Livro da Semana: “O Polegar do Panda”, de Stephen Jay Gould
Em uma coletânea de ensaios sobre a vida e nossa saga para conhecê-la, Gould fala sobre baleias, ácaros, Darwin e a passagem inexorável do tempo – e faz cada um desses assuntos valer a pena.
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Stephen Jay Gould foi o cara que todo mundo queria ser quando crescesse: esse paleontólogo roliço e bigodudo, com cara de policial de desenho animado, dividiu sua carreira entre os fósseis do Museu de História Natural de Nova York e o ensino de biologia evolutiva em Harvard.
Ele também era uma polêmica ambulante: além de marxista ferrenho, se opunha ao reducionismo e ao determinismo biológico. Por causa dessas visões, Gould saia em quebras filosóficos violentos nos jornais com seus adversários acadêmicos Richard Dawkins e Edward O. Wilson.
Reducionismo é a ideia de que todo fenômeno pode ser explicado integralmente em termos de fenômenos mais simples. Por exemplo: um animal é feito de átomos, então poderíamos saber tudo que há para se saber sobre esse animal se tivéssemos poder computacional suficiente para analisar cada um de seus átomos. Já o determinismo é, grosso modo, a ideia de que nossos genes contribuem muito mais que o ambiente na tarefa de moldar nossa personalidade e comportamento.
Por décadas, Gould escreveu centenas de artigos para leigos na revista Natural History, que foram compilados e publicados em mais de dez livros. Uma das melhores coletâneas é O Polegar do Panda, publicado no Brasil pela editora WMF Martins Fontes. São 297 páginas deliciosamente aleatórias.
Gould vai atrás do autor belga que Darwin estava lendo quando teve seu momento de luz, explica a evolução do Homo sapiens com base na cabeça do Mickey Mouse, conta a história de um ácaro que morre antes de nascer, fala de como o tempo passa em câmera-lenta para as baleias e das conchas fósseis que contam a história das marés. Tudo isso citando Homero, Alexandre e Napoleão.
A lenda de Harvard escreve mais como um autor de ficção (ou como um teórico de humanas) que como um biólogo. Quem tem dificuldade com livros de divulgação científica tradicionais – mas curte os clássicos da literatura – talvez se dê bem com seu estilo.
Já quem curte uma escrita mais fria e impessoal vai se confundir um bocado nos meandros e voltas do texto, que às vezes fica pomposo de tão erudito. Uma coisa é garantida: o livro está cheio de momentos de luz. Daquelas explicações sobre o mundo que fazem você ficar olhando de queixo caído para a parede depois que acaba de ler.
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