O escritor argentino Alberto Manguel gostava tanto de ler que queria “viver entre livros”. Aos completar 16 anos foi trabalhar numa livraria em Buenos Aires onde conheceu o escritor Jorge Luis Borges, que já sofria com a cegueira. Borges disse-lhe que precisava de alguém que lesse para ele. Por dois anos, Manguel se encarregou da tarefa e leu para o grande escritor. Neste livro, o autor intercala dados e relatos curiosos com sua própria experiência de rato de biblioteca. O autor prende a atenção do leitor ao informar que, nos primórdios da civilização letrada, os textos eram gravados em tabuletas de argila – como na Mesopotâmia do século 12 a.C. – e ao contar a história de um grão-vizir da Pérsia que carregava sua biblioteca sempre que viajava. O extravagante persa enfileirava os livros em 400 camelos, treinados para andar em ordem alfabética!
• Uma série de regras para estudar o Corão foi criada pelo teólogo Abu Hamid Muhammad al-Ghazali no século 12. Uma delas dizia: “Se não consegues chorar naturalmente, então força-te a chorar”. Ele acreditava que a contrição e o pesar faziam parte da compreensão das palavras sagradas.
• Já no século 16, leitores eram vistos como “intelectuais distraídos, sonhadores de olhos abertos” e, pejorativamente, como “quatro olhos”.
• Os hábitos dos leitores também são esmiuçados. Em A Vida de São Gregório, escrito no século 12, o banheiro é descrito como “um lugar de retiro onde as tabuletas podem ser lidas sem interrupção”. Henry Miller e Marcel Proust concordavam. Proust descreveu o local como “próprio a todas as ocupações que exigiam solidão inviolável: leitura, devaneio, lágrimas e prazer sensual”.
UMA HISTÓRIA DA LEITURA
Alberto Manguel
Companhia das Letras, 408 páginas, R$ 52