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Atualizado em 31 out 2016, 19h01 - Publicado em 21 nov 2009, 00h00

Uma explicação para Freud

Freud – uma vida para o nosso tempo, Peter Gay, Companhia das Letras, São Paulo, 1989

Manoel Tosta Berlinck



A biografia do inventor da Psicanálise é, provavelmente, o mais importante lançamento editorial brasileiro deste ano. Escrita num estilo sóbrio e elegante, traduzido primorosamente por Denise Bottmann, professora de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas, está fadada a ser um texto obrigatório para todo aquele que se interessar pelas descobertas da Psicanálise. Mas, afinal de contas, por que a Psicanálise e seu inventor vêm se tornando, cada vezes mais, assuntos de vastos interesse?

De fato, por trás da invenção da Psicanálise, Freud realizou não apenas uma, nas duas descobertas fundamentais: 1) o ser humano portador de um âmbito psíquico chamado inconsciente; 2) seu conteúdo é eminentemente sexual. Quando falamos “sexo” estamos, em geral, nos referindo a pelo menos um dos diversos significados que esta palavra possui. Em primeiro lugar, “sexo” se refere às características anatômicas que distinguem homem e mulher. Tal significado é objeto de interesse da Medicina. Em segundo lugar, usamos a expressão “sexo” para nos referirmos à pratica sexual. Chamado ato sexual implica a eleição de um objeto, que pode ou não ser parceiro do sexo oposto.
Ora, essa questão de “eleição” sexual está associada ao problema da preferência, do gosto, e assim está referida àquilo que leva uma pessoa a eleger algo ou alguém como parceiro sexual. E esta associada ainda a uma energia corporal que se manifesta em face de determinados “objetos” não de outros. A essa energia, que está na base da excitação sexual, muitos chamam sexo, outros chamam sexualidade. É nesse âmbito que as idéias de Freud são fundamentais. Ele começou a pensar sobre o assunto a partir de ua prática como médico de doentes dos nervos.
Uma de suas clientes propôs-lhe que, em vez de ser hipnotizada, fosse permitido que falasse. Freud concordou prontamente – e aí duas coisas fantásticas ocorreram: em primeiro lugar, a cliente começou a narrar cenas infantis em que ela, criança, era seduzida por um adulto; em segundo lugar, os sintomas apresentados pela cliente desapareciam à medida que narrava essas cenas infantis, as quais não havia contado a ninguém até então. Com esse episódio e outros semelhantes que ocorriam em sua clínica, Freud foi percebendo que, escutando seus clientes, eles apresentavam sensíveis melhoras. Percebeu, também, que seus relatos eram, repetidamente, cenas infantis de sedução que os tinham excitado muito e que, mais tarde, quando chegaram à adolescência, essas pessoas passaram a considerar vergonhosas e, assim, dignas de serem esquecidas, retiradas da consciência.
Em 1900, Freud publicou um livro impressionante: A interpretação dos sonhos. Se tivesse escrito somente esse livro, ele já teria dado uma enorme contribuição para a compreensão da alma humana, pois contém diversas descobertas fundamentais. A primeira é que o sonho é um sintoma – da existência do inconsciente. Ora, como todos sonham, quer sejam doentes dos nervos ou pessoas normais, o inconsciente passa a ser um atributo dos seres humanos em geral e não apenas daqueles que apresentam distúrbios nervosos. A Psicanálise deixou de ser, nesse momento, somente uma terapêutica, ou seja, uma prática que visa à cura de doentes nervosos, para se transformar também num método de investigação da alma humana.

A segunda descoberta importante que Freud ofereceu em A interpretação dos sonhos é a de que o que chamamos sonhos, o que nos lembramos de ter sonhado, nada mais é que uma sintomática máscara do inconsciente do sonho tem, portanto, o mesmo significado do sintoma histérico: equivale a uma paralisia muscular, uma cegueira ou um grave distúrbio da fala. O sonho, como qualquer sintoma, é uma falha da nossa consciência. Acontece enquanto dormimos e não somos capazes de exercer controle sobre ele, a não ser em momentos e casos excepcionais. Os sonhos são, porém, uma narrativa e, nesse sentido, diferem dos outros sintomas que se manifestam como atos.
Mas, ao mesmo tempo, os sonhos são enigmáticos. Aliás, essa última idéia não é propriamente de Freud. A novidade é que ele revela o caráter sintomático dos sonhos, articulando-os ao inconsciente. Este, como já vimos, é o âmbito da sexualidade, de fatos e fantasias ligados ao desprazer e ao prazer. A partir dessas noções, Freud desenvolveu um método original e eficiente, muito diverso dos até então concebidos para interpretar os sonhos e esclarecer seu caráter enigmático. Até então, os métodos conhecidos apresentavam, em comum, um grande inconveniente. Todos aplicavam chaves – esquemas interpretativos estereotipados e mecânicos – para esclarecer o significado de um sonho. Não levavam em consideração o preciso significado que tal narrativa possui para quem sonha. Freud inverteu tal processo e buscou obter possíveis significados para a narrativa onírica. Por meio desse trabalho de interpretação, acabou descobrindo que todo sonho é realização de um desejo.

