parecia piorar cada vez mais.
– Se a gente não tivesse parado para ver aquele maldito animal eu não estaria toda suja de sangue agora! – disse Alice tirando a blusa e ficando de sutiã.
– Desculpa, mas eu fiquei curioso – comentou um apreensivo Charles no volante.
– O carro vai ficar fedendo a sangue de cervo agora – comentou Mary enojada.
– E graças a seu pai, Mary – falou Alice irritada. – Como se não bastasse brigar no centro de Londres, agora ele resolveu parar o carro no meio do asfalto pra ver um animal atropelado!
– Você também ficou curiosa, Alice, ou não teria saído do carro – falou o pai de Mary sabiamente.
– Pai, tem algo no GPS – disse Mary, que acabara de notar que a luzinha que representava o carro deles ia de encontro a outra luzinha que vinha em sentido contrário.
– Meu Deus! – gritou Alice.
Mas era tarde demais. Uma forte luz apareceu à frente, vindo em direção ao carro. Charles tentou frear, mas o veículo deslizou pela pista molhada e se chocou.

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PAM!

O carro negro rodopiou em meio à luz, e gritos de horror cortaram o ar. Mary sentiu sua cabeça rodar, girar e se contorcer enquanto sua mente era engolida por um breu que parecia não ter fim.

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