Paulo Terron
Há algo de sinistro em Lost e não é só um urso polar correndo pela ilha tropical ou uma fumaça preta perseguindo pessoas. Isso é um pouco fora do comum também, mas, se você considerar o programa como um produto, algo que se pode vender, tem um fator que diferencia a série: em duas temporadas, 4 personagens do núcleo central morreram – além de uma boa dezena de secundários. Não seria essa estratégia dos roteiristas um suicídio a longo prazo?
Não necessariamente. “Um dos personagens principais pode sair em uma expedição com duas pessoas que você ainda não conhece, aí o principal morre e os outros passam a ser principais”, explicou Damon Lindelof, co-criador e principal responsável pela “parte esquisita” nos roteiros de Lost. “Há um motivo para termos, além dos 14 fixos, outros 33 sobreviventes. Eles não são só comida do monstro.”
E, claro, em um mundo pós-11 de Setembro, a morte definitivamente está mais próxima do público americano. “Acho que conseguimos encontrar verdade nos momentos nos quais as pessoas estão lidando com situações extremas, com sobrevivência, vida e morte”, disse o ator Matthew Fox, o Jack, a uma rede de TV. Vale lembrar que o personagem dele deveria morrer logo no primeiro episódio – plano vetado pela ABC, que queria garantir pelo menos um galã que já fosse conhecido pelo público (Fox foi protagonista da série Party of Five, de 1994 a 2000).
Diferentemente de outras séries, Lost não utiliza a morte como uma bomba que só serve para gerar audiência imediata. Cada óbito tem um propósito específico, seja dentro ou fora do enredo. Por exemplo: Ana-Lucia, a personagem de Michelle Rodriguez, foi eliminada porque a atriz não queria fazer parte do elenco fixo. “Esse foi o acordo, desde o começo”, explicou a bad girl (que pouco antes de sair de Lost foi presa por dirigir embriagada no Havaí). “Meu maior medo é o de ficar muito tempo num mesmo lugar. Sou uma cigana. Quando isso acontece, dá problema, como você pôde ver…”
Já a de Boone (Ian Somerhalder) serviu para aumentar o atrito entre Locke e Jack – um dos propulsores da história. “O programa é sobre esse conflito”, contou Lindelof à revista Entertainment Weekly. “Essa morte foi um divisor para os dois personagens.”
Só não espere que um dos falecidos volte à vida (ou semivida, ao estilo dos zumbis do diretor George Romero). O escritor jura que isso não vai ocorrer. “Na TV, várias vezes você vê personagens mortos voltar. Em Lost as regras são diferentes. Quando você está morto, você está morto!”
J.J. Abrams, o todo-poderoso “fundador” do universo Lost, tem uma resposta-padrão para quem tenta especular sobre mortes futuras. “Eu seria um mentiroso se dissesse que cada detalhe da série estava planejado desde o começo.” Como na vida real, a morte em Lost vem de surpresa.
Desta para melhor
Os personagens de Lost que morreram nas duas temporadas
Edward Mars
Como? Eutanásia.
Quando? Tabula Rasa.
Por quem? Jack.
Scott Jackson
Como? Espancado até a morte.
Quando? Homecoming.
Por quem? Supostamente por Ethan Rom.
Ethan Rom
Como? Assassinado a tiros.
Quando? Homecoming.
Por quem? Charlie.
Leslie Arzt
Como? Explodido por dinamite.
Quando? Exodus (parte 2).
Por quem? Por ele mesmo, sem querer.
Boone Carlyle
Como? Queda, junto com um avião acidentado.
Quando? Do No Harm.
Por quem? Sozinho, por acidente.
Shannon Rutherford
Como? Com um tiro.
Quando? Collision.
Por quem? Ana-Lucia.
Goodwin
Como? Empalado com uma lança de madeira.
Quando? The Other 48 Days.
Por quem? Ana-Lucia.
Nathan
Como? Pescoço quebrado.
Quando? The Other 48 Days.
Por quem? Goodwin.
Ana-Lucia Cortez
Como? Assassinada a tiros.
Quando? Two for the Road.
Por quem? Michael.
Elizabeth “Libby”
Como? Assassinada a tiros.
Quando? Two for the Road.
Por quem? Michael.