Contribuição decisiva à compreensão do ser humano

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Assim, por exemplo, ele conta que uma criancinha sonhou que estava comendo morangos e cerejas. Tal sonho, entretanto, estava ligado a fatos ocorridos no dia anterior, quando a criança foi obrigada a fazer uma dieta e foi para a cama com fome. O sonho serviu para preencher, de forma alucinada, o desejo de comer não satisfeito no dia anterior. Nem sempre, porém, sonhos são obviamente satisfações de desejos como esse. Os sonhos dos adultos são, em geral, realizações de desejos muito dissimulados e requerem um cuidadoso trabalho de análise, feito pelo sonhador junto com o psicanalista.
O desejo, aqui, se constitui pela falta de um objeto que, no sonho, é (re)criado pela alma humana com a finalidade de provocar uma satisfação. A sexualidade é assim, ou seja, “cria” objetos do desejo visando a satisfação de tais desejos. A biografia de Freud escrita por Peter Gay tem exatamente essa grande virtude: introduz o leitor nas descobertas e no pensamento do cientista que contribuiu de maneiras decisivas para a compreensão de nós mesmos – um dos maiores enigmas que se colocam ao ser humano.

Manoel Tosta Berlinck, sociólogo e psicanalista, é professor de Sociologia do Departamento de Ciência Sociais da Universidade Estadual de Campinas

 

 


Para ver o céu

Uranografia – descrição do céu, Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, Livraria Francisco Alves, 1989

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Este é um livro precioso, indispensável mesmo, para quem se propõe a entender o céu. Desde os tempos mais antigos, os homens procuraram facilitar esse entendimento, juntando as estrelas em grupos imaginários, chamados constelações ou asterismos. São imaginários porque tais estrelas, embora brilhem a nossos olhos num mesmo ponto do céu, podem estar, na verdade, a enormes distâncias umas das outras. A Uranografia trata exatamente disso – das constelações, ou asterismos. O livro cataloga mais de 2100 objetos celestes, entre estrelas, constelações, aglomerados, nebulosas e galáxias. Contém, ainda, 26 cartas celestes, preparadas pelo autor, um astrônomo de vasto currículo construído ao mesmo tempo ao pé do telescópio, observando os astros, e ao teclado do computador, preparando mais de duas dezenas de livros, como este de fácil entendimento, sobre Astronomia.

 

 

 

A matéria no íntimo

O mundo dos quanta, J.C. Polkinghorne, Publicações Europa-América Lisboa, 1989

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Após quase setenta anos de existência, a Mecânica Quântica – chave indispensável à fenômenos que ocorrem na intimidade da matéria, em escala subatômica – continua repleta de conceitos enigmáticos, sujeitos a diferentes interpretações. Neste livro, o autor, professor da Universidade de Cambrige, na Inglaterra, pelo menos organiza a confusão ao relacionar, de um lado, os pontos da teoria sobre os quais há consenso e, de outro, os pontos que despertam polêmicas entre os especialistas.

 

 

Verdades provisórias

O que é o método científico, Fernando Gewandsznajder, Livraria Pioneira Editora, São Paulo, 1989

A partir de exemplos, o autor discute os principais conceitos do método científico, mostrando que não se trata de um conjunto de regras definitivamente estabelecidas. “Ensinar ciência é, principalmente, ensinar o método científico”, ressalta Gewandsnajder, professor da PUC do Rio de Janeiro, para quem ciência e método representam apenas conhecimentos hipotético, passível de correção.

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Igreja X Capital

A bolsa e a vida – A usura na Idade Média, Jacques Le Goff, Brasiliense, São Paulo, 1989

Neste delicioso ensaio, Jacques Le Goff, um dos grandes medievalistas franceses, vale-se largamente de testos da época para mostrar como um obstáculo ideológico pode entravar o desenvolvimento de um novo sistema econômico. Ou seja, como a filosofia imposta pela Igreja conseguiu retardar o avanço pela Igreja conseguiu retardar o avanço do capitalismo, mediante a condenação do que na época chamava-se usura e englobava praticamente tudo quanto dissesse respeito a negócios com dinheiro. O autor analisa também os artifícios mediante os quais a Igreja, pressionada pela lenta gestação do capitalismo, vai aos poucos assimilando a figura do usuário.

 

 

 

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